Economia
Por 9 a 0, Copom mantém a Selic em 15%, a 2ª maior taxa real do mundo
O comitê volta a se reunir em 9 e 10 de dezembro, o último encontro de 2025
O Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu nesta quarta-feira 5, por unanimidade, manter a taxa básica de juros em 15% ao ano. É a Selic mais alta desde julho de 2006, no primeiro mandato do presidente Lula (PT), e a segunda maior taxa real de juros no mundo, de acordo com um monitoramento das consultorias MoneYou e Lev Intelligence.
Para calcular o índice real, leva-se em conta a taxa de juros “a mercado” — ou seja, um referencial do que seriam juros tomados em uma operação real — e a inflação projetada para os 12 meses seguintes.
O Brasil tem uma taxa real de 9,74%, atrás apenas da Turquia, com 17,80. Completam a lista dos dez primeiros Rússia, com 9,1%; Argentina, com 5,16%; Índia, com 4,21%; Colômbia, com 3,66%; México, com 3,54%; África do Sul, com 3,31%; Tailândia, com 2,77%; e Indonésia, com 2,41%.
Ao justificar a decisão de manter a Selic em 15%, o Copom afirmou que o ambiente externo permanece incerto, devido à conjuntura e à política econômica dos Estados Unidos. No cenário doméstico, diz o comitê, o mercado de trabalho “ainda mostra dinamismo” e os riscos para a inflação “seguem mais elevados do que o usual”.
Os diretores evitaram indicar o que farão na próxima reunião, marcada para 9 e 10 de dezembro, e disseram que o atual cenário “exige cautela na condução da política monetária”.
“O Comitê avalia que a estratégia de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”, diz o comunicado. “O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado.”
Na última terça 4, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), voltou a defender um corte nos juros. “Se fosse [integrante do Copom], eu votava pela queda, porque não sustenta 10% de juro real”, argumentou. “Teremos a menor inflação em quatro anos, o menor desemprego da série histórica e o maior crescimento desde 2010.”
Em tese, quando o Copom decide aumentar a Selic, busca desaquecer a demanda para segurar a inflação: os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança, razão pela qual taxas elevadas também dificultam a expansão da economia.
Ao cortar a taxa, por outro lado, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.
Segundo o Boletim Focus da última segunda-feira 3, elaborado pelo BC após ouvir instituições financeiras, a estimativa de inflação para 2025 recuou de 4,56% para 4,55%. A meta é de 3%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima (4,5%) ou para baixo (1,5%).
Dos nove integrantes do Copom, há sete nomeados por Lula e dois por Jair Bolsonaro (PL). Veja a relação:
- Renato Dias de Brito Gomes (nomeado por Bolsonaro);
- Diogo Abry Guillen (nomeado por Bolsonaro);
- Nilton David (nomeado por Lula);
- Ailton Aquino (nomeado por Lula);
- Paulo Picchetti (nomeado por Lula);
- Rodrigo Teixeira (nomeado por Lula);
- Izabela Correa (nomeada por Lula);
- Gilneu Vivan (nomeado por Lula); e
- Gabriel Galípolo (nomeado por Lula).
O Copom volta a se reunir em 9 e 10 de dezembro, o último encontro de 2025.
Confira os resultados de todos os encontros do comitê desde o ano passado:
- janeiro de 2024: de 11,75% para 11,25%;
- março: de 11,25% para 10,75%;
- maio: de 10,75% para 10,50%;
- junho: manutenção em 10,50%;
- julho: manutenção em 10,50%;
- setembro: de 10,50% para 10,75%;
- novembro: de 10,75% para 11,25%;
- dezembro: de 11,25% para 12,25%;
- janeiro de 2025: de 12,25% para 13,25%;
- março de 2025: de 13,25% para 14,25%;
- maio de 2025: de 14,25% para 14,75%;
- junho de 2025: de 14,75% para 15%;
- julho de 2025: manutenção em 15%; e
- setembro de 2025: manutenção em 15%.
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