Economia

Contra concessões, petroleiros de Macaé fecham entrada da Petrobras

Estatal prevê o repasse de 30 áreas em águas rasas para o controle da iniciativa privada. Funcionários temem cortes de até 10 mil empregos

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Petroleiros de Macaé (RJ) realizaram um “trancaço” de cerca de três horas nos acessos à base de Imbetiba, em um protesto contra o anúncio da Petrobras de vender 30 de suas concessões.

Segundo o Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), estariam envolvidas na venda 74 plataformas em todo o País, sendo 14 delas na Bacia de Campos, o que pode causar o corte de 10 mil empregos.

Em nota, o diretor do sindicato, Rafael Crespo, lembra que a gestão da companhia vendeu dutos e refinarias, e agora “quer entregar a última fatia, as plataformas de produção”. Ele alerta que “a luta agora não é por um percentual de aumento, por um benefício, mas pelos nossos empregos”.

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Na noite da sexta-feira 28, a Petrobras anunciou ao mercado sua disposição em vender a totalidade de seus direitos de exploração, desenvolvimento e produção em sete conjuntos de campos em águas rasas, num total de totalizando 30 concessões, localizados nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe, Rio de Janeiro e São Paulo.

A Petrobras é operadora de todas as concessões, com 100% de participação, exceto nas concessões de Pescada e Arabaiana, onde a companhia é operadora com participação de 65%, em parceria com a Ouro Preto Óleo e Gás, que detém 35%. A efetiva inclusão das concessões de Pescada e Arabaiana na oportunidade de desinvestimento do Polo Rio Grande do Norte Mar está sujeita a aceitação da sócia.

Todas as áreas são antigas e de águas rasas. Segundo Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), as áreas ofertadas pela Petrobras estão com a curva de produção em declínio, então faz todo o sentido que a empresa se desfaça dessas concessões. “Nessa fase, deixa de ser interessante para as grandes petroleiras explorarem tais áreas, que serão melhor aproveitadas por empresas de médio porte. Ela está se livrando de um ativo que não rende mais como antes”, afirma. A preocupação com os empregos, na visão do especialista, é legítima. Novos investidores podem, inclusive, elevar o desenvolvimento nas regiões das concessões.

Entre as concessões à venda está Guaricema, no litoral de Sergipe, a primeira descoberta de petróleo no mar no Brasil, em 1968, onde foram testadas as primeiras tecnologias voltadas para campos marítimos. “Hoje faz muito mais sentido privilegiar as áreas do pré-sal”, defende Pires.

Rodrigo Leão, pesquisador do centro Celso Furtado e do GEEP/FUP, acrescenta que o impacto no emprego é maior nos fornecedores da Petrobras.

Dívida em queda

O endividamento bruto da Petrobras atingiu R$ 397,76 bilhões ao fim do segundo trimestre, sendo R$ 36,513 bilhões de curto prazo e R$ 361,247 bilhões de longo prazo. O montante é 11,6% inferior aos R$ 450 bilhões devidos em 31 de março de 2016 e 19% menor do que os R$ 493,023 bilhões apurados em 31 de dezembro do ano passado.

Apesar da queda, o endividamento ainda é muito alto e usado como argumento para a venda de ativos da empresa. Para Adriano Pires, porém, independente dos problemas financeiros seria interessante se desfazer desses ativos. “Valeria vender de qualquer forma. Há áreas que já produzem mais água do que petróleo”.

Produção em alta

A produção de petróleo no Brasil totalizou 2,675 milhões de barris diários em junho, com alta de 0,8% ante maio, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) divulgados na segunda-feira 31. Com relação a igual período do ano anterior, o crescimento foi de 4,5%.

Com relação ao pré-sal, a produção de petróleo em junho, oriunda de 77 poços, alcançou 1,353 milhão de barris diários, ultrapassando pela primeira vez a produção no pós-sal, de acordo com a ANP. Considerando a produção de óleo e gás natural, o volume extraído no pré-sal em junho foi de 1,686 milhões de barris de óleo equivalente (boe) diários, com alta de 6,4% em relação a maio.

A parcela da Petrobras na produção média de petróleo e gás natural dos campos à venda foi de 73 mil barris de óleo equivalente por dia no primeiro semestre de 2017.  

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