Economia

Petroleiros chamam de ‘espancamento’ a fritura de Prates, mas reforçam que decisão cabe a Lula

Em meio a divergências sobre dividendos, a bolsa informal de apostas para substituí-lo na presidência da Petrobras esquentou em Brasília

Brasília 16/05/2023 - O ministro de de Minas e Energia, Alexandre Silveira e o presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates, durante anúncio da nova política de preços dos combustíveis. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
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A Federação Única dos Petroleiros chamou de “espancamento público” o processo de fritura de Jean Paul Prates na presidência da Petrobras, com potencial de provocar uma mudança no comando da empresa. Em Brasília, já começaram as apostas sobre quem assumiria uma cadeira que sequer está vaga.

Apesar de reagirem à ofensiva contra Prates, porém, os petroleiros reforçam que a decisão cabe unicamente ao presidente Lula (PT). O comunicado apenas elenca pontos considerados positivos da atual gestão e não cita o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), crítico contumaz do presidente da Petrobras.

Prates também não conta com grande apreço do chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), a quem Lula chamou de “quase um primeiro-ministro” nesta quinta-feira 4. Sem tantos amigos, o atual presidente espera uma mobilização mais significativa de sindicatos em defesa de sua permanência.

Na noite de quarta, a jornalista Monica Bergamo, da Folha de S.Paulo, informou que Prates solicitou uma reunião com Lula a fim de tratar do fogo “amigo” do qual é alvo há meses, mas que se intensificou nas últimas semanas. Na prática, o presidente da Petrobras deseja que Lula entre em campo de forma decisiva para bancar sua continuidade no cargo.

Em entrevista ao jornal publicada na quarta, Silveira não escondeu as muitas divergências com Prates e se negou responder se considera bom seu trabalho à frente da petroleira. O ministro também afirmou que não abrirá mão de sua “autoridade”.

A crise escalou a partir da decisão da Petrobras de reter a distribuição de dividendos extraordinários. Com o apoio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), Prates advogou pela distribuição de pelo menos metade do montante, mas o Conselho de Administração decidiu transferir cerca de 44 bilhões de reais em dividendos extras para uma conta de reserva.

Dividendos são uma parcela do lucro a ser repartida entre os acionistas. Já dividendos extraordinários são aqueles pagos além do mínimo obrigatório.

Na quarta-feira, Haddad declarou que a decisão sobre o que fazer com esse dinheiro depende do plano de investimentos da Petrobras. Ou seja: entender se o caixa é robusto o suficiente para executar o planejado ou se há algum risco. A partir de novas informações a serem enviadas ao Planalto, Lula tomará uma decisão sobre qual posição defender no Conselho.

A tendência, porém, é que Lula avalize pelo menos o repasse de parte desses dividendos, após uma série de reuniões realizadas nas últimas semanas entre Haddad, Silveira e Costa.

A fritura contra o atual presidente da Petrobras tem razões políticas, uma vez que as credenciais de Prates na área dificilmente entram em xeque. Ele tem mais de 20 anos de trabalho em petróleo, gás natural, biocombustíveis, energia renovável e recursos naturais, por exemplo. Participou da assessoria jurídica da Petrobras Internacional, no final da década de 1980, e fundou em 1991 a primeira consultoria brasileira especializada em petróleo. Também foi secretário de Estado de Energia e Assuntos Internacionais do Rio Grande do Norte.

Semanas antes de assumir o comando da estatal no início do governo Lula, afirmou que a Petrobras é uma empresa “de longo prazo” e que, por isso, “não pode só ficar tirando pré-sal do fundo do mar e distribuindo dividendos”.

O plano de investimentos aprovado pelo Conselho de Administração em novembro do ano passado prevê um aporte de 102 bilhões de dólares nos próximo cinco anos, um valor 31% superior ao do ciclo anterior.

De acordo com a estatal, haverá verbas para a exploração na Margem Equatorial, nas Bacias do Sudeste e para outros países, além da perfuração de cerca de 50 poços em áreas onde a companhia tem direito de exploração em blocos adquiridos.

A Petrobras também projeta que a produção do pré-sal representará 79% do total. Além disso, a companhia quer atingir a produção de 3,2 milhões de barris de óleo e gás por dia.

Para a área de refino, transporte e comercialização, o plano destinará 17 bilhões de dólares. A estatal quer aumentar a capacidade de processamento nas refinarias em 225 mil barris por dia e criar unidades de produção de diesel em cinco plataformas.

Já em gás e energia, serão 3 bilhões de dólares. Considerando os investimentos em produção e escoamento de gás no segmento de exploração e produção, a companhia quer investir 7 bilhões de dólares para aumentar a oferta de gás nacional.

À Folha, Alexandre Silveira disse nesta quarta que o Brasil deveria explorar petróleo e gás “até conseguir alcançar IDH à altura do que atingiram os países industrializados, que hoje podem contribuir muito pouco com a questão ambiental porque se industrializaram muito antes de nós”. O IDH parte de dados como expectativa de vida, renda e escolaridade para medir o bem-estar da sociedade.

Por fim, Lula continua em seu giro pelo Nordeste e passa esta quinta-feira em Pernambuco. Na sexta, terá compromissos no Ceará. Portanto, a não ser que o presidente opte por tomar uma decisão por telefone, a expectativa é que a conversa com Prates e seu veredicto sobre a Petrobras só se concretizarão na semana que vem.

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