Economia

Petrobras: lucro e dúvidas sobre o futuro

Os resultados financeiros do terceiro trimestre mostram que a companhia pode recuperar margens sem sacrificar os investimentos

A diretoria da Petrobras apresenta o balanço
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No terceiro trimestre, o  lucro líquido da Petrobras somou 6,6 bilhões de reais. Conforme previsto pelo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), esse lucro seria próximo de 11 bilhões, caso não fosse computado os acordos entre a estatal e o mercado financeiro norte-americano (DOJ e a SEC) no valor de 3,5 bilhões de reais.

Os resultados responderam, no segmento do exploração e produção, ao aumento do preço do barril internacional do petróleo e à desvalorização cambial. No segmento de abastecimento e distribuição, o lucro foi impulsionado pelo subsídio do diesel e consequente aumento de market share da Petrobras.

Nesta área, o lucro líquido da Petrobras cresceu 6% em relação ao trimestre anterior devido ao aumento da cotação do barril do petróleo e da desvalorização cambial, fazendo com que o preço de venda do barril em reais fosse ampliado em 11% (de 268,3 para 298,2 reais).

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Apesar do potencial da fronteira do pré-sal, a produção de petróleo e gás diminuiu 5% em relação ao segundo trimestre de 2018, principalmente pela cessão dos direitos de parte de Roncador.

Talvez por isso, isto é, a fim de acelerar a produção do pré-sal, a Petrobras tenha revertido o ciclo de redução de investimentos. Neste trimestre, os investimentos nesse segmento cresceram 39%, retomando um patamar próximo ao observado no terceiro trimestre de 2015.

No abastecimento, a Petrobras se beneficiou da política de subvenção do diesel implementada pelo governo federal. Por um lado, com o preço subsidiado, ocupou o espaço das importadoras de derivados e, por outro, recebeu um montante compensatório da subvenção de 1,6 bilhão de reais no trimestre.

A despeito da redução do fator de utilização das refinarias em razão do acidente ocorrido na Replan, a Petrobras ampliou seu volume de vendas no mercado interno em 8%.

O lucro líquido só não foi superior ao trimestre anterior em razão do aumento das despesas com vendas e custos associados (cresceram cerca de 59% em relação ao segundo trimestre de 2018) ao sinistro da refinaria Replan.

Na distribuição, houve melhora das margens do EBITDA (lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização), bem como uma ampliação da venda de derivados, principalmente do diesel e do óleo combustível que aumentou, respectivamente, 10% e 93%.

Como o consumo de derivados se reduziu 1% entre os últimos dois trimestres, segundo a ANP, esse crescimento da venda no segmento de distribuição significou uma melhora do market share.

Outro aspecto foi a retomada dos investimentos da Petrobras, que cresceu 37% no período, principalmente puxado pelo segmento de E&P, e a entrada no segmento de energia eólica offshore com a instalação de aerogeradores em campos rasos do nordeste.

Cabe esperar, no entanto, os próximos resultados da companhia para avaliar se a retomada dos investimentos nesses segmento é um fenômeno mais estrutural ou conjuntural.

Por fim, a trajetória do declínio do endividamento se manteve basicamente em função do forte aumento do fluxo de caixa livre da Petrobras, uma vez que o ingresso de recursos de desinvestimento foi irrisório.

A própria estatal divulgou nos resultados que, caso não fosse concluído o acordo com a DOJ e a SEC, a relação dívida líquida/EBITDA estaria em 2,6, muito próximo da meta estipulada pela empresa de 2,5.

Ou seja, esses dados reforçam a tese de que a Petrobras poderia reduzir seu endividamento sem provocar uma queda tão brusca dos investimentos e vender um amplo conjunto de ativos.

A retomada dos investimentos no E&P e da participação da Petrobras no mercado de derivados são notícias importante para que a empresa mantenha um papel central no desenvolvimento nacional e na coordenação da política energética.

Restam, porém, dúvidas se essa maior participação no mercado de derivados é artificial, em função da política de subvenção do diesel, e se a trajetória declinante da produção (apesar do pré-sal) reverterá de forma estrutural o ciclo de queda dos investimentos.

Os resultados desse trimestre, especialmente a robusta geração de caixa, mostram que a Petrobras continua capaz de ampliar seus investimentos, aumentar a produção e coordenar o mercado de derivados brasileiros.

* Mestre em desenvolvimento econômico (IE/UNICAMP). Atualmente, é um dos diretores do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (INEEP) e pesquisador visitante do NEC-UFBA.

 

 

 

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