Economia

Pessimismo exagerado sobre o Brasil

Problemas que poderiam ser superados sem maiores restrições acabaram se agigantando provocando uma retração natural do setor privado com o aumento dos riscos

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Os analistas mais experimentados sobre o Brasil vêm constatando que existe atualmente um pessimismo exagerado sobre o País, talvez mais internamente do que no exterior. Em evento recente de CartaCapital o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman apresentou seus argumentos mostrando que o Brasil veio conseguindo nos últimos anos avanços que não justificavam essas qualificações restritivas, no que foi apoiado pelo professor Delfim Netto. Considerações no mesmo sentido foram feitas por outros participantes e tem se repetido por analistas ponderados em diversas ocasiões por variados meios. O Brasil não apresenta problemas insolúveis, mas em períodos eleitorais é natural que críticas ao governo sejam intensificadas, ainda que venham ocorrendo punições de importantes responsáveis por irregularidades.

Seria interessante examinar as possíveis causas que estariam contribuindo para esse exagerado tom crítico com relação ao Brasil. Todos reconhecem que muitos investidores que usufruíram de apreciáveis lucros financeiros com aplicações feitas no País, conseguindo resultados em dólares que chegavam a mais de dois dígitos quando no mundo estavam em queda. E sem riscos apreciáveis, mas passaram a não contar recentemente com as mesmas condições passadas. Ninguém fica satisfeito em deixar de contar com fontes de seus lucros certos. E reconhecida importância do segmento financeiro internacional até exagerada, principalmente junto à mídia convencional. Nada mais natural que tentassem restabelecer as fontes de seus elevados lucros com suas pressões não subestimáveis.

Isso decorria do passado de elevados juros pagos tradicionalmente no Brasil e com a garantia da manutenção de um câmbio valorizado. As autoridades brasileiras conseguiram que tais juros fossem reduzidos, ainda que mais recentemente tenham voltado a crescer temporariamente, principalmente porque o Banco Central não conta com o suporte do setor fiscal, precisando exagerar na restrição monetária como uma das compensações que não é totalmente recomendável.

O câmbio que apresentava uma clara valorização contínua passou a sofrer flutuações, com até uma ligeira tendência à desvalorização que vem ocorrendo, para manter competitivo o seu setor exportador e restringir um gasto exagerado em moedas estrangeiras, como no turismo. Acrescenta-se uma invasão de importações de produtos não estratégicos que prejudicam a indústria brasileira, importante para manter empregos de qualidade. Com isso os riscos naturais aumentaram com as incertezas sobre as evoluções futuras dessas variáveis fundamentais e as flutuações que ocorrem na economia.

Mas, também foram acrescentadas algumas medidas discutíveis como a intervenção no mercado de fontes de energia, tanto a dos derivados de petróleo como as elétricas. Isso provocou uma diminuição significativa das rentabilidades das empresas destes setores, influindo nas fortes quedas de suas cotações nas Bolsas, contaminando o conjunto de outros ativos semelhantes. Quem estava com investimentos feitos sobre ações sofreram significativos prejuízos.

Muitos analistas chegam a considerar que tais intervenções eram desnecessárias e desastrosas, prejudicando os programas de investimentos na produção do petróleo como no seu refino. Provocaram acrescimentos de importações como quedas das exportações.

A falta de um verdadeiro diálogo entre as autoridades com os empresários não permitiu a adequada participação do setor privado nos investimentos indispensáveis de infraestrutura. A inexperiência de algumas autoridades que exageraram nas avaliações de suas próprias capacidades, criando um clima de desconfiança quando o recomendável era aumentar a confiabilidade que permitiria a sua maior participação.

Problemas que poderiam ser superados sem maiores restrições acabaram se agigantando provocando uma retração natural do setor privado com o aumento dos riscos. Agora, depois do leite derramado, procura-se intensificar novamente os contatos, mas o restabelecimento da confiança é sempre um processo demorado.

Com a disseminação das manifestações populares em todo o mundo, os atrasos nos programas brasileiros de melhoria da infraestrutura de transportes, como os sempre aspirados avanços na educação, na saúde e na assistência social acabaram contrastando com os elevados gastos na Copa do Mundo. Os despreparos das indispensáveis forças de seguranças geram novas frentes dos desgastes das autoridades.

Ainda que sempre existam os que desejam classificar estas situações com um verdadeiro caos, não parece que existam graves problemas institucionais, mas cabem medidas para aperfeiçoamentos. As campanhas eleitorais são oportunidades para as apresentações de programas para a sua superação, não bastando as críticas sobre falhas passadas que não possuem o dom de promoverem as mudanças que estão sendo aspiradas.

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