Economia

Perdemos a âncora?

Para analistas, o Banco Central não demonstra preocupação quanto à possível escalada dos preços após adoção de medidas para o crescimento

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Pouco mais de uma semana após o anúncio de mudanças no rendimento da caderneta de poupança, o mercado financeiro reduziu a previsão da taxa básica de juros para 8% em 2012 – 0,5% abaixo do que se esperava na última semana. Por outro lado, os analistas elevaram o prognóstico de inflação para 5,22% neste ano, ante os 5,12% previstos anteriormente. Os dados são do Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira 14 pelo Banco Central (BC).

O centro da meta da inflação definido pelo governo federal é de 4,5%, com um teto de 2%, mas o mercado espera que em 2013 o índice fique em 5,53%, ante os 5,56% da última semana. Neste cenário, analistas ouvidos por CartaCapital acreditam que a inflação deixou de ser a principal preocupação de um governo que, em um cenário internacional adverso, busca garantir crescimento econômico.

Segundo Fabio Kanczuk, PhD em economia e pós-doutor pela Universidade de Harvard (EUA), a alteração na poupança é uma dica de que o governo está buscando juros mais baixos, inclusive com espaço para uma Selic inferior a 8% ainda neste ano, mas a perspectiva de aumento da inflação é perigosa. “Mas a discussão é que perdemos a âncora para saber o [patamar de inflação] que o BC considera razoável. Hoje está em 5,5%, mas o órgão vai se adaptando a números maiores sem considerar isso algo preocupante.”

Antonio Carlos Alves dos Santos, doutor em economia e professor da PUC-SP, também acredita que o BC deixou de sinalizar com clareza os rumos da economia. Para ele, a inflação no primeiro trimestre levou a aumentos de preços localizados em itens como remédios, mas a partir do segundo semestre há “uma grande probabilidade” de avanços maiores. “Não seria nada fora do controle, embora fora do centro da meta de 4,5%, algo em torno de 5,2%.”

O analista destaca o câmbio como uma variável importante para impulsionar a inflação. “Caso a política do governo federal em desvalorizar o real perante o dólar se mantenha em cerca de 2 reais, há um custo alto e a inflação poderá aumentar.”

Segundo o Focus, os analistas esperam que a Selic sofra um corte de 0,5% na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para 29 e 30 de maio. A taxa está atualmente em 9% ao ano, mas o mercado financeiro estima a Selic em 9,75% em 2013, contra os 10% da última semana.

Essa perspectiva de queda da taxa básica tem forte influência da mudança na poupança, que passa a render 70% da Selic, mais a Taxa Referencial, quando os juros básicos da economia forem iguais ou inferiores a 8,5 % ao ano. Isso evitaria uma fuga de capitais com rendimento baseado na Selic para a poupança quando os juros da economia estiverem em um patamar baixo. “Isso não significa que o BC vá reduzir muito o juro. Vai seguir até onde achar condizente com o crescimento sem descontrole da inflação”, afirma Santos.

O professor da PUC-SP acredita que os demais ajustes do governo, como o corte de juros em diversas linhas de crédito por meio de Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal,  devem começar a ter efeitos mais claros no segundo semestre. Por outro lado, a indústria ainda terá problemas, entre eles o custo elevado de produção. “Dados recentes mostram que houve ganho real de salário, inclusive na indústria, o que abre um espaço para aumentar o consumo. Mas as famílias ainda estão endividadas e os bancos ficam mais preocupados em liberar crédito.”

Esse cenário pode não atrair imediatamente o consumidor para as linhas de crédito, mas favorece a redução nas despesas, pois os clientes podem procurar taxas mais atrativas em outros bancos. Um movimento que pode aumentar a capacidade de consumo e o investimento.  “A medida serve para trocar parte da dívida cara por uma mais barata. Mas em parte ainda não vai fazer efeito, porque a burocracia não deve permitir que a Caixa ou o BB consigam fazer tudo que desejam. Além disso, o problema é saber se esse esforço vai durar mais um pouco ou se haverá alta inadimplência”, diz  Kanczuk.

Pouco mais de uma semana após o anúncio de mudanças no rendimento da caderneta de poupança, o mercado financeiro reduziu a previsão da taxa básica de juros para 8% em 2012 – 0,5% abaixo do que se esperava na última semana. Por outro lado, os analistas elevaram o prognóstico de inflação para 5,22% neste ano, ante os 5,12% previstos anteriormente. Os dados são do Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira 14 pelo Banco Central (BC).

O centro da meta da inflação definido pelo governo federal é de 4,5%, com um teto de 2%, mas o mercado espera que em 2013 o índice fique em 5,53%, ante os 5,56% da última semana. Neste cenário, analistas ouvidos por CartaCapital acreditam que a inflação deixou de ser a principal preocupação de um governo que, em um cenário internacional adverso, busca garantir crescimento econômico.

Segundo Fabio Kanczuk, PhD em economia e pós-doutor pela Universidade de Harvard (EUA), a alteração na poupança é uma dica de que o governo está buscando juros mais baixos, inclusive com espaço para uma Selic inferior a 8% ainda neste ano, mas a perspectiva de aumento da inflação é perigosa. “Mas a discussão é que perdemos a âncora para saber o [patamar de inflação] que o BC considera razoável. Hoje está em 5,5%, mas o órgão vai se adaptando a números maiores sem considerar isso algo preocupante.”

Antonio Carlos Alves dos Santos, doutor em economia e professor da PUC-SP, também acredita que o BC deixou de sinalizar com clareza os rumos da economia. Para ele, a inflação no primeiro trimestre levou a aumentos de preços localizados em itens como remédios, mas a partir do segundo semestre há “uma grande probabilidade” de avanços maiores. “Não seria nada fora do controle, embora fora do centro da meta de 4,5%, algo em torno de 5,2%.”

O analista destaca o câmbio como uma variável importante para impulsionar a inflação. “Caso a política do governo federal em desvalorizar o real perante o dólar se mantenha em cerca de 2 reais, há um custo alto e a inflação poderá aumentar.”

Segundo o Focus, os analistas esperam que a Selic sofra um corte de 0,5% na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para 29 e 30 de maio. A taxa está atualmente em 9% ao ano, mas o mercado financeiro estima a Selic em 9,75% em 2013, contra os 10% da última semana.

Essa perspectiva de queda da taxa básica tem forte influência da mudança na poupança, que passa a render 70% da Selic, mais a Taxa Referencial, quando os juros básicos da economia forem iguais ou inferiores a 8,5 % ao ano. Isso evitaria uma fuga de capitais com rendimento baseado na Selic para a poupança quando os juros da economia estiverem em um patamar baixo. “Isso não significa que o BC vá reduzir muito o juro. Vai seguir até onde achar condizente com o crescimento sem descontrole da inflação”, afirma Santos.

O professor da PUC-SP acredita que os demais ajustes do governo, como o corte de juros em diversas linhas de crédito por meio de Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal,  devem começar a ter efeitos mais claros no segundo semestre. Por outro lado, a indústria ainda terá problemas, entre eles o custo elevado de produção. “Dados recentes mostram que houve ganho real de salário, inclusive na indústria, o que abre um espaço para aumentar o consumo. Mas as famílias ainda estão endividadas e os bancos ficam mais preocupados em liberar crédito.”

Esse cenário pode não atrair imediatamente o consumidor para as linhas de crédito, mas favorece a redução nas despesas, pois os clientes podem procurar taxas mais atrativas em outros bancos. Um movimento que pode aumentar a capacidade de consumo e o investimento.  “A medida serve para trocar parte da dívida cara por uma mais barata. Mas em parte ainda não vai fazer efeito, porque a burocracia não deve permitir que a Caixa ou o BB consigam fazer tudo que desejam. Além disso, o problema é saber se esse esforço vai durar mais um pouco ou se haverá alta inadimplência”, diz  Kanczuk.

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