Economia

O tripé e a obsessão

A presidenta Dilma Rousseff tocou em um ponto importante do tripé macroeconômico: os juros altos. Por Paulo Daniel

A presidenta Dilma Rousseff. Foto: Dida Sampaio/AE
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A obsessão pode ser compreendida como um apego exagerado a um sentimento ou a uma ideia desarrazoada ou até mesmo uma motivação irresistível para realizar um ato irracional. Esse sentimento, ou esse transtorno, começa a aflorar em alguns analistas de mercado, principalmente quando se trata da redução dos juros ou do famoso tripé da política econômica brasileira.

Basicamente, os três pilares da economia brasileira, estruturados em conjunto com o FMI (Fundo Monetário Internacional), a partir de janeiro de 1999 é o seguinte: taxa de câmbio flutuante com livre mobilidade de capitais, para ajustar as contas externas; taxa de juro real elevada, para garantir o cumprimento das metas de inflação; superavit primário crescente, para conter o endividamento do setor público.

Para se ter uma ideia, entre 1999 e 2001, os números revelaram-se não muito interessantes; taxa de crescimento médio de 2,1% do PIB; taxa média de inflação anual de 8,8%; deficit público médio de 4,4%. A dívida líquida/PIB, que era de 39% no fim de 1998, elevou-se a 51% no fim de 2002. No período acumulamos um deficit em conta corrente de US$ 80 bilhões.

Ao que tudo indica, esse arcabouço, de certa maneira, garantiu a estabilidade monetária e a preservação da riqueza financeira em moeda nacional, mesmo que no curto prazo, e tem desencadeado ciclos de expansão e retração da economia, mas não pareceu ser capaz de promover o desenvolvimento econômico e social.

Os governos do ex-presidente Lula e da presidenta Dilma seguiram e vem seguindo esse arcabouço, mas de forma flexível, ampliaram os gastos do Estado, elevaram a renda e a riqueza real, a economia cresceu e desenvolveu. Com a crise, principalmente em seu início, ainda no governo Lula, a meta do dito cujo superavit primário foi praticamente esquecida, uma das fortes razões para isso, é devido estar em busca, naquele momento, de, ao menos, manter a sua riqueza com a ajuda mais do que clara do Estado nacional.

Após quase um ano com reduções consecutivas da taxa de juro referencial brasileira, SELIC, incentivos para ampliação do investimento, principalmente à indústria nacional, e do consumo, as sinalizações pessimistas da economia brasileira, do ponto vista do crescimento da renda, começam a modificar-se, haja vista, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), criado e calculado pela autoridade monetária para antecipar a tendência do Produto Interno Bruto (PIB), indica que o nível de atividade econômica do país avançou. Sem ajuste sazonal, o IBC-Br teve alta de 1,87% em agosto ante julho.

No entanto, alguns analistas do mercado estão preocupados com o crescimento econômico do ano vindouro, já especulam e solicitam a freada das reduções da taxa de juro, sendo que o argumento central é a possibilidade do retorno da inflação. Primeiro, é importante salientar que um processo inflacionário brasileiro devido ao aumento do consumo não é real, pois existe uma capacidade instalada da indústria ainda ociosa, portanto, podemos consumir, produzir, gerar empregos e crescer sem criar um processo inflacionário. A única inflação que devemos nos preocupar é com a de alimentos, puxado pelo mercado futuro internacional de commodities, mas essa não se combate com elevação dos juros, mas sim, com política fiscal.

Essa obsessão pela manutenção do tripé pode revelar um despreparo de alguns analistas de mercado em trabalhar com uma realidade factível de juros menos escorchantes e mais reais ou, então, a busca insana de ganhos vultosos sem continuar passando pelas agruras do processo produtivo, a realidade monetária e financeira brasileira está aos poucos modificando, sobreviverá quem souber adaptar-se a este cenário em construção. A presidenta Dilma tocou em um ponto importante do tripé, juros altos, neste sentido, a maioria política que aí está construída desde 2003, e confirmada nessas eleições municipais, precisa agora, a ajudar desenvolver novas formas de estabilidade monetária e financeira com crescimento sustentado e inclusão social sem os malefícios da política econômica brasileira construída no final da década de 90.

A obsessão pode ser compreendida como um apego exagerado a um sentimento ou a uma ideia desarrazoada ou até mesmo uma motivação irresistível para realizar um ato irracional. Esse sentimento, ou esse transtorno, começa a aflorar em alguns analistas de mercado, principalmente quando se trata da redução dos juros ou do famoso tripé da política econômica brasileira.

Basicamente, os três pilares da economia brasileira, estruturados em conjunto com o FMI (Fundo Monetário Internacional), a partir de janeiro de 1999 é o seguinte: taxa de câmbio flutuante com livre mobilidade de capitais, para ajustar as contas externas; taxa de juro real elevada, para garantir o cumprimento das metas de inflação; superavit primário crescente, para conter o endividamento do setor público.

Para se ter uma ideia, entre 1999 e 2001, os números revelaram-se não muito interessantes; taxa de crescimento médio de 2,1% do PIB; taxa média de inflação anual de 8,8%; deficit público médio de 4,4%. A dívida líquida/PIB, que era de 39% no fim de 1998, elevou-se a 51% no fim de 2002. No período acumulamos um deficit em conta corrente de US$ 80 bilhões.

Ao que tudo indica, esse arcabouço, de certa maneira, garantiu a estabilidade monetária e a preservação da riqueza financeira em moeda nacional, mesmo que no curto prazo, e tem desencadeado ciclos de expansão e retração da economia, mas não pareceu ser capaz de promover o desenvolvimento econômico e social.

Os governos do ex-presidente Lula e da presidenta Dilma seguiram e vem seguindo esse arcabouço, mas de forma flexível, ampliaram os gastos do Estado, elevaram a renda e a riqueza real, a economia cresceu e desenvolveu. Com a crise, principalmente em seu início, ainda no governo Lula, a meta do dito cujo superavit primário foi praticamente esquecida, uma das fortes razões para isso, é devido estar em busca, naquele momento, de, ao menos, manter a sua riqueza com a ajuda mais do que clara do Estado nacional.

Após quase um ano com reduções consecutivas da taxa de juro referencial brasileira, SELIC, incentivos para ampliação do investimento, principalmente à indústria nacional, e do consumo, as sinalizações pessimistas da economia brasileira, do ponto vista do crescimento da renda, começam a modificar-se, haja vista, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), criado e calculado pela autoridade monetária para antecipar a tendência do Produto Interno Bruto (PIB), indica que o nível de atividade econômica do país avançou. Sem ajuste sazonal, o IBC-Br teve alta de 1,87% em agosto ante julho.

No entanto, alguns analistas do mercado estão preocupados com o crescimento econômico do ano vindouro, já especulam e solicitam a freada das reduções da taxa de juro, sendo que o argumento central é a possibilidade do retorno da inflação. Primeiro, é importante salientar que um processo inflacionário brasileiro devido ao aumento do consumo não é real, pois existe uma capacidade instalada da indústria ainda ociosa, portanto, podemos consumir, produzir, gerar empregos e crescer sem criar um processo inflacionário. A única inflação que devemos nos preocupar é com a de alimentos, puxado pelo mercado futuro internacional de commodities, mas essa não se combate com elevação dos juros, mas sim, com política fiscal.

Essa obsessão pela manutenção do tripé pode revelar um despreparo de alguns analistas de mercado em trabalhar com uma realidade factível de juros menos escorchantes e mais reais ou, então, a busca insana de ganhos vultosos sem continuar passando pelas agruras do processo produtivo, a realidade monetária e financeira brasileira está aos poucos modificando, sobreviverá quem souber adaptar-se a este cenário em construção. A presidenta Dilma tocou em um ponto importante do tripé, juros altos, neste sentido, a maioria política que aí está construída desde 2003, e confirmada nessas eleições municipais, precisa agora, a ajudar desenvolver novas formas de estabilidade monetária e financeira com crescimento sustentado e inclusão social sem os malefícios da política econômica brasileira construída no final da década de 90.

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