Economia

O pouco efeito da Selic sobre o crédito

Uma redução de 0,5% ponto na Selic, em um investimento de 20 anos de prazo, significará um aumento de 3,8% no valor do investimento

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Há um enorme desconhecimento de senso mínimo de proporção na cobertura econômica.

Jornais de ontem informavam que a redução da taxa Selic – de 8% para 7,5% ao ano – não havia se refletido nas taxas do cheque especial (caiu de 8,03% para 8,01%) e empréstimo pessoal (de 5,39% para 5,37% ao mês).

Vamos a algumas contas básicas.

A redução da Selic foi de 0,5% ao ano.


0,5% ao ano significa 0,04% ao mês.

Seja redução de 0,04% ao mês ou 0,02% ao mês, a diferença é insignificante.

Esse é o ponto no qual venho batendo há tempos. É tão relevante a diferença entre a Selic e as taxas de mercado, que elevações ou reduções da taxa em nada impactam a demanda ou a formação de estoques.

***

Dias desses, o “professor de Deus”, Alexandre Schwartsman, escreveu longo artigo pretendendo tirar do Banco Central o mérito pela queda da inflação. Disse – com proficiência – que a Selic em nada interferiu na queda, que os efeitos vieram do exterior.

Pela primeira vez seguiu a lógica. E, seguindo a lógica, se deveria concluir que não foi a elevação da Selic quem produziu a redução da inflação a partir de 2011, mas o próprio mercado internacional, reduzindo o impacto das elevações das commodities.

***

Do lado da demanda, as taxas de juros influem de duas maneiras:

Encarecendo o crédito ao consumidor.


Aumentando o custo de manutenção de capital de giro pelas empresas.

Para ser eficaz, ambos os custos deveriam subir em nível tal que desestimulassem as operações. No caso do capital de giro, a redução poderia ocorrer devido ao aumento do custo do giro e também pela redução do nível de consumo. Se a Selic em nada interfere em ambos, do lado da demanda é inócua.

Muito mais eficazes foram as medidas prudenciais, regras inibidoras de financiamento e aumento do compulsório (a parcela dos depósitos bancários recolhidas ao Banco Central).

***

O impacto maior da redução da Selic se dá no campo do investimento.

Nos planos de investimento, os prazos são elásticos – em média 20 anos, especialmente em obras de infraestrutura.

Na hora de calcular a taxa de retorno, os investidores tomam como parâmetro a Selic. Se a taxa cai, significa que o investidor aceitará uma taxa de retorno menor. Aceitando, haverá um aumento no valor inicial do investimento.

Uma redução de 0,5% ponto na Selic, em um investimento de 20 anos de prazo, significará um aumento de 3,8% no valor do investimento – mantidas as demais variáveis. Se se analisar a queda total da Selic – de 12% para 7,5% – significou um aumento de 36% nos investimentos previstos em um plano de negócios.

A conta é simples:

Suponha uma taxa de retorno de 12% ao ano, um prazo de 20 anos e uma rentabilidade de (por hipótese) R$ 1.000/ano. Nessa hipótese, o investidor aceitaria pagar R$ 7.469,00 por uma rentabilidade de 12% ao ano.


Se a taxa de retorno cai para 7,5%, e o lucro continua em R$ 1.000,00, o valor do investimento subiria para R$ 10.195,00. Unicamente pelo efeito taxa de juros.

Do lado oposto, quando o BC aumentava a Selic, para conter a demanda, o efeito que conseguia era inverso: desestimulava a oferta, aumentando o descompasso entre oferta e demanda.

Há um enorme desconhecimento de senso mínimo de proporção na cobertura econômica.

Jornais de ontem informavam que a redução da taxa Selic – de 8% para 7,5% ao ano – não havia se refletido nas taxas do cheque especial (caiu de 8,03% para 8,01%) e empréstimo pessoal (de 5,39% para 5,37% ao mês).

Vamos a algumas contas básicas.

A redução da Selic foi de 0,5% ao ano.


0,5% ao ano significa 0,04% ao mês.

Seja redução de 0,04% ao mês ou 0,02% ao mês, a diferença é insignificante.

Esse é o ponto no qual venho batendo há tempos. É tão relevante a diferença entre a Selic e as taxas de mercado, que elevações ou reduções da taxa em nada impactam a demanda ou a formação de estoques.

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Dias desses, o “professor de Deus”, Alexandre Schwartsman, escreveu longo artigo pretendendo tirar do Banco Central o mérito pela queda da inflação. Disse – com proficiência – que a Selic em nada interferiu na queda, que os efeitos vieram do exterior.

Pela primeira vez seguiu a lógica. E, seguindo a lógica, se deveria concluir que não foi a elevação da Selic quem produziu a redução da inflação a partir de 2011, mas o próprio mercado internacional, reduzindo o impacto das elevações das commodities.

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Do lado da demanda, as taxas de juros influem de duas maneiras:

Encarecendo o crédito ao consumidor.


Aumentando o custo de manutenção de capital de giro pelas empresas.

Para ser eficaz, ambos os custos deveriam subir em nível tal que desestimulassem as operações. No caso do capital de giro, a redução poderia ocorrer devido ao aumento do custo do giro e também pela redução do nível de consumo. Se a Selic em nada interfere em ambos, do lado da demanda é inócua.

Muito mais eficazes foram as medidas prudenciais, regras inibidoras de financiamento e aumento do compulsório (a parcela dos depósitos bancários recolhidas ao Banco Central).

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Na hora de calcular a taxa de retorno, os investidores tomam como parâmetro a Selic. Se a taxa cai, significa que o investidor aceitará uma taxa de retorno menor. Aceitando, haverá um aumento no valor inicial do investimento.

Uma redução de 0,5% ponto na Selic, em um investimento de 20 anos de prazo, significará um aumento de 3,8% no valor do investimento – mantidas as demais variáveis. Se se analisar a queda total da Selic – de 12% para 7,5% – significou um aumento de 36% nos investimentos previstos em um plano de negócios.

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Se a taxa de retorno cai para 7,5%, e o lucro continua em R$ 1.000,00, o valor do investimento subiria para R$ 10.195,00. Unicamente pelo efeito taxa de juros.

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