Economia

O novo cenário do comércio mundial

Quadro econômico instável, protecionismo em políticas estatais e ascensão de emergentes são algumas das características. Por Luis Nassif

Roberto Carvalho de Azevêdo, primeiro brasileiro eleito diretor-geral da OMC
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Novo diretor geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), Roberto Azevêdo traçou na última reunião do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) um quadro complexo do comércio mundial.

2008 ainda é a referência máxima, em termos de comércio e economia mundial. Cinco anos importantíssimos, explica ele, porque o cenário internacional experimentou mudanças extraordinárias, do ponto de vista econômico e político.

Dentre essas novas características:

1 – Quadro econômico muito mais instável do que antes.

2 – No plano estritamente comercial, o protecionismo voltou de maneira mais sofisticada, em políticas estatais de apoio a setores fragilizados, apoio ao sistema financeiro ou automotivo por determinados países, subsídios domésticos que não podem ser questionados. Países com mais recursos para apoiar os seus levam vantagem.

3 – Um volume de capital que atravessa fronteiras, infinitamente maior do que dez anos atrás. Não existe nenhum tipo de mecanismo de detecção prematura de desequilíbrios, uma governança supranacional. O mundo continua desgovernado na área financeira.

4 – Existe a percepção de que superação da crise de 2008 não vai ser rápida. Vai demorar a situação de desemprego alto, exacerbando a sensibilidade política desses países.

5 – A crise marcou a ascensão dos emergentes, um círculo imediato, composto por Brasil, Rússia, China e Índia. Mas tem outros, como Turquia, Indonésia, asiáticos em geral, Egito.

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Os emergentes não são mais vistos como países em desenvolvimento, o que propiciava disposição inicial de ajuda, por parte dos desenvolvidos. Agora, são cobrados para contribuir com os mais pobres, comprando mais, abrindo mercados, aumentando o consumo doméstico para ajudar os países do norte, compartilhar responsabilidades em fóruns internacionais. Os desenvolvidos pretendem que esses países participem do jogo econômico em vigor, comprando “sharing”, isto é, ampliando sua presença.

Esse é o dilema: integrar-se ou criar o contraponto, novas maneiras de perseguir o desenvolvimento econômico. Vão hospedar investimentos de países ricos ou criar empresas e formas de produção que irão competir com os desenvolvidos?

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O espaço de negociação se estreitou em qualquer foro internacional. Para qualquer concessão, os desenvolvidos irão pedir esforço mais que proporcional dos emergentes.

Alianças com países em desenvolvimento serão muito mais relevantes do que antes de 2008. Há a necessidade de mais pensamento estratégico nas conversas dos BRICs e uma aproximação com os demais emergentes que passe pela cooperação técnica, solidariedade, articulação política. Considera que o governo Dilma tem ideias bem focadas nessa direção.

Cenário econômico comercial tem repercussão na áreas política, por envolver temas de direitos humanos (níveis salariais, custos sociais, condições de trabalho etc), meio ambiente, controle de matriz energética e outros com relação direta com a competitividade. Essa discussão será pautada no novo cenário. E há questões mal resolvidas, como o conceito de economia verde, que pode conflitar com o de sustentabilidade.

Enfim, o mundo está menos sensível ao desenvolvimentismo.

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