O disparar quase simultâneo de alertas das principais agências econômicas mundiais confirma a iminência de uma recessão global de múltiplas causas e com duração tanto mais longa quanto for a insistência em combatê-la com a velha terapia ortodoxa, de inadequação cada vez mais evidente desde a crise de 2008. Os últimos relatórios do Banco Mundial, FMI, OCDE e Unctad-ONU não deixam dúvidas quanto à alta probabilidade de uma crise de grandes proporções e que deverá atingir com maior severidade países periféricos como o Brasil. Após a curta reanimação da economia, impulsionada pelos anabolizantes eleitorais do governo, devemos retomar o percurso de anos seguidos de baixo crescimento.
Mais que uma recessão, o que se configura é uma convergência de momentos agudos de várias crises, concordam o jornal Financial Times e analistas respeitados como Nouriel Roubini, professor da Stern School of Business da Universidade de Nova York, entre outros. A economia mundial passa pelo que vem sendo chamado de polycrisis ou crise global múltipla, com a incidência simultânea de uma guerra, inflação dos preços dos alimentos e dos combustíveis alavancada por restrições da produção de petróleo por parte da Opep, persistência da pandemia com efeito negativo na economia chinesa, virtual emergência climática, colapso da política estadunidense de quantitative easing e, como elemento mais importante, a tentativa de se resolverem os problemas contemporâneos com aumento dos juros, austeridade e demonização da atuação do Estado, em contradição com o uso intensivo do aparato estatal durante a pandemia.
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