Economia

O massacre do povo grego

A não ser que queiram encarcerar todos os gregos, é impossível um corte de despesas que compense queda tão acentuada do PIB

'O ponto de partida para o equacionamento do caso grego tem que ser essa identificação de responsabilidades'. Foto: Louisa Gouliamaki/AFP
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A Grécia está sendo submetida a um massacre.

Ontem foi divulgado o PIB do quarto trimestre de 2011, com uma queda de 7%; no terceiro trimestre a queda foi de 5%. Em 2009 e 2010, o PIB já havia caído 3,2% e 3,5% respectivamente.

O drama grego reside em uma relação dívida/PIB da ordem de 140% e um déficit público da ordem de 8%. Desse total, apenas 1,3% se referem ao déficit primário – receitas menos despesas. O restante é juros e amortização, de empréstimos de grandes bancos internacionais que arriscaram, ganharam durante algum tempo e, agora, não querem pagar a conta.

Sua imprudência vinha da convicção de que, em qualquer hipótese, a Grécia seria bancada pela União Europeia ou pelo FMI. Ora a um ganho maior corresponde um risco maior.

Nesse ponto, há que se dividir o jogo de interesses em duas partes: os acionistas dos bancos e os investidores. O risco final, em última instância, é do investidor – especialmente do grande capital, aquele que mais se arrisca com operações de derivativos ou de empréstimos a países de alto risco.

Mas desde a eclosão da dívida, vem-se tratando a questão grega de maneira a minimizar o máximo o prejuízo do chamado grande capital.

O primeiro pacote de ajuda foi de 110 bilhões de euros, com participação do FMI e da União Europeia. Foi negociado um segundo pacote de 109 bilhões de euros, até se constatar que não haveria meio de resolver a questão da dívida sem descontos.

Em uma primeira rodada o desconto foi de 21% do valor presente do endividamento público, insuficiente para equacionar a dívida.

Em agosto do ano passado, a OCDE (conjunto das economias mais desenvolvidas do mundo) lançou um estudo sobre a situação econômica da Grécia.

O estudo dizia que “a Grécia lançou um ambicioso programa de ajuste para lidar com a profunda  crise econômica, restaurando a sustentabilidade das finanças públicas, competitividade e os fundamentos para saudável e sólido crescimento a longo prazo”.

É um estudo indecente no qual, para gerar ganhos capazes de equacionar a dívida, propõe-se reduzir os benefícios previdenciários, aumentar oportunidades de trabalho para velhos e crianças, precarizar o emprego restringir gastos com saúde, reduzir substancialmente o salário mínimo.

O que esta fórmula conseguiu, de um lado, foi uma queda de 7% do PIB – e mais do que isso na arrecadação fiscal. A não ser que queiram encarcerar todos os gregos, é impossível um corte de despesas que compense queda tão acentuada do PIB. E se conseguir compensar, haverá nova queda no PIB, maior ainda.

Nenhuma nação, nenhum conjunto de países se sustenta sem a solidariedade advinda de relações ética do governante com sua população. Hoje em dia, mais do que em qualquer época, a Internet trouxe uma transparência inédita nas informações e nas relações de poder.

Qualquer cidadão global, medianamente informado, sabe que a crise grega é fruto da cumplicidade de governantes corruptos com bancos imprudentes e investidores ambiciosos.

O ponto de partida para o equacionamento do caso grego tem que ser essa identificação de responsabilidades. Caso contrário, significará jogar a União Europeia de volta à era de barbárie do pré-Segunda Guerra.

A Grécia está sendo submetida a um massacre.

Ontem foi divulgado o PIB do quarto trimestre de 2011, com uma queda de 7%; no terceiro trimestre a queda foi de 5%. Em 2009 e 2010, o PIB já havia caído 3,2% e 3,5% respectivamente.

O drama grego reside em uma relação dívida/PIB da ordem de 140% e um déficit público da ordem de 8%. Desse total, apenas 1,3% se referem ao déficit primário – receitas menos despesas. O restante é juros e amortização, de empréstimos de grandes bancos internacionais que arriscaram, ganharam durante algum tempo e, agora, não querem pagar a conta.

Sua imprudência vinha da convicção de que, em qualquer hipótese, a Grécia seria bancada pela União Europeia ou pelo FMI. Ora a um ganho maior corresponde um risco maior.

Nesse ponto, há que se dividir o jogo de interesses em duas partes: os acionistas dos bancos e os investidores. O risco final, em última instância, é do investidor – especialmente do grande capital, aquele que mais se arrisca com operações de derivativos ou de empréstimos a países de alto risco.

Mas desde a eclosão da dívida, vem-se tratando a questão grega de maneira a minimizar o máximo o prejuízo do chamado grande capital.

O primeiro pacote de ajuda foi de 110 bilhões de euros, com participação do FMI e da União Europeia. Foi negociado um segundo pacote de 109 bilhões de euros, até se constatar que não haveria meio de resolver a questão da dívida sem descontos.

Em uma primeira rodada o desconto foi de 21% do valor presente do endividamento público, insuficiente para equacionar a dívida.

Em agosto do ano passado, a OCDE (conjunto das economias mais desenvolvidas do mundo) lançou um estudo sobre a situação econômica da Grécia.

O estudo dizia que “a Grécia lançou um ambicioso programa de ajuste para lidar com a profunda  crise econômica, restaurando a sustentabilidade das finanças públicas, competitividade e os fundamentos para saudável e sólido crescimento a longo prazo”.

É um estudo indecente no qual, para gerar ganhos capazes de equacionar a dívida, propõe-se reduzir os benefícios previdenciários, aumentar oportunidades de trabalho para velhos e crianças, precarizar o emprego restringir gastos com saúde, reduzir substancialmente o salário mínimo.

O que esta fórmula conseguiu, de um lado, foi uma queda de 7% do PIB – e mais do que isso na arrecadação fiscal. A não ser que queiram encarcerar todos os gregos, é impossível um corte de despesas que compense queda tão acentuada do PIB. E se conseguir compensar, haverá nova queda no PIB, maior ainda.

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