Economia

O grito da indústria

Entre 2008 e 2011, o saldo comercial do setor saiu do equilíbrio para um déficit de 43 bilhões de dólares

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Que eu me lembre, é a primeira vez: sindicatos e centrais sindicais mobilizam trabalhadores e vão às ruas- empunhando a bandeira desfraldada por uma importante entidade patronal, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq). E se unem em um protesto contra os altos juros, a excessiva carga tributária, o câmbio supervalorizado e em defesa dos empregos ameaçados pela invasão das importações (especialmente chinesas) que competem deslealmente com a produção de nossa indústria de transformação.

“Ocuparam” ruas centrais de Porto Alegre em 26 de março, uma segunda-feira que ficará na história como o primeiro ato de um movimento apropriadamente chamado de “Grito de Alerta”. Outras manifestações foram agendadas para abril em Curitiba, São Paulo, Manaus e, em 10 de maio, em Brasília.

Ajudou a mobilizar empresários e trabalhadores para a divulgação de um recente estudo da Abimaq, alertando para os problemas criados com as importações facilitadas pela supervalorização da taxa de câmbio, deixando a indústria nacional em desvantagem para competir em nosso próprio mercado interno. Sem contar as enormes dificuldades para enfrentar a concorrência nos mercados mundiais dos países que estão com suas moedas cada vez mais desvalorizadas.

Se pudéssemos imaginar uma OMC menos complacente com o comportamento errático de parceiros poderosos, as mesmas condições deveriam valer para todos os participantes do comércio internacional. Não é assim, quando alguns parceiros fazem manobras implícitas (como é o caso dos EUA e da Eurolândia neste momento) ou explícitas (como é o caso da China, há pelo menos duas décadas) para “desvalorizar suas moedas e expandir suas exportações à custa da redução da produção nacional dos outros”.

Normalmente, um país em desenvolvimento assiste a uma “valorização” da taxa de câmbio. Isso explica por que a taxa de câmbio é sujeita à vigilância das autoridades nacionais, atentas aos efeitos que podem ser devastadores quando ela é produto de um evento (por exemplo, um aumento importante das relações de troca) que pode durar alguns anos e produzir cicatrizes definitivas na estrutura produtiva do país. É claro que o problema brasileiro não é apenas de câmbio valorizado, mas também não é apenas de “produtividade”, como querem fazer crer alguns sacerdotes da religião do mercado.

Entre 2008 e 2011, o saldo da balança comercial da indústria de transformação passou de uma posição de equilíbrio a um déficit de 43 bilhões de dólares. O que mudou na “produtividade” do setor, a não ser a “supervalorização cambial” e a ação dos países predadores com suas moedas desvalorizadas (especialmente a China) que se defenderam da crise invadindo os mercados dos países incautos? Com o yuan administrativamente “desvalorizado” em ao menos 30% (além dos subsídios de toda natureza), pode-se falar, sem corar, em “competição” ou diferença de “produtividade”?

Há evidências empíricas de que a produtividade por homem/hora no chão de fábrica no Brasil e na China é praticamente igual. A diferença está fora do portão da fábrica! O trabalho que a Abimaq divulgou é preocupante. Seus números estão cuidadosamente registrados. Entre 2004 e 2009, os preços de máquinas e equipamentos (IPA) cresceram 21,1% e o faturamento líquido do setor, 32,8%. Isso sugere um crescimento físico do setor da ordem de 1,9% ao ano, enquanto o PIB subiu a 3,6% ao ano. Os preços dos insumos elevaram-se à taxa de 6,3% ao ano; os salários à taxa de 9% e os encargos e benefícios, 10%. No caso dos insumos, em 2011, por exemplo, a tonelada de aço no Brasil custava 30% acima do preço internacional e o gás natural, por milhão de BTU seis vezes mais do que nos EUA.

Os efeitos acumulados do rápido crescimento dos preços dos insumos básicos internos, da proteção da tarifa efetiva de insumos importados e a “supervalorização” da taxa de câmbio entregaram o mercado interno à produção estrangeira, dando-lhe condições para ocupar sua capacidade ociosa e aproveitar os ganhos de escala. Não foi sem razão, portanto, que o crescimento de 0,1% do nosso setor manufatureiro nos roubou quase 1% do crescimento do PIB.

É hora de cuidar do câmbio e de proporcionar condições isonômicas para nossos produtores. Esse é o sentido do Grito de Alerta de trabalhadores e empresários que preferem não esperar nascer o dia em que terão de repetir o Grito de Agonia dos desempregados do mundo desenvolvido.

Que eu me lembre, é a primeira vez: sindicatos e centrais sindicais mobilizam trabalhadores e vão às ruas- empunhando a bandeira desfraldada por uma importante entidade patronal, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq). E se unem em um protesto contra os altos juros, a excessiva carga tributária, o câmbio supervalorizado e em defesa dos empregos ameaçados pela invasão das importações (especialmente chinesas) que competem deslealmente com a produção de nossa indústria de transformação.

“Ocuparam” ruas centrais de Porto Alegre em 26 de março, uma segunda-feira que ficará na história como o primeiro ato de um movimento apropriadamente chamado de “Grito de Alerta”. Outras manifestações foram agendadas para abril em Curitiba, São Paulo, Manaus e, em 10 de maio, em Brasília.

Ajudou a mobilizar empresários e trabalhadores para a divulgação de um recente estudo da Abimaq, alertando para os problemas criados com as importações facilitadas pela supervalorização da taxa de câmbio, deixando a indústria nacional em desvantagem para competir em nosso próprio mercado interno. Sem contar as enormes dificuldades para enfrentar a concorrência nos mercados mundiais dos países que estão com suas moedas cada vez mais desvalorizadas.

Se pudéssemos imaginar uma OMC menos complacente com o comportamento errático de parceiros poderosos, as mesmas condições deveriam valer para todos os participantes do comércio internacional. Não é assim, quando alguns parceiros fazem manobras implícitas (como é o caso dos EUA e da Eurolândia neste momento) ou explícitas (como é o caso da China, há pelo menos duas décadas) para “desvalorizar suas moedas e expandir suas exportações à custa da redução da produção nacional dos outros”.

Normalmente, um país em desenvolvimento assiste a uma “valorização” da taxa de câmbio. Isso explica por que a taxa de câmbio é sujeita à vigilância das autoridades nacionais, atentas aos efeitos que podem ser devastadores quando ela é produto de um evento (por exemplo, um aumento importante das relações de troca) que pode durar alguns anos e produzir cicatrizes definitivas na estrutura produtiva do país. É claro que o problema brasileiro não é apenas de câmbio valorizado, mas também não é apenas de “produtividade”, como querem fazer crer alguns sacerdotes da religião do mercado.

Entre 2008 e 2011, o saldo da balança comercial da indústria de transformação passou de uma posição de equilíbrio a um déficit de 43 bilhões de dólares. O que mudou na “produtividade” do setor, a não ser a “supervalorização cambial” e a ação dos países predadores com suas moedas desvalorizadas (especialmente a China) que se defenderam da crise invadindo os mercados dos países incautos? Com o yuan administrativamente “desvalorizado” em ao menos 30% (além dos subsídios de toda natureza), pode-se falar, sem corar, em “competição” ou diferença de “produtividade”?

Há evidências empíricas de que a produtividade por homem/hora no chão de fábrica no Brasil e na China é praticamente igual. A diferença está fora do portão da fábrica! O trabalho que a Abimaq divulgou é preocupante. Seus números estão cuidadosamente registrados. Entre 2004 e 2009, os preços de máquinas e equipamentos (IPA) cresceram 21,1% e o faturamento líquido do setor, 32,8%. Isso sugere um crescimento físico do setor da ordem de 1,9% ao ano, enquanto o PIB subiu a 3,6% ao ano. Os preços dos insumos elevaram-se à taxa de 6,3% ao ano; os salários à taxa de 9% e os encargos e benefícios, 10%. No caso dos insumos, em 2011, por exemplo, a tonelada de aço no Brasil custava 30% acima do preço internacional e o gás natural, por milhão de BTU seis vezes mais do que nos EUA.

Os efeitos acumulados do rápido crescimento dos preços dos insumos básicos internos, da proteção da tarifa efetiva de insumos importados e a “supervalorização” da taxa de câmbio entregaram o mercado interno à produção estrangeira, dando-lhe condições para ocupar sua capacidade ociosa e aproveitar os ganhos de escala. Não foi sem razão, portanto, que o crescimento de 0,1% do nosso setor manufatureiro nos roubou quase 1% do crescimento do PIB.

É hora de cuidar do câmbio e de proporcionar condições isonômicas para nossos produtores. Esse é o sentido do Grito de Alerta de trabalhadores e empresários que preferem não esperar nascer o dia em que terão de repetir o Grito de Agonia dos desempregados do mundo desenvolvido.

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