Economia

O governo vai mandar a agricultura para aquele lugar?

Se o contingenciamento chegar aos programas da agricultura familiar, aguardem “a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar”

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Hoje, por exemplo, poderia colocá-los numa ‘bananosa’. Aqui esmiuçar os motivos que fizeram o IBGE prever que o valor bruto da produção (VBP) agropecuária brasileira cairá 0,0033% em relação a 2014. Péssima notícia!

Seria um sofrimento nepalês para os colegas encontrar um título. Afinal, se as folhas e telas cotidianas dão destaque a isso, como CartaCapital deixaria de fazê-lo?

Outra hipótese seria repetir o trailer de um filme que, há 20 anos, não estreia nos cines da infraestrutura nacional, a Ferrovia Transoceânica. Atlântico e Pacífico numa só talagada de Bourbon, ouvindo B.B. King sem parar e nunca o esquecer.

Quando consultor do Brasil Grande, duas décadas atrás, em estudos logísticos, iludia a mim e aos clientes considerando próxima a construção da ferrovia. Com fervor, estudava percursos, estágio das obras, valor do investimento e o Peru nos servindo de pedágio. Se acreditavam, não sei, mas que era bonito, isto lá era. Quase 6.000 km de trilhos, furando o Andes, a tornar competitiva a produção nacional.

Em visita recente ao Brasil, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, juntou-se à presidente Dilma Rousseff (sem ‘panelaços’, por favor, sou avesso a barulho e imbecilidade), para ressuscitar o projeto. Anunciaram que “agora vai”.

Gente no governo se animou. Pelo menos, uma notícia boa para as feras midiáticas. A iniciativa privada ligada ao agronegócio fez muxoxos do tipo “não acredito e já era”. Para os empresários, além de inviável, hoje em dia, há alternativas muito mais vantajosas sendo criadas.

Sendo assim, não creio que apesar de toda sua criatividade o pessoal da Redação conseguisse um título atraente a ponto de fazer explodir a audiência da coluna.

Prefiro, então, voltar a um tema abordado na coluna de 04/05, com interesse tão baixo, digno de emissoras públicas: O Ministério da Agricultura não pode dar o que pedem.

Falava da impossibilidade de um ministério que lida, historicamente, com fazenda ser subalterno à Fazenda de Joaquim Levy, dono e leiloeiro-ajustador de bilhões de hectares de reais.

Nossa combativa ministra da Agricultura, de início, bravateou. Acionaria seu trator para garantir que não houvesse cortes no orçamento da Pasta. Bem, os juros dos financiamentos de custeio e investimento subirão, acompanhando a taxa Selic que “controlará a inflação”, coisa que nunca fez, e o MAPA sofrerá um corte de até 30% em seu orçamento.

Trator avariado? Perda de potência? Evita-se o termo corte, preferem contingenciamento. Peço licença para uma improbidade neste educado salão: em inglês cinematográfico, o melhor termo seria fuck you all!

Daqui a uma ou duas semanas será anunciado pela presidente e a zelosa ministra o Plano Safra 2015/16. Provável ouvirmos as mesmas platitudes “Pátria Educadora”, “lição de casa”, “conquistas dos trabalhadores asseguradas”.

Para mim, de bom tamanho bastará não ver passeando por aqui, com seus tailleur e pasta executiva démodé, aquela economista do FMI, Teresa Ter-Minassian, que junto a Armínio “Lontra” Fraga e André “Consumo-só-o-Meu” Lara Resende, são mestres em bom comportamento econômico de pobres.

Hoje em dia, cadê Teresa? Se ocupa ensinando portugueses e gregos a não gastarem o que não podem. Os rapazes nacionais estão nos campos de golfe, cavalariças e bancos de investimentos. E nós, continuamos aqui mesmo, apertando os cintos.

Mas o que pensa a gente do agro? Aqueles visitados na semana passada em baianas e paranaenses Andanças Capitais. Fingem não desanimar, pois olham para trás e veem os campos de milho safrinha plantados, sadios e produtivos; o trigo já saindo da terra ralinho e lindo como um gramado inglês; as frutas e hortaliças equilibradas entre oferta e procura; a boa safra capixaba e da Zona da Mata de café a bons preços.

Por enquanto, olham para frente apenas com um dos pés atrás. Diminuíram a compra de fertilizantes, pararam a aquisição de máquinas e equipamentos, e logo lembram que nos campos o trabalho é diário e já planejam o próximo plantio.

Agora, tem uma coisa, ó autoridades incumbentes, me apropriando de um termo do professor Antônio Delfim Netto, se o tal do fuck you all chegar aos programas da agricultura familiar, aguardem destas Andanças Capitais “a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar”.   

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