Economia

“O clima criado com a redução das tarifas de energia prejudica o sistema”

Para o diretor da Coppe/UFRJ, a redução não foi feita da maneira adequada e trouxe instabilidade para o setor, mas não há sucateamento ou calamidade

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A situação energética brasileira não é calamitosa, mas exige atenção e revalorização de suas empresas de base. O diagnóstico é do diretor da Coppe/UFRJ e professor do Programa de Planejamento Energético, Luiz Pinguelli Rosa. Segundo ele, os problemas que afetam o Sul e Sudeste constituem um quadro diferente da crise energética enfrentada em 2001: o sistema, antes colapsado, agora é afetado por uma série de revezes, como o excesso de calor, a falta de chuvas e o clima negativo que a redução de tarifas trouxe para o setor. “O clima que foi criado com a redução das tarifas está prejudicando todo o sistema”, diz ele em entrevista a CartaCapital. “Mas não existe falta de energia.”

Confira abaixo a entrevista:

CartaCapital: Quão grande é o risco atual de apagão e no que ele se difere para o apagão de 2001?

Luiz Pingelli Rosa: É muito diferente, porque em 2001 houve falta de energia, ou seja, a politica de privatização tinha suprimido o investimento estatal e as empresas privadas que entraram não expandiram o sistema. Elas fizeram investimento de compra de ativos e não de construção de novas usinas, então o Brasil ficou um tempo sem expansão e com uma demanda alta, que cresceu em 2001,  que começou bem economicamente. [O sistema] acabou colapsando por falta de energia elétrica, que não é o caso agora. Agora há energia suficiente, o problema tem sido de transmissão de energia. Eu não diria que haja nada calamitoso.

CC: Há sucateamento?

LPR: Eu não diria sucateamento, de jeito nenhum. São muitos os problemas: é um momento difícil de alta temperatura, de grande consumo de energia – o ar condicionado principalmente – e, além disso, a alta temperatura exige muita energia de cada aparelho. E há também a melhoria da renda das famílias brasileiras, que agora têm mais equipamentos elétricos. E a ausência de chuva esse ano, que não está sendo suficiente e os reservatórios estão com níveis menores do que os previstos. Isso obriga uma ginástica enorme na operação, e principalmente na operação de muitas termoelétricas, que criam um ônus enorme para o sistema, porque elas geram um gasto muito maior.

CC: Existe hoje a necessidade da racionalização do uso de energia por parte da população? De alguma maneira ela está sendo preparada para isso?

LPR: Não, não há necessidade. Deveria haver uma maior atenção do governo quanto ao estímulo da economia de energia, racionalização. Isso sempre se deve estimular. A economia de energia é sempre uma coisa necessária.

CC: Quais foram as escolhas equivocadas do governo que comprometeram o plano inicial?

LPR: Acho que existem medidas equivocadas, a pior delas foi a redução das tarifas que reduziu as ações da Eletrobrás pela metade, o que afetou todos os funcionários, há cortes. Isso criou um clima ruim na empresa e é ela quem opera tudo isso.

CC: Mas o senhor acredita que exista um excesso de tarifação?

LPR: Sim, é preciso reduzir tarifas, mas não da maneira como foi feito. Isso gerou um clima muito negativo. Ela tem um claro benefício pro consumidor, que é a redução da conta, mas seria preciso discutir melhor como reduzir essa tarifa. Os estados cobram impostos exagerados, eu acho que isso [reduzir os impostos estaduais] poderia ser feito.

CC: Qual seria a solução para este momento?

LPR: Acho que agora, se pudesse se compensar, recriar essas empresas em outras bases, torná-las novamente interessantes. [O plano energético brasileiro] tem méritos inegáveis, como o retorno do planejamento e a operação da ONS no geral é boa também. Existem empresas boas. Entretanto, o clima que foi criado com a redução das tarifas está prejudicando todo o sistema.

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