Economia
O boom dos serviços de streaming
Modelo de negócios revolucionou indústria do entretenimento e hábitos dos espectadores mundo afora. Netflix se destaca, mas concorrência cresce
Por Hannes Breustedt
Não faz nem cinco anos que a Netflix emplacou seu primeiro grande sucesso com a série House of Cards. Desde então, o mercado de TV mudou tanto que parece ter transcorrido uma eternidade. O sucesso do drama político, estrelado pelo vencedor do Oscar Kevin Spacey no papel do inescrupuloso deputado americano Frank Underwood, foi categórico: entretenimento na telinha também funciona sem provedores de TV a cabo e vastos pacotes de canais – ninguém mais pode ignorar o fenômeno dostreaming.
O modelo de negócios sofreu um boom: serviços online de vídeo, que mediante a cobrança de uma taxa oferecem filmes e séries, não substituíram de forma alguma a televisão tradicional, mas sua importância cresce de forma constante.
Nos Estados Unidos, cada vez mais clientes cancelam suas assinaturas de TV a cabo e se tornam “cord cutters” (cortadores de cabo, em tradução livre), que acessam entretenimento televisivo exclusivamente pela internet.
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A tendência está intimamente ligada ao sucesso da Netflix, que moldou esse modelo de negócios desde o início. Na segunda-feira 16, a empresa divulgou que conquistou cerca de 5 milhões de novos assinantes nos últimos três meses. A companhia também anunciou investimentos maciços para manter a concorrência distante.
Explosão de preços
Fundada em 1997 em Los Gatos, Califórnia, a companhia operou inicialmente como uma locadora de vídeos online, oferecendo discos de DVD e Blu-ray. Após entrar no mercado de ações em 2003, a Netflix viu seu valor subir de 300 milhões para mais de 86 bilhões de dólares.
Por trás dessa explosão, está o florescente serviço de streaming, cujo número de clientes cresceu de cerca de 23 para 104 milhões desde 2011. Hoje, a Netflix está disponível em mais de 190 países.
Isso estimula concorrência mesmo na antiquada indústria de entretenimento. Enquanto a gigante da mídia americana Disney só recentemente anunciou um serviço de streaming para 2019, o popular pay-per-view HBO, da Time Warner, já está disponível nos EUA desde 2015, com blockbusters como Game of Thrones também disponíveis na forma de assinatura online. Além disso, a Hulu, pioneira no mercado assim como a Netflix, agora conta com a parceria de gigantes como NBC Universal, Fox e Disney.
Amazon, a concorrente de Hollywood
A maior rival do streaming, no entanto, não está em Hollywood. Conhecida sobretudo por sua agressiva expansão no comércio online, a gigante da internet Amazon compete há anos também com a Netflix graças a seu serviço Prime Video.
Recentemente, até o Vale do Silício tem metido cada vez mais o bedelho: a Google tem aprimorado seu serviço de vídeos Youtube com modelos de assinaturas e conteúdo exclusivo produzido de forma profissional. De acordo com a mídia americana, Facebook e Apple planejam bilhões de investimentos em conteúdo exclusivo em vídeo.
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Na luta pela liderança no streaming, as produções próprias, chamadas de “originais”, são consideradas a chave do sucesso. Essas podem ser documentários, filmes, talk shows, mas principalmente séries. Neste quesito, a HBO se estabeleceu cedo com clássicos como The Sopranos (Família Soprano, no Brasil) e The Wire, e é considerada ainda hoje líder em qualidade.
A Amazon, apesar de alguns êxitos, ainda não teve um grande hit. Claro que a Netflix também brilha com algumas novas séries, mas é difícil superar o sucesso de House of Cards ou Orange Is the New Black.
Bilhões para megahit
A caça ao próximo megahit do streaming provocou uma verdadeira batalha de gastos. Neste ano, a Netflix pretende investir 6 bilhões de dólares em conteúdo exclusivo, e a Amazon, 4,5 bilhões de dólares, segundo estimativas do banco JPMorgan.
O Youtube não chega a falar em valores, mas também vêm ganhando espaço e, para crescer, pode aproveitar os fundos da proprietária Google. A Disney, por sua vez, está abrindo o orçamento de guerra para seu canal esportivo ESPN, cujo serviço de streaming está programado para ser lançado em 2018.
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As produções internas podem se revelar caros fracassos, mas em caso de sucesso, são lucrativas não apenas como um ímã de clientes. Conteúdo atraente comprado também é caro, e a aquisição de direitos é muitas vezes complexa.
Um outro problema com as produções externas foi recentemente sentido na pele dolorosamente pela Netflix, quando a Disney, por ocasião da sua própria ofensiva de streaming, anunciou o fim da cooperação com a empresa. Contratos de licença são geralmente de tempo limitado, e quando os parceiros se tornam rivais, conteúdo valioso é perdido.
Se os especialistas financeiros de Wall Street estiverem certos, a Netflix está bem posicionada, apesar de toda a concorrência. Goldman Sachs e JPMorgan recomendaram a compra das ações da empresa na semana passada e aumentaram suas metas depois que a Netflix aumentou os preços da assinatura. O valor das ações alcançou então um novo recorde.
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