Economia

O agronegócio também alimenta a esquerda

No debate sobre Kátia Abreu, a esquerda retrógrada tenta demonizar o agronegócio e esquece que, do campo, veio um quarto do “pibinho”. Por Rui Daher

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O agronegócio não é um partido político. Também não é rótulo de veneno, muito menos marca de motosserra. Quem dele se aproveita para praticar ilegalidades deveria estar na cadeia.

É parte do setor produtivo de um país. Produtos agropecuários transformados para agregar valores industriais, comerciais e de serviços à economia. Simples assim. Não há por que demonizá-lo ou vê-lo somente virtuoso. Este o tratamento que a coluna dá a ele.

Não está restrito às extensas plantações de soja, cana ou milho. É burro o esperneio digital contra elas. No planeta, se tornou briga de cachorro grande e, neste século 21, só se desenvolverá com tecnologia e capital. São culturas inadequadas em pequena escala.

Felizmente, para quem sabe, o agronegócio vai muito além. Tomate, cebola, hortaliças, frutas, leite, enfim, os mais de cem itens agropecuários aqui produzidos, que podem e devem sair de pequenas propriedades, aí incluídas comunidades indígenas, quilombolas e assentamentos.

Bastará quem os apoie com crédito subsidiado, tecnologia, gestão e canais definidos de comercialização. Públicos e privados.

Vinte hectares produzindo pitangas podem gerar renda igual à de 200 hectares de soja ou cana.

A predominância de terras brasileiras plantadas com commodities tem motivo único: vocês, distraídos consumidores que as tornaram maiores na demanda e no comércio mundial.

Somente isso, depois de tantos artigos divergindo das posições de Kátia Abreu (aliás, fartamente replicados no site do MST), fez-me ponderar positiva a possibilidade dela vir a ser ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Hoje em dia, suas posições equivocadas ou corporativas, fatalmente, serão equilibradas pelas ações dos ministérios do Desenvolvimento Agrário, Meio Ambiente e na secretaria de Direitos Humanos, ainda com direito a veto presidencial.

Feudo do PMDB, o MAPA tem sido comandado por políticos leigos e incompetentes. Precisa de gestão, planejamento, objetividade na Embrapa. Kátia Abreu fez janela na CNA para avançar nessas tarefas.

Muitos poderão ver neste texto um quê revanchista ao desvario do que foi comentado sobre a última coluna. E é mesmo, ainda que não contasse com entendimento, educação ou argumentação consistente.

Assim, hoje vou de agronegócio nas veias abertas (Salve, Eduardo Galeano!) dessa esquerda retrógrada, que não hesita, a partir de uma opinião assinada, enfiar CartaCapital em farinhas de um mesmo saco partidário e de publicações do esgoto jornalístico.

Ainda precisam de números? Então tá. Em 2013, o agronegócio representou 25% do “pibinho” brasileiro. Não fosse ele, teríamos um “pibículo”. Entregou ao País um trilhão de reais. Ajudou a sustentar programas sociais e forneceu alimentos às esquerdas e direitas. Mais de 40% das exportações brasileiras saíram dele para mais de 150 países.

E daí, perguntaria o apedrejador de plantão? Isso é o que qualquer ruralista assopra em seus berrantes. E os latifúndios de soja, bois emissores de gases, milho em frangos bombados com hormônios, ao custo de matas motosserradas, venenos e sangue indígena?

Não, estimados, ao custo de investimento, inovação tecnológica, emprego e renda, na maior diversidade cultivável do planeta. Cada campesino na sua; cada cultura em sua dimensão de consumo; a polícia para quem não cumpre as leis.

Feita a revanche e coração abrandado, convido os bravos defensores do esterco e da calda bordalesa a me acompanharem em recente ‘Andança Capital’ ao Polo Petrolina/PE-Juazeiro/BA, no semiárido nordestino, banhado e irrigado pelo Rio São Francisco.

Casa Nova, Bahia, município com 65 mil habitantes (IBGE, 2010). Partindo de Juazeiro/Petrolina, serão 60 km.

Quem conheceu a região antes da construção da barragem de Sobradinho e dos projetos de irrigação da CODEVASF sabem que, além do sal remanescente da economia local no século 19, pastavam por lá algumas cabras e sertanejos vivendo abaixo da linha de pobreza.

Bem-vindos, pois, à Agrobras, Agrícola Tropical do Brasil S/A, empresa produtora, beneficiadora e exportadora de mangas. Processos agrícolas, técnicos e industriais modernos. Dois mil funcionários trabalham para enviar frutas de qualidade a Japão, França, Alemanha, Estados Unidos. Isto é agronegócio.

Vamos agora à Vinícola Ouro Verde, do Grupo Miolo. Irá nos acompanhar a assistente de turismo, Nilmara de Souza. Técnica competente, nos guiará por 200 hectares de parreirais que se transformam em mais de dois milhões de litros de bons vinhos e espumantes. Isto é agronegócio.

Ainda na região de Casa Nova, está o maior rebanho de caprinos e ovinos do Brasil, distribuídos em pequenas propriedades. Visitando o famoso Bodódromo, em Petrolina, não deixem de saboreá-los assados, no espeto, ensopados, ou em buchadas. Isto é agronegócio.

Mas “pra não ficar mal com Deus” (Vandré, ajude-me a limpar a pecha de reacionário), e nem com vocês, deixo ótima dica: na estrada Petrolina/Tapera, fica a Travessia do Juarez e o restaurante ‘Carranca Gulosa’.

Provem o ‘Surubim do Vaqueiro’, bebam uma cachaça ‘Rainha’ (50% vol.) e olhem um barco turístico atravessando o Velho Chico até a Ilha do Rodeador. Agronegócio.

Ainda contra ele? Certeza de que Kátia Abreu será pior que a carrada de ministros inexpressivos e incompetentes que passaram pelo ministério da Agricultura?

Então, tá. Eu fico com Zé Kéti: “podem me prender/podem me bater/podem até deixar-me sem comer/que eu não mudo de opinião”.

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