Economia
O agro quer ser bem falado, um desafio para os publicitários
Onde houve argumentos científicos oferecidos a debate, venceram rançosas concepções e lobbies espertos
O pessoal da agropecuária se queixa da pouca bola recebida de folhas e telas cotidianas. Acham-se no direito de mais holofotes. Remetem às origens, vocações, caravelas partindo arqueadas com riquezas da colônia, casa-grande flertando (ou mais) com a senzala. Atualmente, as contribuições à balança comercial e ao celeiro mundial.
Um alto esforço para escassas medalhas ou pódios. E falta de reconhecimento, sabemos, dói. Vejam Galvão Bueno. Para ele, o piloto Felipe Massa e o tenista Thomaz Bellucci não perdem, são prejudicados.
De uns tempos para cá, ao agregar o pós-porteira, o setor ganhou pompa – agronegócios – e mais importância. Nada, porém, além de seis e meio.
Em busca de maior grau, contrata assessorias de imprensa, campanhas publicitárias, faz simpósios para dizer que milhares de produtos de uso diário vêm da terra e de homens e mulheres que plantam e pastoreiam. Inclusive, kiwi e avestruz. Enfim, o agro quer ser falado, mas sem demonização, como insiste a presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Kátia Abreu.
O agro quer ser bem falado, um problema difícil para os publicitários.
É sabido que onde há fumaça houve fogo; onde foi desmatado houve motosserras; onde os riachinhos perderam as águas claras e as joaninhas caíram fora, houve quase 10 bilhões de dólares de agrotóxicos; onde houve argumentos científicos oferecidos a debate, venceram rançosas concepções e lobbies espertos.
A senadora por Tocantins, com estágios nos PFL/DEM, PSD, PMDB, em recente coluna para a Folha de S.Paulo, credita a má imagem do setor à esquerda. Critica o site Brasil Escola “por conter didática marxista”. Qual? Tratar o pequeno agricultor com o termo campesino. Então tá: “empreendedor agrícola de pequeno porte”.
Se malfeitos caminharam através de séculos e deram a identidade que o agro crê não mais merecer, para o resgate de sua imagem não precisar de tempo análogo, terá que rever conceitos e ações.
Concordo que as mídias planetárias vivem de caso com política e entretenimento. Vez ou outra admitem uma pulada de cerca com a economia agrícola. De preferência, quando ela capenga.
Ao analisar o futuro do setor coloca-se o horizonte no ano 2050, quando de nada se pode duvidar ou acreditar. Serão mesmo nove bilhões de bocas para alimentar? E se a transgenia encontrar forma de ingestão que não estrague os dentes?
Nestes seis meses de CartaCapital, não fossem os detratores dos direitos indígenas, os subterfúgios dos fabricantes de agrotóxicos e os políticos aparelhados no Ministério da Agricultura, a quem agradeço o lombo, e o ibope da coluna, medido por sinaizinhos de “recomendar” ou o estranho “Aanbeveel”, nem traço daria.
Temas agrários existem em abundância. Importantes. Análises de desempenho, tendências, desorganização dos aparelhos públicos de gestão, o “não é comigo” da iniciativa privada, a estratificação social. Mesmo curiosidades das regiões que visito.
Aí incluído o valor agregado que ganham os bens primários quando transformados em especialidades etílico-gastronômicas, que reservo para meus papos com o amigo Márcio Alemão, que é do ramo.
Um exemplo: os EUA, ainda a nação mais rica do mundo e para onde muitos brasileiros acham descortês adiar visitas, estão nos aplicando um calote. Em 2010, depois de passarmos anos insistindo que o país-espião concedia subsídios excessivos aos seus produtores de algodão, a Organização Mundial do Comércio (OMC) deu-nos direito de retaliação no valor de 800 milhões de dólares.
Bonzinhos, topamos acordo. Valor menor e pagamento em suaves prestações até o final de 2012. Não rolou. Prorrogamos. Em setembro deste ano, Washington pagou apenas 60% da parcela. Outubro pagará neca de pitibiriba.
Parece importante, não? Sei lá. Vejam o tema do editorial da Folha, em 17/10: “viagens da presidente, para inaugurações comezinhas em diversos cantos do país, inscrevem-se na lógica eleitoral já utilizada por Lula”.
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