Economia

Maria Silvia Bastos deixa a presidência do BNDES

Maria Silvia pediu demissão alegando motivos pessoais, mas estaria sofrendo pressão de empresários e funcionários da instituição.

Maria Silvia Bastos pediu demissão pessoalmente ao presidente Temer e alegou motivos pessoais.
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A presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Maria Silvia Bastos, pediu demissão na sexta-feira 26 ao presidente Michel Temer. Alegando motivos pessoais, ela formalizou o pedido em reunião no Palácio do Planalto.

De acordo com comunicado do banco, quem assume a presidência interinamente é Ricardo Ramos, diretor da instituição e funcionário de carreira do BNDES. Ramos respondia pelas áreas de Administração e Recursos Humanos (AARH), Área de Comércio Exterior e Fundos Garantidores (AEX) e de Operações Indiretas (AOI) do banco.

CartaCapital apurou que Maria Silvia vinha sofrendo forte pressão de empresários pela liberação de créditos, ao que não teria cedido. O foco da sua gestão vinha sendo revisar as políticas de concessão de financiamentos do banco, o que vinha irritando empresários, que reclamavam da diminuição dos recursos liberados pela instituição.

A aparente resistência da presidente do BNDES de ceder foi objeto, inclusive, do polêmico diálogo entre Michel Temer e Joesley Batista, gravado pelo segundo e base de sua delação na Operação Patmos.

Outro ponto de tensão vinha de dentro do próprio banco. Diante da avalanche de denúncias contra a instituição, os funcionários cobravam da executiva um postura de defesa do BNDES, mas fontes disseram que o discurso era de não se envolver no que não dizia respeito à sua gestão. 

BNDES e JBS

O BNDESPar detém atualmente cerca de 21,3% do capital total da JBS. Com o escândalo de corrupção envolvendo a empresa, o braço de investimentos do banco R$ 2,8 bilhões. Em outubro de 2016 Joesley Batista propôs um reorganização societária que daria à empresa a possibilidade de passar cerca de 85% de sua geração de caixa para o exterior. Maria Silvia foi contra, pois esse nível de internacionalização vai de encontro aos princípios do banco de promover o desenvolvimento do Brasil. Pela participação do BNDESPar, o BNDES tem poder de veto no conselho de administração da JBS e o exerceu.

O BNDES foi lançado ao centro da crise política por sua relação com a JBS, empresa cujo dono, o empresário Joesley Batista, admitiu em delação premiada ter pago propina a políticos em troca de financiamento do banco, entre outros favores. Esses aportes teriam ocorrido nas gestões anteriores à de Maria Silvia. Recentemente, o BNDES foi alvo da Operação Bullish da Polícia Federal. A investigação apura aportes feitos pelo braço de participações do banco, o BNDESPar, na JBS.

No dia 16 de maio, o banco instaurou uma comissão interna para apurar as denúncias. Segundo o BNDES, a comissão vai “avaliar todos os fatos relacionados às operações realizadas pelo Sistema BNDES com a empresa JBS, tendo em vista o inquérito em andamento da Polícia Federal e o interesse da diretoria e dos empregados do banco na apuração dos fatos e atos relacionados a essas operações”.

Em um pronunciamento à imprensa no último dia 20, sobre as delações dos executivos da JBS, o presidente Michel Temer aproveitou o discurso para elogiar Maria Silvia. “O BNDES mudou no meu governo. A presidente Maria Sílvia moralizou o BNDES. Botou ordem na casa. E tem meu respeito e meu respaldo para fazê-lo! Assim como Pedro Parente o fez na Petrobras. Estamos acabando com os velhos tempos das facilidades aos oportunistas. E isso, meus amigos, incomoda muito”, declarou o presidente na ocasião.

A saída de Maria Silvia Bastos do comando do BNDES acontece na mesma semana em que o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), leu o requerimento de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar empréstimos promovidos pelo banco público no programa de internacionalização de empresas.

Maria Silvia Bastos permaneceu no cargo por pouco mais de um ano. Ela foi anunciada para a presidência do banco pelo Palácio do Planalto em 16 de maio de 2016, poucos dias após a posse de Michel Temer como presidente em exercício. À época da nomeação dela, o governo Temer era alvo de críticas por não ter nenhuma mulher ou negro entre os ministros.

Ex-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), ex-secretária de Finanças da Prefeitura do Rio de Janeiro e ex-diretora do próprio BNDES, Maria Silvia foi a primeira mulher a comandar o banco público.

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