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Limpa e confiável

Gestão eficiente e controle dos rejeitos radioativos garantem a segurança da operação no complexo de Angra dos Reis

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Os protocolos de segurança são rígidos – Imagem: Eletronuclear/MME
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Quando se fala em rejeitos radioativos, o que vem à mente de grande parte da população brasileira é um estigma negativo. O que poucos sabem, porém, é que todo material gerado pelas usinas nucleares é monitorado cuidadosamente em seus estágios de vida. Para se ter uma ideia do controle, é como se cada item apresentasse seu próprio CPF.

Mesmo assim, ao contrário da pessoa física que pode circular livremente por aí com seu documento de identificação, os rejeitos radioativos ficam em um só lugar e jamais saíram da área controlada na Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), em Angra dos Reis, em mais de 40 anos de trabalho. Os protocolos de segurança vão além e eles recebem um armazenamento apropriado, a depender das especificidades, garantindo que a população e o meio ambiente não corram quaisquer riscos.

Na CNAAA, os rejeitos radioativos de baixo e médio níveis de radiação estão armazenados em depósitos iniciais, podendo ficar próximos à superfície da terra, de acordo com normas estabelecidas pelo órgão fiscalizador, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Entre as classificações, aqueles rejeitos denominados como compressíveis são compostos de luvas, sapatilhas e macacões, entre outros itens, que são picotados e prensados em tambores metálicos de 200 litros. Já aqueles não compressíveis podem ser peças metálicas em geral e são acondicionados em caixas também metálicas de 1,2 mil litros e imobilizados em cimento.

Vale mencionar que não se trata de soluções definitivas para o acondicionamento desses materiais, uma vez que tal responsabilidade compete à CNEN, que desenvolve um projeto de construção do Depósito Final de Rejeitos Radioativos.

Nos últimos dez anos, a geração média anual de rejeitos radioativos de Angra 1 é de 52 metros cúbicos, enquanto a de Angra 2 é de 12 metros cúbicos. Essa quantidade é totalmente administrável e, como falado anteriormente, o cuidado com cada item é uma máxima para a empresa. Sabemos onde cada rejeito se encontra e promovemos o devido acondicionamento, ao contrário de outras fontes de geração de energia que emitem em larga escala gases de efeito estufa, que não podem ser “guardados” e são despejados na natureza.

Uma usina a carvão emite, por exemplo, 820g/kWh de dióxido de carbono, podendo chegar ao dobro, dependendo da planta. Em contrapartida, uma usina nuclear emite apenas 12g/kWh. Fazendo uma comparação, Angra 1 e 2, juntas, gerando 14,5 bilhões de kWh em um ano, emitem 174 mil toneladas de CO² em 12 meses. Uma usina a carvão com a mesma produção emite 11,9 milhões de toneladas do gás poluente. Ou seja, uma usina a carvão geraria, nesse contexto, 11,7 milhões toneladas de CO² a mais. Seria necessário plantar 586 milhões de árvores para compensar o dano, em cerca de 1 milhão de hectares. Essa diferença, acumulada durante 25 anos, seria equivalente a toda a área do estado de São Paulo.

As emissões de CO² nas usinas a carvão são quase 70 vezes maiores

Após tais explicações, o leitor pode estar se perguntando onde ficam os elementos combustíveis utilizados por Angra 1 e 2. Mas sobre o tema cabe a ponderação de que, neste caso, o assunto muda de figura. Os combustíveis usados – pastilhas de urânio enriquecido – não são considerados rejeitos ou lixos radioativos, como popularmente são chamados. Isso porque, diferentemente dos rejeitos de baixo e médio níveis de radiação, os elementos combustíveis poderão ser reciclados no futuro.

Sim, mesmo depois de servir como fontes no processo de geração de energia elétrica, as pastilhas de urânio possuem capacidade para uma reutilização. Pensando nisso, a Eletronuclear instalou, também na Central Nuclear, a Unidade de Armazenamento Complementar a Seco de Combustível Irradiado (UAS). Após passar pelo processo de resfriamento em piscinas dentro das usinas, o combustível é transferido para a UAS, localizada fora dos edifícios de Angra 1 e 2, ficando dentro de canisters com 5,3 metros de altura e 2,0 metros de diâmetro.

Os canisters são armazenados dentro de Hi-Storms, que são cilindros fabricados em aço e concreto medindo 6,0 metros de altura e 3,5 metros de diâmetro. Pesam cerca de 200 toneladas cada um. O tipo de armazenamento utilizado na UAS é similar ao implantado em cerca de 70 sítios norte-americanos, sem qualquer registro de incidentes. O projeto desse sistema garante a segurança em casos de terremotos, tornados e inundações, entre outros acidentes postulados.

Trata-se de uma medida capaz de dar segurança ao armazenamento, enquanto o País ganha tempo para adquirir a tecnologia necessária para reciclagem. Nações como Japão e França já fazem isso. Dessa forma, destacamos que a indústria nuclear como um todo precisa falar sobre a temática. Além do mais, não somente a geração de energia elétrica é capaz de gerar resíduos radioativos. Precisamos trazer à tona as possibilidades presentes e futuras e os obstáculos enfrentados pelo setor.

Em vez de ser vista como fonte de preocupação, devemos aproveitar todos os benefícios da energia nuclear, que, além de ser um caminho viável para o fornecimento de energia limpa e confiável, também detém vasta expertise em tecnologias para lidar com seus desafios, como o armazenamento dos materiais radioativos. •


*Júlio Cesar dos Santos é coordenador do projeto da UAS da Eletronuclear. John Wagner Amarante é chefe do Departamento de Rejeitos

Publicado na edição n° 1315 de CartaCapital, em 19 de junho de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Limpa e confiável’

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