Economia

Levy fica fora de reunião com centrais sindicais

Símbolo do ajuste fiscal, titular da Fazenda foi excluído de encontro sobre mudanças no seguro-desemprego e abono salarial. Posições estão radicalizadas

Levy fica fora de reunião com centrais sindicais
Levy fica fora de reunião com centrais sindicais
Marcha da Classe Trabalhadora em São Paulo, em abril de 2014: as centrais sindicais não aceitam o ajuste fiscal iniciado por Levy
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O Palácio do Planalto marcou uma reunião com dirigentes das centrais sindicais para a segunda-feira 19 a fim de discutir as mudanças de alguns direitos trabalhistas anunciadas em dezembro. A aprovação do pacote no Congresso será um teste sobre a disposição do governo para levar adiante o prometido “ajuste fiscal”. Símbolo da austeridade, Joaquim Levy ficará de fora do encontro, apesar de o Ministério da Fazenda ter sido o idealizador das medidas, ainda na gestão Guido Mantega.

A bancada governista terá os ministros Miguel Rossetto (Secretaria Geral da Presidência), Carlos Gabas (Previdência), Manoel Dias (Trabalho) e Nelson Barbosa (Planejamento), todos com algum traquejo no trato com líderes sindicais. Os dois primeiros são sindicalistas de origem. Dias é do PDT, partido de raiz trabalhista. Barbosa é antigo colaborador de governos e campanhas do PT, outra legenda trabalhista.

Pelo currículo (ex-FMI e ex-sistema financeiro) e visão econômica conservadora, Levy não inspira simpatia nos sindicalistas. Nem parece se importar com isso. Em entrevista no fim de 2014, dada já na condição de escolhido para a Fazenda, defendeu legalizar as terceirizações, ideia rejeitada pela maioria das centrais.

A exclusão de Levy desagradou ao menos um dos ministros escalados para encarar os sindicalistas. A reunião tem tudo para ser tensa e terminar em impasse. Em conversas prévias para definir a estratégia de atuação tanto entre governistas quanto entre sindicalistas, as posições radicalizaram-se.

A bancada de Brasília vai rejeitar qualquer proposta de alterar as novas regras de seguro-desemprego, abono salarial, pensão por morte e auxílio-doença. Quer evitar ter de negociar duas vezes. Dificilmente o pacote será aprovado pelos parlamentares sem concessões do governo.

Os ministros tentarão convencer os sindicalistas de que é melhor aceitar o pacote e, com isso, ajudar na melhora dos rumos da economia. Do contrário, a situação pode piorar e, assim, fragilizar os trabalhadores perante o mais conservador Congresso dos últimos tempos.

Articulador da reunião, Miguel Rossetto disse em café da manhã com jornalistas na terça-feira 13 que os ajustes são “normais” e destinados apenas a corrigir distorções. Não há planos de um corte generalizado de gastos sociais. “Todos os programas sociais serão mantidos”, afirmou. Por iniciativa dele, o encontro será em São Paulo, em deferência às centrais, cujas sedes situam-se ali.

Em reunião na terça-feira 13, dirigentes das entidades decidiram cobrar a revogação do pacote. E já convocam dois protestos, para os dias 28 de janeiro e 26 de fevereiro. Em documento conjunto, dizem que “as medidas, além de atingirem os trabalhadores e trabalhadoras, vão na direção contrária da estruturação do sistema de seguridade social, com redução de direitos e sem combate efetivo às irregularidades que teriam sido a motivação do governo para adotá-las”.

O abono salarial era devido a quem trabalhava um mês, agora só valerá para quem tiver ao menos seis meses de serviço. No seguro-desemprego, a carência pulou de seis para 18 meses. A pensão por morte exigirá um mínimo dois anos de contribuição e de casamento. O auxílio-doença terá um teto equivalente à média das 12 últimas contribuições ao INSS. Ao dificultar a obtenção dos benefícios, o governo espera economizar 18 bilhões de reais por ano.

O Planalto enfrentará dificuldades extras para emplacar o pacote, graças ao calendário. Algumas centrais sindicais têm eleições previstas para este ano de escolha de novas diretorias. É o caso da CUT, a maior do País, e da UGT. Caso se mostrem dóceis nas negociações do pacote, a chance de vitória de candidatos de oposição aumenta. Além disso, o prazo para deputados e senadores votarem o pacote terminará bem próximo do Dia do Trabalho.

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