Economia
Justa homenagem
Um dos mais influentes pensadores do País, Luiz Gonzaga Belluzzo vira professor emérito da Unicamp


Em decisão unânime, o Conselho Universitário da Unicamp concedeu o título de professor emérito ao economista Luiz Gonzaga Belluzzo, consultor editorial e colunista de CartaCapital. A distinção é conferida por entidades de ensino a professores aposentados que atingiram alto grau de projeção no exercício de sua atividade acadêmica. A homenagem ocorreu na sexta-feira 2.
Trata-se da primeira titulação do gênero para um professor do Instituto de Economia. Uma comissão especial formada pelos professores Luciano Coutinho, Eros Grau e Leda Paulani identificou “quatro grandes razões” para aprovar a entrega do título a Belluzzo: 1. Intensa contribuição como economista político e pensador da tradição da economia política e das suas teorias a respeito do desenvolvimento do capitalismo contemporâneo. 2. Destacado papel na análise macroeconômica e das políticas macroeconômicas contemporâneas. 3. Participação relevante no debate público sobre as sociedades modernas. 4. Importante contribuição na formação de economistas e de profissionais de destacada atuação acadêmica.
O diretor do Instituto de Economia da Unicamp, André Biancarelli, sublinha o fato de Belluzzo ser um dos responsáveis pela criação do Instituto de Economia e de ter compreendido o desafio da estruturação de uma escola crítica, alternativa, com viés progressista, no momento mais difícil da ditadura. “A criação do Instituto de Economia foi uma obra acadêmica e intelectual notável e um feito político de grande envergadura e coragem, além de ser um projeto intelectual ousado, exitoso e influente.”
A titulação, acredita Belluzzo, tem muito a ver com sua participação na construção da Unicamp e do IE. “Quando chegamos lá, não havia cidade universitária, trabalhávamos no meio da cidade, em alguns prédios alugados. Ao me conceder o título de professor emérito, a Unicamp me escolheu para reconhecer o trabalho coletivo do Departamento de Economia Política e Social, o Depes, que deu origem ao Instituto de Economia.”
Não se trata, ressalta, de falsa modéstia, mas de reconhecimento do caráter social da produção do conhecimento. “O pensamento, as visões e a construção das concepções são uma troca de ideias que as pessoas, com frequência, não reconhecem. Eu devo muito ao João Manuel Cardoso de Mello, à Maria da Conceição Tavares, ao Luiz Antonio de Oliveira Lima, que nem era da Unicamp, com quem acabei lendo de maneira muito interessante a Teoria Geral, de Keynes, e O Capital, de Marx. A troca de ideias é muito profícua. Quando falo que foi uma coisa coletiva, intersubjetiva, estou falando a verdade.” Belluzzo acrescenta: “Fui eu, sim, mas juntamente com os outros. Esta é a verdade definitiva. Devo muito a todos. Eu estava vendo o quanto de artigos escrevi em CartaCapital, devo muito à minha convivência com Mino Carta, desde o tempo da revista Senhor”.
Formado em Direito e Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo, pós-graduado em Desenvolvimento Econômico pela Cepal e doutor em Economia pela Unicamp, Belluzzo elaborou, em 1975, uma tese sobre Valor e Capitalismo, editada como livro em 1980. A obra foi o motivo principal para a sua inclusão na lista dos cem maiores economistas heterodoxos do século XX no Biographical Dictionary of Dissenting Economists, publicado em 2000. Após defender sua tese sobre um dos autores banidos pela ditadura, passou a ser procurado pela Operação Bandeirante, órgão de repressão instalado no II Exército, e teve de sair do Brasil. •
Publicado na edição n° 1262 de CartaCapital, em 07 de junho de 2023.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Justa homenagem’
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