Ipea reduz para 2,6% projeção para o crescimento do PIB em 2018

Instituto, vinculado ao governo federal, atribui o corte da estimativa para a expansão da economia à demora na aprovação da reforma da Previdência

Meirelles afirmou diversas vezes que a reforma da Previdência é a resposta para tirar o Brasil da crise

Apoie Siga-nos no

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) reduziu de 3,4% para 2,6% a projeção de crescimento da economia brasileira para 2018. O órgão, vinculado ao Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, avalia que o atraso na aprovação da reforma da Previdência é fator preponderante para o menor crescimento do PIB. Para este ano a projeção é de alta de 0,7%.

Há quase 10 meses na Câmara dos Deputados, a reforma da Previdência caminha para completar um ano sem nenhuma conclusão. Quando enviou a proposta ao Congresso, em dezembro de 2016, o governo esperava que as mudanças fossem aprovadas até maio deste ano. Quatro meses depois de terminado esse prazo, duas denúncias contra o presidente Michel Temer e dezenas de manifestações populares, o texto sequer saiu da Câmara. A reforma é prioridade absoluta da equipe econômica capitaneada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Leia mais:
Governo Temer dá início a caça às bruxas no Ipea
Consumo das famílias pode ser alívio para o PIB em 2017

O instituto tem um histórico de independência em relação ao governo federal, situação que foi alterada após a chegada de Michel Temer ao Palácio do Planalto. Há cerca de um ano, uma Nota Técnica do IPEA crítica à PEC 241, que congela os gastos públicos por 20 anos, desencadeou um clima de “intimidação” entre servidores e funcionários do órgão.

À época, o presidente da instituição, Ernesto Lozardo, ficou contrariado com o conteúdo e utilizou site e canais de comunicação da instituição para questionar publicamente as conclusões do estudo, assinado por funcionários do próprio órgão, algo inédito na história do Ipea. A situação levou a pesquisadora Fabíola Sulpino Vieira, uma das autoras da nota, a pedir exoneração do cargo.

Ao justificar a redução da projeção de alta do PIB em 2018 a Carta de Conjuntura nº 36 afirma que anteriormente o instituto trabalhava com projeções condicionadas a um cenário de aprovação mais rápida das reformas estruturais, em especial da reforma da previdência. “A agilidade na realização das reformas vislumbrada na edição anterior desta publicação tornou-se, porém, menos provável. Isso implica mudanças importantes em nossas projeções, que, agora, estão condicionadas a um cenário com incerteza mais elevada e, por conseguinte, com maior risco país e com o câmbio em trajetória oposta”, afirma o documento. “Esse aumento da incerteza tem impactos negativos sobre a retomada da economia, com destaque para o comportamento esperado dos investimentos”


O Instituto pondera, ainda, que como é comum ocorrer em períodos de retomadas cíclicas, esperava-se que os investimentos fossem um dos principais impulsionadores para o crescimento da demanda. Porém, esse componente do PIB é muito sensível ao nível de confiança sobre o desempenho futuro da economia. Com um quadro de incerteza mais elevada, as projeções passaram a apontar para variações mais modestas para o investimento.

Segundo o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, José Ronaldo de Souza Jr., embora mais modesta, a recuperação no ano que vem será puxada principalmente pelo consumo e pelo investimento, que tende a se recuperar. “Embora haja ociosidade em alguns setores, há necessidade de investimento em outros, especialmente infraestrutura”, estima Souza Jr.

A inflação sob controle tem papel fundamental no consumo, já que implica em aumento do poder aquisitivo. No documento divulgado nesta quinta-feira o IPEA estima que a inflação deve ficar abaixo do piso de tolerância da meta de 4,5%, em 2,9%. Para 2018, espera-se um aumento da inflação, mas ainda abaixo da meta: 4,2%.

Segundo Souza Jr, o brasileiro assalariado está tendo uma recuperação paulatina do rendimento ajudada pela queda da inflação. “No ano que vem o efeito deve ser contrário com a inflação um pouco maior. No entanto, a recuperação mais intensa da economia deve melhorar o rendimento”, afirma o economista.  

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.