Economia
‘Incompreensível’ e ‘sabotagem’: veja reações de entidades e políticos à alta da Selic
Ao justificar a decisão desta quarta, o Banco Central cita um ambiente externo ‘desafiador’, devido principalmente à conjuntura econômica nos EUA


A decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central de aumentar em um ponto percentual a taxa básica de juros recebeu críticas do setor produtivo e de políticos. Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou a decisão de elevar para 12,25% como “incompreensível e totalmente injustificada”.
Para a CNI, manter o ciclo de alta da Selic iniciado em setembro já configuraria um erro do Banco Central. “Intensificar esse ritmo, como a autoridade monetária escolheu, portanto, não faz sentido no atual contexto econômico“, afirmou a instituição.
Para a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), os juros elevados restringem o acesso ao crédito, dificultam investimentos e ampliam as despesas financeiras de famílias e empresas. “Com efeitos profundos em diversos setores produtivos do país, comprometendo sua sobrevivência”, disse. Apesar disso, a Abrainc avaliou que a medida foi justificada para reduzir a pressão inflacionária e alta do dólar.
Políticos também se posicionaram após a divulgação na nova taxa básica de juros. O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) classificou a alta como “sabotagem”. “Bons indicativos em diversas áreas e uma Selic que já está alta o suficiente. Vender dólar para regular o câmbio que é bom, nada. Sabotagem! Só puxam o Brasil pra trás”, disparou.
A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, subiu o tom contra o presidente do BC, Roberto Campos Neto. “É o fecho da trajetória nefasta do bolsonarista Campos Neto no BC, responsável pela criminosa sabotagem à economia do país nos dois primeiros anos do governo Lula”, disse.
“Sufocou a economia e o crédito e não cuidou da especulação com o câmbio, que era sua obrigação combater. Já vai tarde Campos Neto. Espero que seu terrorismo fiscal também seja suplantado daqui pra frente”, completou a deputada federal.
A decisão de elevar a taxa ocorre semanas após o Ministério da Fazenda apresentar um pacote fiscal para equilibrar as contas públicas. Entre as medidas anunciadas por Fernando Haddad estão a limitação do salário mínimo e mudanças no acesso ao abono salarial, na aposentadoria dos militares e na fiscalização do Bolsa Família e do BPC.
Há também uma proposta, sequer enviada ao Congresso Nacional, para isentar do Imposto de Renda quem recebe até 5 mil reais. A iniciativa gerou uma tensão no mercado financeiro e fez o dólar disparar.
Ao justificar a decisão desta quarta, o Banco Central cita um ambiente externo “desafiador”, devido principalmente à conjuntura econômica nos Estados Unidos. O argumento é que há dúvidas sobre os ritmos de desaceleração e desinflação — e, consequentemente, sobre a postura do Fed, o banco central americano.
Com a nova taxa, o Brasil tem a segunda maior taxa real de juros do mundo, segundo um monitoramento da consultoria MoneYou. Em primeiro lugar no ranking da taxa real, que desconta a inflação projetada para os próximos 12 meses, está a Turquia, com 13,33%, ante 9,48% do Brasil.
Completam a lista dos dez primeiros Rússia (8,91%), Colômbia (6,46%), México (5,75%), África do Sul (4,48%), Indonésia (4,19%), Filipinas (2,92%), Índia (2,43%) e Hong Kong (2,13%).
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