Economia

Herdeira da Disney critica a disparidade salarial na ‘dreamland’

A terra da fantasia perde seu título ao sofrer criticas de ‘arapuca neoliberal’

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Abigail Disney tem um dos sobrenomes mais conhecidos do mundo. E ela acaba de se tornar um espinho no pé de sua família famosa, quando se manifestou contra o enorme salário do executivo-chefe da Walt Disney Company, Bob Iger, e se viu no centro de um debate sobre a desigualdade e a riqueza excessiva.

Disney, 59 anos, ocupou manchetes depois de chamar de “louco” o pacote de pagamentos de Iger, de 66 milhões de dólares anuais. Em uma entrevista ao The Guardian, ela não se arrependeu e descreveu certas promessas financeiras da Walt Disney Company a seus funcionários como uma “arapuca neoliberal”. Pediu ainda que Iger renuncie à sua extraordinária remuneração.

Disney, sobrinha-neta de Walt, também desdenhou do fundador da Amazon, Jeff Bezos, pelo tratamento dado aos trabalhadores mal-remunerados da empresa, em uma longa conversa sobre a situação das grandes companhias.

Abigail Disney causou ondas em uma série de tuítes, ao condenar o pagamento de Iger por ter “aprofundado a desigualdade de riqueza”. O executivo ganhou 65,6 milhões de dólares no ano passado, 1.424 vezes o salário médio de um empregado da empresa. A companhia respondeu. Informou ter concordado em pagar um salário mínimo de 15 dólares por hora até 2021. Também disse pretender gastar 150 milhões de dólares em uma iniciativa educacional para oferecer estudos grátis em faculdades.

Seu alvo principal é o CEO Bob Iger, premiado com ganhos de 66 milhões de dólares em 2018. “Ninguém vale esse monte de dinheiro”

Disney considera a resposta da companhia “insultante”. “Eles dizem que pagam mais que o salário mínimo federal. Mas eles sabem que 15 dólares por hora não é suficiente para alguém viver em Anaheim, disse, em referência à cidade no sul da Califórnia na qual se localiza a Disneyland.

Em 2017, o The Guardian relatou que alguns funcionários da Disney eram obrigados a morar em seus carros por causa do baixo salário. À época, o escritório de coordenação assistencial do condado de Orange estimou que o salário por hora necessário para pagar uma moradia de um quarto de preço médio no condado era de 25,46 dólares, enquanto um estudo de 2018 da Coalizão Nacional de Habitação de Baixa Renda concluiu que o pagamento de 15 por hora não basta para alugar uma casa de dois quartos na maioria dos estados norte-americanos.

“Depois eles dizem que oferecem educação e mobilidade social. Isso é uma arapuca neoliberal”, afirmou a acionista da empresa. Ela acrescentou que a reação da companhia indica que os atuais empregos não são valorizados. “A suposição de que todo emprego é um emprego do qual você deve ascender significa que o emprego em que você começa não é para valer, ou não merece o respeito e a dignidade que qualquer outro merece.”

Disney, que salienta não falar em nome de sua família, encontrou-se no centro de uma discussão maior sobre a desigualdade de renda nos Estados Unidos, onde o 1% dos americanos mais ricos possui mais bens que a soma dos 90% das camadas inferiores.

Abigail Disney defende mais impostos para os riscos

Os pré-candidatos democratas à Presidência Elizabeth Warren e Bernie Sanders incluíram em suas propostas políticas para 2020 planos ambiciosos para taxar os americanos mais abastados. O “imposto aos ultramilionários” de Warren aplicaria uma alíquota adicional de 2% às famílias com valor líquido acima de 50 milhões de dólares, e de 3% àquelas com mais de 1 bilhão.

Como parte de um grupo de ricos chamado Milionários Patrióticos, Abigail Disney pede impostos mais altos sobre os abastados para diminuir essa lacuna. Segundo ela, oferecer programas educacionais em vez de salários dignos é um “insulto” a alguns trabalhadores que ganham salário mínimo que não poderiam aceitar a oferta de educação superior.

“Muitos deles são imigrantes que não receberam educação em seus países. E se você não for fluente em sua segunda língua como vai ascender nesses empregos? Por isso, é um conjunto de suposições realmente de classe média privilegiada”, afirma.Referências ao império dos desenhos animados de seu tio-avô são muitas no escritório da Disney em Nova York, onde Abigail dirige sua empresa de documentários, a Fork Films. Há um retrato de Pinóquio numa parede e noutra um desenho jocoso de “Mickey Mao”, enquanto uma placa da “Feminist AF” sobre sua mesa denota seu trabalho filantrópico. A entidade beneficente de Abigail, Peace is Loud, promove mulheres líderes em todo o mundo, e ela calcula ter doado 70 milhões de dólares a iniciativas beneficentes nos últimos 20 anos.

Crítica. Abigail Disney defende mais impostos para os ricos, sugere a Iger devolver parte dos rendimentos e classifica a política trabalhista da empresa de “arapuca neoliberal”

O avô de Abigail, Roy Disney, foi cofundador da Walt Disney Company com seu irmão animador, e ela herdou uma participação na riqueza da família, que valeria 500 milhões de dólares. Ela não participa da direção, mas disse ter “profunda lealdade” ao que a marca significa.A empresa defendeu o pagamento de Iger, que teria “entregado valor excepcional” aos acionistas. No mandato do CEO, o preço da ação subiu de 24 dólares em 2005 para 135, e a companhia está avaliada em aproximadamente 250 bilhões de dólares.Abigail, dona de ações da companhia, lucrou com essa valorização. Ela descreveu Iger como um “homem brilhante” que “merece ser bem recompensado”.

“Também acho que ele é um bom homem”, disse. Mas isso justifica um salário de 65,6 milhões?

“Ninguém neste planeta maluco vale esse monte de dinheiro.“

Os comentários de Disney ocorreram quando as lacunas de pagamentos entre CEOs e trabalhadores dispararam e o debate sobre riqueza extrema assume uma nova urgência. Um relatório dos sindicatos da Federação Americana de Trabalho – Congresso de Organizações Industriais descobriu que em 2017 os CEOs de grandes empresas ganharam 361 vezes mais que o trabalhador de produção médio, contra uma proporção de 42 para 1 em 1980 e 20 para 1 em 1950.

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