Economia

Mais conglomerados brasileiros nas aquisições internacionais

A maior participação das empresas daqui nos grandes negócios chama a atenção do mercado e chama as atenções para cá

A norte-americana United Fruit Company (UFC), entre 1899 e 1969, viveu de plantar bananas em terras das Américas do Sul e Central
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“Chiquita Bacana lá da Martinica
Se veste com uma
Casca de banana nanica”.

Mesmo os mais jovens devem conhecer a marchinha composta por João de Barro e Alberto Ribeiro, para o Carnaval de 1949, sucesso nas vozes de Emilinha Borba e Marlene, frequentes rivais para o trono de Rainha do Rádio.

O aggiornamento veio na década de 1970, por Caetano Veloso: “Eu sou a filha da Chiquita Bacana/Nunca entro em cana porque sou família demais/Puxei à mamãe/Não caio em armadilha/E distribuo banana com os animais”.

Essa sucessão de gerações faz sentido.

A norte-americana United Fruit Company (UFC), entre 1899 e 1969, viveu de plantar bananas em terras das Américas do Sul e Central, e exportá-las para os EUA e Europa. Ganhou muito dinheiro.

Em escala menor, fazia o mesmo com abacaxis, inclusive os políticos, produzindo além das doces frutas tropicais azedas ditaduras.

Foi vendida em 1970 e mudou a razão social para Chiquita Brands International.

Não sei se por revanche a malfeitos do passado a Chiquita acaba de receber uma oferta hostil. De brasileiros. Nação também bananeira, que em 2012 cultivou perto de 500 mil hectares e produziu sete milhões de cachos da fruta.

Caso é que o segundo maior banqueiro do mundo e um grande industrial da laranja se uniram para hostilizar a Chiquita. Querem comprar a empresa por US$ 615 milhões e assumir suas dívidas. Na parada, Joseph Safra e José Luis Cutrale.

A Chiquita, que não é tão chiquitita (fatura US$ 3 bilhões anuais), vinha negociando com a irlandesa Fyffes uma fusão que a levaria a um faturamento perto de US$ 5 bilhões.

De prima, refugou a solada brasileira. “Tão pensando o quê? No joelho não”, respondeu a matriz em Charlotte, na Carolina do Norte.

Como esse é um movimento que, vindo do Brasil, causa certa estranheza alhures, as folhas e telas cotidianas estrangeiras se mobilizaram para conhecer quem são esses corajosos brasileiros.

Financial Times e Wall Street Journal, respectivamente, foram atrás do recôndito das almas dos “Seus Zés” Safra e Cutrale.

As matérias, reproduzidas no Valor Econômico de 18 de agosto, pouco conseguiram. Confirmou-se o antes publicado sobre suas fortunas.

Safra, um judeu sefardita que aqui chegou com pouco mais de 20 anos e hoje tem fortuna calculada em US$ 16 bilhões. Talvez por isso informem ser homem silencioso e de pouca ostentação.

O “Rei da Laranja”, 68 anos, herdou do pai uma das maiores fortunas do país. Seu grupo tem conduta polêmica em contratos com citricultores. Talvez por isso a fama de avesso à publicidade e obsessivo com segurança.

A parceria supõe sustentar o projeto de diversificação da Cutrale, enroscada com a queda no consumo mundial de suco de laranja. O banco entra com o financiamento (US$ 1,25 bilhão) e a empresa acelera os novos empreendimentos, constituindo tradings para soja e café, além de logística portuária. Por que não bananas?

Crescem os casos de envolvimento de conglomerados brasileiros do agronegócio em aquisições internacionais.

A JBS é exemplo evidente. Em julho deste ano, adquiriu as operações da Tyson Foods, no México. Isto, depois de em 2009, com a aquisição da Pilgrim’s Pride e da Swift Co., tornar-se líder mundial em processamento de carnes.

Jorge Paulo Lehmann, considerado o homem mais rico do país, associou-se à Anheuser-Bush InBev e seu grupo passou a liderar o planeta cervejeiro. Fez mais: hoje controla o Burger King e a H.J. Heinz Co.

Mesmo no setor sucroenergético, não muito bem das pernas, a joint-venture Raízen (Cosan e Royal Dutch Shell) demonstra como se articula nosso agronegócio rumo à internacionalização.

Veem os leitores que, desta vez, “vista assim do alto”, a agropecuária parece ter chegado perto da estratosfera.

Será difícil, pois, encontrar lupa ou telescópio capaz de mostrar as repercussões de negócios construídos sobre uma base primária de alimentos, fibras e energia renovável, que conta muitos recursos naturais e humanos nem sempre fadados ao sucesso.

Para onde deveria, então, caminhar o necessário pessimismo? Na próxima coluna, se eu não mudar de ideia. 

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