General Park, o pai da moderna Coreia do Sul

Por trás do milagre coreano, da criação da cultura da inovação, da montagem dos grandes grupos, houve mudanças sociais e culturais fundamentais, pouco analisadas pela literatura econômica

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Por trás do milagre coreano, da criação da cultura da inovação, da montagem dos grandes grupos, houve mudanças sociais e culturais fundamentais, pouco analisadas pela literatura econômica. E que demonstram que processos de desenvolvimento não consistem meramente em melhorar regras econômicas.

O paper “Processos de desenvolvimento na América Latina e no leste da Ásia: notas sobre promessas e dificuldades da perspectiva comparada”, de Reginaldo C. Moraes (Unicamp, 2009) é um bom roteiro. Especialmente na descrição da saga do general Park, o grande construtor da moderna Coreia do Sul.

Park dirigiu a economia coreana para a exportação, e não para o consumo interno. Paradoxalmente, valeu para isso sua formação, sua afinidade com pequenos agricultores e a visão negativa em relação à indústria e ao estilo de vida urbano, luxuoso e supérfluo, explica Moraes.

Moraes classifica essa postura de “tenentismo”, uma mescla de Vargas, Geisel e Lamarca.

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A formação de Park foi na Academia Imperial Japonesa. No poder, preparou uma política de desenvolvimento agrário. O desenvolvimento industrial vinha à reboque, amparado na produção de insumos agrícolas.


No início dos anos 1960, houve fortes mudanças sociais, políticas e de classes na Coreia do Sul, em função do novo enfoque dado por Park à política econômica. Seus principais aliados foram as classes rurais, agricultores familiares e pequenos empresários agrícolas, esteio da classe média rural.

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O grande programa de Park, que definiu dali para frente não apenas o modelo econômico mas como a própria cultura coreana, foi o Saemaul Undong (Nova Comunidade), um conjunto de princípios de política econômica, social e moral.

Seu início foi nas comunidades rurais. Depois, transbordou para as cidades.

O foco central era mudar os padrões culturais das comunidades rurais, transformando-as em comunidades mais empreendedores, mais abertas às mudanças e mais sensíveis a estímulos e oportunidades.

Pretendia-se promover a ação coletiva direcionada à construção de infraestrutura – especialmente necessária para o desenvolvimento do mundo agrário.

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Documento oficial, de 1975, resumia o programa assim:

“O Saemaul Undong é um movimento de desenvolvimento comunitário que objetiva o melhoramento da vida econômica, social e cultural das pessoas e de suas condições ambientais, através da inculcação de atitudes e valores de diligência, cooperação e auto-ajuda, do cultivo de lideranças de base e da ativa participação voluntária das pessoas na comunidade. Assim, é um movimento social abrangente que é parte integral do esforço nacional de modernização para atingir o desenvolvimento sustentável e equilibrado da nação”

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O documento tem três eixos: Desenvolvimento Espiritual (mudança de atitudes), Desenvolvimento Econômico (modernização da agricultura e industrialização) e Desenvolvimento Social (mudança cultural).

No primeiro bloco, estimula os valores de justiça, honestidade e autoconfiança. No segundo, tem por objetivos o aumento da renda, a inovação e a mecanização. No terceiro, a universalização da eletrificação, equipamentos culturais no domicílio e nas comunidades.


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