Economia

EUA tentam sabotar a aproximação entre China e Europa

Com a economia enfraquecida e envolvido em conflitos, o país de Trump parte para o ataque aos aliados europeus

(Foto: Johannes Gisele/AFP)
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A desaceleração das economias dos Estados Unidos e da Europa prevista para este ano pelo Fundo Monetário Internacional e a projeção de que a China deverá continuar crescendo a taxas significativas levou alguns países europeus a buscarem no estreitamento das relações econômicas com a potência asiática uma saída para não atrelar seu destino às iniciativas dos EUA, segundo análise de especialistas do Instituto Chongyang Para Estudos Financeiros da Universidade de Renmin, na China. O FMI prevê que o crescimento da Europa deverá cair de 2,1 em 2018 para 1,6% em 2019 e o dos Estados Unidos de 2,9% para 2,3% no mesmo período, enquanto a China deverá manter o crescimento no patamar alcançado no ano passado, de 6,6%.

A Itália tornou-se o primeiro país do G7 a assinar neste ano um acordo com as Novas Rotas da Seda (Belt & Road Initiative ou BRI, na sigla do nome oficial), plano gigantesco de infraestrutura e transporte terrestre e marítimo concebido por Pequim para ampliar as conexões e os negócios da China com a Ásia, a Europa e as Américas. A Suíça, mesmo não sendo integrante da União Europeia, fez o mesmo. Iniciativas anteriores incluem o apoio do Reino Unido à criação pela China do Banco Asiático de Investimento em Infra-estrutura, gesto acompanhado por Alemanha, França e outros países europeus e ainda a formação do grupo 16 + 1 em 2017 e integrado pelo país oriental mais 11 integrantes da União Europeia e cinco países balcânicos (o grupo inclui por exemplo a Polônia, a Hungria e a República Tcheca).

Críticas à aproximação sino-europeia multiplicaram-se em publicações como  a revista Foreign Affairs e o próprio governo dos EUA exerceu forte pressão para países europeus afastarem a empresa de telecomunicações da China Huawei do desenvolvimento da tecnologia 5G na UE. O problema, dizem os pesquisadores, é que os EUA têm pouco de positivo para oferecer em troca da cooperação dos países europeus. “Os Estados Unidos não só crescem menos rapidamente que a China como as medidas protecionistas do governo Trump tornam as opções estadunidense ainda menos atraentes”, acrescentam.

A política externa dos EUA em relação a outros países além da China também prejudica a Europa. O Irã, por exemplo, não é um grande mercado dos Estados Unidos, mas é potencialmente significativo para a Europa. A União Europeia pretendia beneficiar-se da suspensão no governo Obama das sanções previstas no acordo sobre armas nucleares firmado com o Irã, mas foi prejudicada pela retomada unilateral das punições pelo governo Trump. Os EUA também estão tentando fazer com que a Alemanha abandone seu gasoduto Nord Stream 2, sob o Mar Báltico, que lhe garante o fornecimento de gás russo sem interferência de países como a Ucrânia e cujo cancelamento tornaria a Alemanha mais dependente do caro suprimento estadunidense de gás líquido.

Outras políticas dos EUA têm efeitos menos diretos, mas também prejudiciais à Europa. A ação militar dos EUA contra o Iraque, a Líbia e o envolvimento na guerra civil na Síria causaram um enorme êxodo de refugiados provenientes do Oriente Médio, criando problemas significativos para países europeus.

A disputa Estados Unidos versus China acirrou o  conflito político nos países europeus entre aqueles que buscam melhorar a situação econômica de seu país, inclusive por meio da cooperação com a China, e os que preferem ceder às demandas dos EUA mesmo que isso prejudique a economia de seu país e portanto sua estabilidade política. Diante desse quadro os EUA mudaram sua política tradicional de apoio geral à União Europeia e assumiram a intervenção ativa em assuntos domésticos dos países da Europa. Mostram, por exemplo, uma atitude de hostilidade aberta à chanceler da Alemanha Angela Merkel e atacam a decisão do governo britânico de permitir à Huawei a participação no desenvolvimento da tecnologia 5G no país, além de tentarem bloquear a participação da Itália nas Novas Rotas da Seda.

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