Economia

Epopeia amazônica

A logística para manter ativos os bancos 24Horas, onde a população prefere sacar na boca do caixa

Criatividade. O banco contêiner é uma das tantas variações para atender à demanda. Para Silva, não há tempo ruim quando se trata de garantir o serviço - Imagem: Igor Mota
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Quando a ponte sobre o Rio Moju caiu, em 6 de janeiro de 2019, um sábado, e isolou a população local, a prefeitura de Belém do Pará entrou em contato com a TecBan para providenciar serviços bancários essenciais, em particular o saque de dinheiro. Em 24 horas, as equipes de Jorge Luís da Silva, gerente-executivo de Operações, instalaram um caixa automático no Porto de Arapari, então a principal, se não a única, ligação do município de Moju com a capital. “Eram tantos barcos que ficavam enfileirados e o povo ia passando de um para outro, como numa ponte, para desembarcar”, recorda Silva. A máquina continua no mesmo lugar, apesar de o Porto de Arapari ter voltado ao movimento normal, com a maioria do tráfego de veículos a atravessar a alça que levou três meses para ser reparada, devido ao mau tempo na região.

Dois anos depois, o apagão de Macapá, em novembro de 2020, obrigou a empresa a transferir os terminais 24Horas para pontos próximos de geradores, entre eles o aeroporto da cidade, onde cinco ATMs foram instaladas a toque de caixa. Os outros 32 caixas da cidade foram remanejados para os bairros da capital do Amapá, de acordo com o rodízio de fornecimento da energia instaurado na cidade. “Como a falta de luz interrompeu as transmissões de rádio e televisão, usamos carro de som para informar à população onde havia caixas 24Horas”, conta Silva.

Na tristeza e na alegria, a movimentação de caixas não é novidade na região: todo ano, em Manaus, quando o Rio Negro enche, os equipamentos das ruas que margeiam o rio são removidos para ­áreas secas, e, quando tem festa, como o Círio de Nazaré, com seus 15 dias de festejos e 13 procissões oficiais, arma-se um plano de contingência, que inclui armazenar peças de reposição em estabelecimentos parceiros nos trajetos dos fiéis. Experiência não falta: o Carnaval em Salvador e nas estreitas ruas coloniais de Olinda demanda esquemas de abastecimento e manutenção emergencial semelhantes nas vias mais agitadas para garantir o dinheiro na mão da população.

A tecnologia completa 40 anos e tem sido essencial nos rincões da floresta

Apesar da digitalização dos meios de pagamento, ao menos 60% das compras na região são feitas em dinheiro, segundo as estimativas da TecBan, confirmadas por relatos de comerciantes. As cidades de Abaetetuba, Ananindeua e Barcarena, nas quais predominam famílias com renda média de 1,8 mil a 2,26 mil ­reais, responderam por pouco mais de 1 trilhão em saques nos caixas 24Horas, enquanto Belém, com renda média de 6,22 mil reais, registrou 2,6 trilhão de reais no primeiro semestre deste ano. “O cliente gosta de sentir o dinheiro na mão, gosta de mostrar que tem dinheiro”, afirma o gerente do atacarejo Mais Barato, de Ananindeua, Elrik Costa Coelho. Segundo ele, cerca de 90% do dinheiro vivo é usado para pagar compras no supermercado, mesmo quando se trata de comerciantes da região. “Com dinheiro na mão, eles pedem desconto”, complementa Vanderlei Conceição Ferreira, gerente do concorrente Colina, que reclama por não conseguir mais ATMs para seu estabelecimento, principalmente um caixa reciclador, que aceita depósitos.

A máquina recicladora é um dos novos produtos que a TecBan desenvolveu para lidar com a tortuosa logística de circulação de numerário, feita pelas empresas de carros-fortes. O caixa permite a reutilização das notas depositadas por varejistas ou pessoas físicas para os saques de outros clientes, o que aumenta a eficiência da cadeia em termos de custos operacionais e economiza tempo, além de aumentar a segurança. “Antes, eu contratava o carro-forte para retirar o numerário quatro vezes por semana. Agora, é uma vez, no máximo, no período de maior movimentação na loja, geralmente do dia 27 ao dia 10 do mês seguinte”, afirma Steffany Lima, do atacarejo Maxi Nunes, de Abaetetuba, cidade que fica a uma hora e meia de balsa, mais uma hora de carro, de Belém.

No posto de serviços Carvalho, na principal via da cidade, onde foi instalada uma das duas unidades móveis do Banco 24Horas – um contêiner adaptado, com três caixas recicladores, equipado com gerador e comunicação por satélite –, os próprios frentistas depositam a féria, relata o proprietário, Ernani Neto. “O movimento não para. Eu chego às 6 da manhã, quando os ribeirinhos começam a se dirigir para o mercado na cidade e saio às 8 da noite, e o tempo todo tem gente no contêiner”, assegura Neto, cujo movimento, “por baixo”, aumentou 5% desde a instalação do equipamento.

O terminal reciclador, que aceita saques e depósitos, atenua os entraves ao abastecimento de dinheiro

Ao acolher depósitos, a máquina faz a contagem, identificação e distribuição das notas por seu valor nas gavetas correspondentes e devolve aquelas que não são reconhecidas pelos sensores. Em todo o País, são 3,2 mil caixas recicladores, dos quais cem estão no Pará. É pouco, ante um parque de 24 mil caixas eletrônicos espalhados por cerca de mil municípios, com 152 milhões de habitantes (71% da população brasileira), e dos quais foram sacados 369 bilhões de reais em 2021. “Somos responsáveis pela movimentação de ­duas vezes e meia o dinheiro em circulação no Brasil, o que equivale a 5% do PIB, todos os anos”, afirma Silva. “É importante para acelerar a circulação do numerário, porque traz tráfego e renda para toda a comunidade e amplia a inclusão financeira, principalmente nas áreas remotas.”

O faturamento bruto do Banco ­24Horas cresceu 4,5% em 2021 sobre 2020, para 2,9 bilhões de reais, equivalente a 90% dos 3,2 bilhões de reais de faturamento bruto consolidado do grupo, que agrega a transportadora de valores TBForte, a operadora especializada em gestão de serviços e infraestrutura de telecomunicações ­TBNet e a Serviços Integrados TecBan, fornecedora de soluções especializadas em logística, armazenagem, operação, manutenção e revitalização de equipamentos. A questão para a TecBan, cujo negócio principal é a circulação de moeda desde a sua fundação, há exatos 40 anos, em agosto de 1982, é a concorrência dos meios de pagamento digitais que proliferam e crescem exponencialmente. Pesquisa anual da Federação Brasileira de Bancos sobre tecnologia e transações bancárias, divulgada em julho, mostra que operações por mobile e internet banking representaram 70% dos 119,5 bilhões de transações em 2021, crescimento de 12% sobre 2020, enquanto as operações em caixas eletrônicos caíram 11%. O Pix, por sua vez, registrou crescimento de 809% em número de usuários que realizam mais de 30 pagamentos por mês, enquanto a base geral de pessoas cadastradas cresceu 72%. Já a base de usuários que receberam mais de 30 Pix mensais avançou 464%. O levantamento detectou que o ritmo de expansão de recebimento de mais de 30 Pix por mês em pessoas físicas é maior do que em pessoas jurídicas, o que sinaliza a oportunidade de expansão da ferramenta de pagamentos instantâneos em comércios e serviços, aponta a pesquisa da Febraban.

Hábito. Na Amazônia, 60% das compras são feitas com dinheiro vivo – Imagem: Igor Mota

Neste cenário, a TecBan vislumbra três caminhos para o futuro, sustenta o diretor de Autoatendimento, Luiz Stefani: aumentar a eficiência e acelerar a transformação dos canais físicos dos bancos, potencializar o ecossistema digital a partir da infraestrutura bancária para outros, compartilhando suas multiconexões e segurança, e viabilizar o Open Banking por meio do caixa eletrônico e outras conexões. “Somos especialistas em tecnologia e compartilhamento e podemos garantir a inclusão de pessoas não digitalizadas.”

Por esta razão, a Tecban desenvolveu o Totem Banco24Horas, modelo compacto no qual o usuário imprime um QR Code para sacar dinheiro no caixa do estabelecimento comercial parceiro, e o ATMO, terminal de ponto de venda (a maquininha de cartão) multibiométrico com as mesmas funções do totem, acrescido de aplicações para o Open Banking, de modo que o cliente possa acessar mais de uma conta bancária nos dispositivos 24Horas. Os investimentos no desenvolvimento de seus produtos somaram 4 bilhões de reais na última década e possibilitaram a realização de 2,1 bilhões de transações anuais – os saques representam a metade das operações. Os outros 50% se distribuem pelo leque de 90 tipos diferentes de serviços disponíveis nos ATMs da TecBan, de recarga de celular a compra de vale-presente, passando por interface para fazer prova de vida. •


*O jornalista viajou a convite da TecBan.

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1222 DE CARTACAPITAL, EM 24 DE AGOSTO DE 2022.

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