Economia

Entenda como investir e as vantagens dos principais índices de renda fixa

Eles te protegem da inflação e produzem bons ganhos no longo prazo

Imagem: iStock
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Com a inflação em alta no mundo e especialmente no Brasil, muitos se perguntam como proteger o dinheiro para o futuro. Embora a tarefa possa soar complexa, há algumas opções muito simples, baratas e seguras para fazer isso sem correr grandes riscos. Em alguns casos, o retorno chega a ser de 5,6% a mais que o IPCA, índice oficial de inflação brasileira, investindo em um cesto de títulos do Tesouro Nacional.

Além do popular CDI, existem ainda dois índices calculados pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). O primeiro, chamado de IMA-B5, reflete o rendimento de títulos do tesouro nacional atrelados a inflação, com vencimento em até cinco anos. O segundo, o IRFM, é composto por títulos pré-fixados do tesouro nacional, com vencimentos diversos.

Deixando de lado o “economês”, o que é importante entender é que esses índices, cada um a sua maneira, produzem retornos historicamente superiores a inflação e podem ser facilmente acessados por qualquer pessoa com conta em corretora. Para se ter uma ideia dos valores, uma equipe da Portfel Consultoria processou dados de rendimento desses ativos desde o seu lançamento até o início de 2022, para ver como se saíram.

Para o levantamento, foram considerados períodos que foram sendo ampliados de 12 em 12 meses, indo até onde os dados estavam disponíveis, e anualizando esses retornos para se ter uma ideia do quanto eles tendem a produzir de retorno. O CDI, mais longo do conjunto, começa em janeiro de 1995, o IRFM em janeiro de 2001 e o IMA-B5 em janeiro de 2004.

Na tabela abaixo, é possível ver o rendimento total de cada um dos índices nos períodos acumulados, com valores anuais. Salvo nos últimos cinco anos, todos os três derrotam com alguma folga o IPCA. Isso é especialmente o caso do IMA-B5, composto apenas de títulos que pagam um prêmio, garantido pelo Tesouro Nacional, sobre o valor da inflação.

Ano de início Período (anos) IMA-B5 IRFM CDI IPCA
2021 1 ano 4,51% -2,02% 4,39% 10,05%
2020 2 anos 6,31% 2,21% 3,57% 7,24%
2019 3 anos 8,42% 5,31% 4,36% 6,25%
2018 4 anos 8,79% 6,62% 4,87% 5,62%
2017 5 anos 9,54% 8,29% 5,86% 5,08%
2016 6 anos 10,53% 10,70% 7,17% 5,27%
2015 7 anos 11,22% 10,19% 8,02% 6,02%
2014 8 anos 11,30% 10,36% 8,36% 6,08%
2013 9 anos 10,29% 9,45% 8,33% 6,06%
2012 10 anos 10,94% 9,93% 8,34% 6,03%
2011 11 anos 11,37% 10,33% 8,63% 6,08%
2010 12 anos 11,51% 10,46% 8,72% 6,06%
2009 13 anos 11,76% 10,61% 8,81% 5,93%
2008 14 anos 11,90% 10,84% 9,06% 5,92%
2007 15 anos 11,97% 10,83% 9,24% 5,83%
2006 16 anos 12,53% 11,29% 9,59% 5,66%
2005 17 anos 12,50% 11,76% 10,13% 5,66%
2004 18 anos 12,76% 11,96% 10,45% 5,76%
2003 19 anos 12,76% 11,09% 5,94%
2002 20 anos 13,11% 11,48% 6,27%
2001 21 anos 13,34% 11,75% 6,33%
2000 22 anos 12,00% 6,32%
1999 23 anos 12,54% 6,43%
1998 24 anos 13,16% 6,22%
1997 25 anos 13,60% 6,18%
1996 26 anos 14,09% 6,31%
1995 27 anos 15,34% 6,87%

Com base nessa tabela, podemos tirar algumas conclusões bastante interessantes. Considerando os períodos incrementais de 12 meses, indo até 2004, o IMA-B5 produziu um retorno médio real (acima da inflação) de 4,08%. Se considerarmos uma média ponderada, onde anos mais antigos tem um peso mais alto, essa diferença sobe para 5,30% ao ano, simplesmente investindo em um índice de títulos do Tesouro Nacional.

O mesmo vale para o CDI, que tem a série mais longa, e produziu na média uma diferença de 2,99% em relação aos valores da inflação. Levando para uma média ponderada, que alcança os 27 anos do período, esse rendimento passa para a ordem de 4,61% ao ano, para uma taxa considerada livre de risco. O IRFM, por sua vez, gerou uma média de 3,13% reais ao ano, com uma média ponderada de 4,48% ao ano desde 2001.

Na tabela abaixo, trazemos os diferenciais de rendimento anualizados; em seguida, os valores das médias simples, ponderada e ponderada por períodos superiores a cinco anos.

Ano de início Anos CDI – IPCA IMA-B5 – IPCA IRFM – IPCA
2021 1 -5,14% -5,03% -10,97%
2020 2 -3,42% -0,87% -4,69%
2019 3 -1,78% 2,04% -0,88%
2018 4 -0,71% 3,00% 0,95%
2017 5 0,74% 4,24% 3,05%
2016 6 1,80% 5,00% 5,16%
2015 7 1,89% 4,90% 3,93%
2014 8 2,15% 4,92% 4,03%
2013 9 2,14% 3,99% 3,20%
2012 10 2,18% 4,63% 3,68%
2011 11 2,40% 4,99% 4,01%
2010 12 2,51% 5,14% 4,15%
2009 13 2,72% 5,50% 4,42%
2008 14 2,96% 5,65% 4,65%
2007 15 3,22% 5,80% 4,72%
2006 16 3,72% 6,50% 5,33%
2005 17 4,23% 6,47% 5,77%
2004 18 4,43% 6,62% 5,86%
2003 19 4,86% 6,44%
2002 20 4,90% 6,44%
2001 21 5,10% 6,59%
2000 22 5,34%
1999 23 5,74%
1998 24 6,53%
1997 25 6,99%
1996 26 7,32%
1995 27 7,93%
Cálculo CDI – IPCA IMA-B5 – IPCA IRFM – IPCA IMA-B5 – CDI IRFM – CDI
Méd. Pond. (+5 anos) 4,79% 5,56% 5,15% 2,73% 1,73%
Méd. Pond. (total) 4,61% 5,30% 4,84% 2,77% 1,66%
Média 2,99% 4,08% 3,13% 2,79% 1,24%

Entenda os riscos dos índices de renda fixa

Apesar dos retornos serem bem interessantes, é preciso entender que, como todo investimento, existem riscos atrelados a essas aplicações. Um índice, como nos três casos, nada mais é do que uma cesta de investimentos que visa refletir a performance de um mercado. No caso do CDI, trata-se de empréstimos de um dia entre bancos; no caso do IMA-B5, de títulos do tesouro atrelados a inflação, com vencimento máximo de cinco anos e no IRFM, de títulos do tesouro pré-fixado.

No caso do CDI, além dos rendimentos mais modestos, no curto ou médio prazo (até cinco anos), ele pode não conseguir vencer a inflação, como foi o caso recente. A queda forte nas taxas de juros limitou muito o retorno oferecido por esse índice, ao passo que a inflação subia com muito mais força – cenário que foi aliviado após o ciclo de aumentos da taxa Selic, que tende a render o mesmo que o CDI.

No caso do IMA-B5, uma eventual queda estrutural da inflação pode fazer com que os retornos totais do ativo sejam bem mais modestos. Afinal, ele entrega sempre algo acima da inflação, e se a inflação for muito baixa, o prêmio final será igualmente baixo. Já o IRFM oscila bem mais que o CDI e o IMA-B5, enfrentando períodos mais frequentes de rendimento negativo. Tudo isso deve ser levado em conta na hora de tomar uma decisão de investimento.

Entretanto, os três índices podem ser combinados numa carteira para produzir um retorno total que seja estável e entregue bons retornos no longo prazo – é a famosa diversificação. Além disso, é interessante notar que um índice sempre tende a ser uma opção superior a uma carteira feita por conta própria.

As vantagens incluem o grau de diversificação, vantagens fiscais, liquidez mais alta, custos mais baixos e, em especial, a certeza de que se está obtendo o grau máximo de retorno pelo mínimo de risco do mercado de renda fixa nacional. Não por menos, índices como o CDI e o IMA-B5 são considerados os benchmarks, ou rendimentos mínimos que um fundo precisa bater para se considerado de qualidade.

Como investir nesses índices?

Se você possui interesse em investir nesses índices, praticamente todos os bancos e corretoras oferecem produtos que pagam 100% do CDI, que seria o suficiente para, no médio e longo prazo, te proteger da inflação. Para o caso do IMA-B5 e do IRFM, as coisas ficam ligeiramente mais complexas e você precisará de uma corretora para acessar produtos listados em bolsa.

No caso, independente da corretora, você poderá buscar na bolsa por cotas dos ETFs (fundos listados que seguem um índice de referência) B5P211 e IRFM11, que seguem, respectivamente, o IMA-B5 e o IRFM. Cada um deles possui uma taxa de 0,2% ao ano, equivalente a cerca de 0,01% ao mês, sobre o valor investido. Para resgatar seu dinheiro, você simplesmente vende essas cotas e o dinheiro será enviado para a corretora.

É fundamental lembrar que para os ETFs de IMA-B5 e IRFM, você deveria privilegiar períodos de resgate mais longos para evitar ter que resgatar seu dinheiro com uma perda, pois os valores oscilam ao longo do dia. Caso você não tenha acesso a uma consultoria ou profissional de finanças, vale a máxima de equilibrar ambos com o CDI, que é bem mais estável.

Em períodos inferiores a um ano, é possível obter rendimentos negativos, da ordem de, por exemplo, -1% a -3%, embora isso não seja algo comum. Na tabela de referência, apresentada no início do texto, apenas o IRFM obteve rendimento negativo em 12 meses, com -2,11%. Em todo caso, se o objetivo for de resgatar apenas após alguns anos, você estará numa boa posição – e tende a ganhar muito mais do que na poupança.

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