Engenheiros do caos

O Brasil corre o risco de “reformar” o sistema tributário sem alcançar ricos e sonegadores

A primeira parte da reforma vai ater-se à simplificação, com um residual efeito distributivo. Haddad quer taxar lucros e dividendos, e fechar brechas à sonegação, mas depende da disposição de Lira – Imagem: Marcelo Camargo/ABR e Pedro Gontijo/Ag. Senado

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O presidente da Câmara, Arthur Lira, prometeu discutir e votar a primeira etapa da reforma tributária antes do recesso parlamentar. Até o fechamento desta edição, na manhã da quinta-feira 6, não estava claro se os deputados analisariam a proposta no mesmo dia ou se, por força do intenso lobby, o assunto ficaria para a semana seguinte. Na véspera, o relator, Aguinaldo Ribeiro, disse ter encontrado a solução para as últimas reivindicações dos governadores em relação ao Conselho Federativo e ao Fundo de Desenvolvimento Regional, ao cálculo da transição para o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), que unificará o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e o Imposto sobre Serviços (ISS), segundo o substitutivo apresentado.

Trata-se de uma primeira etapa, que deverá ser seguida da reforma da tributação sobre a renda e o patrimônio. Ao ser votada em separado, essa segunda parte perderá, entretanto, força política e muitos temem um desfecho pífio, como inúmeras vezes ocorreu no País em decisões que buscam aumentar a taxação dos mais ricos para ao menos atenuar as condições de vida infernais dos mais pobres. Nesse caso, se arremessaria, mais uma vez, na lata do lixo as pretensões de centrais sindicais, movimentos populares, da própria campanha de Lula e do núcleo da base partidária do atual governo, que, ainda na condição de oposição, elaborou em 2019 o projeto Reforma Tributária Solidária, Justa e Sustentável, consolidado em uma emenda substitutiva à PEC 45, base da atual reforma. Isso tudo bem antes da ampla coalizão formada para derrotar Jair Bolsonaro e da tentativa de golpe do 8 de janeiro.

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3 comentários

CLOVIS DEITOS 7 de julho de 2023 11h49
Como contabilista há muitas décadas, entendo a atual cobrança de ICMS e ISS dos estados e munícipios um verdadeiro manicômio, mas não sou favorável a uma reforma tributária, como solução alguma. O que devia haver era reformas de alguns impostos bem como a cobrança de impostos que não são cobrados hoje, como imposto sobre lucros e dividendos. também é urgente acabar com tanto privilégio aos mais ricos, como desconto integral da despesa de saúde para quem não tem doenças graves. Reformar o ICMS é o mais urgente para, além de acabar com a guerra fiscal entre estados, cobrar esse imposto na unidade consumidora. e por aí vai... Só depois de estabilizar essas cobranças e ver as receitas é que se deveria mexer na estrutura atual.
ricardo fernandes de oliveira 8 de julho de 2023 18h04
Seria interessante comentar que s proposta do cashback foi feita pelo BID há 10 Anos e que desde 2021 o governo do rs implantou o cashback no icm
PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 9 de julho de 2023 05h17
E enfim a reforma tributária passou pela câmara dos deputados, a contragosto dos bolsonaristas, engenheiros do caos, e que embora não tenha empolgado muito parte da esquerda, eis que não houve aquela taxação em relação aos ricos tão esperada, não obstante tenha sido mais uma vitória do governo Lula, pois agora, parece que o caos tributário e a complexidade do sistema ficou mais transparente e compreensível para a sociedade brasileira que poderá entender melhor o regime tributário brasileiro daqui em diante. Decerto, que haverá no senado alguns aperfeiçoamentos pontuais, mas a estrutura votada na câmara será referendada pelo senado e sancionada pelo presidente Lula. Cabe às Centrais sindicais, movimentos dos trabalhadores e movimentos sociais fazer avançar essa reforma com pressão nas ruas e no congresso de modo a favorecer a classe trabalhadora e aos mais pobres para diminuir a desigualdade daqui em diante, mas o mais importante é que esse governo em pouco mais de 6 meses conseguiu aprovar uma reforma que o país demorou para fazer há mais de 60 anos. A concentração de riqueza precisa diminuir estando relacionada justamente com a ilógica complexidade do sistema tributário brasileiro atual.

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