Economia

Encontro com a realidade

Aos ecologistas mais ansiosos que defendem a redução do consumo é bom lembrar que ainda estamos a meio caminho de garantir a todos três refeições ao dia

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É possível que alguns de nossos leitores mais jovens se surpreendam com a longevidade do debate em torno do dilema “desenvolvimento econômico ou preservação do meio ambiente”. Nos anos 50 do século XX, o tema já alimentava discussões na Universidade de São Paulo, com mais frequência na Faculdade de Economia, a FEA-USP.

Vivíamos, à época, a ênfase do desenvolvimento acelerado que marcou o governo JK, com a expansão da indústria automobilística, as grandes obras de infraestrutura, especialmente no setor rodoviário, a indústria de construção naval e a metassíntese do crescimento orientado para o interior com a mudança da capital federal para Brasília.

Um dos nossos mestres, o professor Nicholas Georgescu Roegen, grande economista romeno que nos ajudou muito na USP, nos ensinava que “o mundo era finito e que, um dia, o desenvolvimento teria de marcar um encontro com a realidade”. Demorou um pouco, mas chegou a hora… Há sempre a possibilidade de conciliação entre o processo de desenvolvimento e a preservação ambiental.

A consciência desse fato começou a aparecer de forma mais transparente nos anos 70 do século XX, com a preocupação de que as grandes obras de infraestrutura requeridas no processo de crescimento iriam danificar a natureza e com o tempo destruiriam o ambiente em que vivíamos. Tivemos uma demonstração muito clara dessa preocupação quando o Banco Mundial começou a condicionar o financiamento dos nossos maiores projetos à elaboração de programas de conservação da natureza. O desenvolvimento da exploração mineral na Região Amazônica – o Programa do Grande Carajás – foi o primeiro empreendimento a atender às condicionalidades apresentadas pelo Banco Mundial, em matéria de proteção ambiental, para então aprovar o financiamento. O projeto incluiu desde a extração de minérios, a implantação do sistema de transportes para o escoamento da produção (rodovia, ferrovia e porto), até o aproveitamento integrado da hidroeletricidade e da navegação no Rio Tocantins.

O então presidente do Banco Mundial, Robert McNamara, tinha sido secretário da Defesa dos Estados Unidos, quando autorizara o uso do napalm nas florestas asiáticas e, certamente, tinha alguma dor na consciência pela destruição do meio ambiente nas guerras da Coreia e do Vietnã. Ao assumir o banco, ele passou a exigir com muita dureza compromissos para preservar o meio ambiente nos projetos que financiava. Foi quando realmente essa conscientização se transformou em prática corrente, pois teoricamente essas ideias já eram discutidas há bastante tempo.

Não sei qual tratamento será dado às recomendações para o desenvolvimento sustentado na Conferência Rio+20 que a ONU patrocina entre 20 e 22 de junho no Rio de Janeiro. É importante compreender que o mundo é mesmo finito: chegou o momento de lidar com a sentença do professor Georgescu e enfrentar o fato de que talvez a humanidade tenha de se conformar com um crescimento mais moderado daqui por diante. Esse processo de discussão agora é necessário para conscientizar as pessoas de que não haverá como acomodar toda a população que está chegando aos mercados com um padrão de consumo equivalente aos níveis americanos.

Na solenidade de abertura do Pavilhão Brasil, que antecedeu uma semana a Rio+20, a presidenta Dilma foi bastante objetiva ao afirmar que “o cuidado com o meio ambiente deve ser parte do desenvolvimento de um país e não pode mudar ao sabor de crises. Significa um posicionamento ‘pró-crescer’, incluir, preservar e conservar, como parte intrínseca de uma concepção de desenvolvimento. Significa, também, melhorar a produtividade do nosso solo, preservar os recursos naturais e defender o desenvolvimento que queremos”.

O que vai funcionar na prática é exatamente o resultado do grande esforço tecnológico em desenvolvimento na indústria, na própria atividade de campo dos agricultores, nas descobertas que eles fizerem, na integração da pesquisa e dos processos produtivos.

Aos ecologistas mais ansiosos que defendem a redução do consumo é bom lembrar que ainda estamos a meio caminho do objetivo de garantir aos brasileiros três refeições ao dia. E que isso exigirá um forte aumento na produção de alimentos e na oferta de energia, especialmente do potencial amazônico.

É possível que alguns de nossos leitores mais jovens se surpreendam com a longevidade do debate em torno do dilema “desenvolvimento econômico ou preservação do meio ambiente”. Nos anos 50 do século XX, o tema já alimentava discussões na Universidade de São Paulo, com mais frequência na Faculdade de Economia, a FEA-USP.

Vivíamos, à época, a ênfase do desenvolvimento acelerado que marcou o governo JK, com a expansão da indústria automobilística, as grandes obras de infraestrutura, especialmente no setor rodoviário, a indústria de construção naval e a metassíntese do crescimento orientado para o interior com a mudança da capital federal para Brasília.

Um dos nossos mestres, o professor Nicholas Georgescu Roegen, grande economista romeno que nos ajudou muito na USP, nos ensinava que “o mundo era finito e que, um dia, o desenvolvimento teria de marcar um encontro com a realidade”. Demorou um pouco, mas chegou a hora… Há sempre a possibilidade de conciliação entre o processo de desenvolvimento e a preservação ambiental.

A consciência desse fato começou a aparecer de forma mais transparente nos anos 70 do século XX, com a preocupação de que as grandes obras de infraestrutura requeridas no processo de crescimento iriam danificar a natureza e com o tempo destruiriam o ambiente em que vivíamos. Tivemos uma demonstração muito clara dessa preocupação quando o Banco Mundial começou a condicionar o financiamento dos nossos maiores projetos à elaboração de programas de conservação da natureza. O desenvolvimento da exploração mineral na Região Amazônica – o Programa do Grande Carajás – foi o primeiro empreendimento a atender às condicionalidades apresentadas pelo Banco Mundial, em matéria de proteção ambiental, para então aprovar o financiamento. O projeto incluiu desde a extração de minérios, a implantação do sistema de transportes para o escoamento da produção (rodovia, ferrovia e porto), até o aproveitamento integrado da hidroeletricidade e da navegação no Rio Tocantins.

O então presidente do Banco Mundial, Robert McNamara, tinha sido secretário da Defesa dos Estados Unidos, quando autorizara o uso do napalm nas florestas asiáticas e, certamente, tinha alguma dor na consciência pela destruição do meio ambiente nas guerras da Coreia e do Vietnã. Ao assumir o banco, ele passou a exigir com muita dureza compromissos para preservar o meio ambiente nos projetos que financiava. Foi quando realmente essa conscientização se transformou em prática corrente, pois teoricamente essas ideias já eram discutidas há bastante tempo.

Não sei qual tratamento será dado às recomendações para o desenvolvimento sustentado na Conferência Rio+20 que a ONU patrocina entre 20 e 22 de junho no Rio de Janeiro. É importante compreender que o mundo é mesmo finito: chegou o momento de lidar com a sentença do professor Georgescu e enfrentar o fato de que talvez a humanidade tenha de se conformar com um crescimento mais moderado daqui por diante. Esse processo de discussão agora é necessário para conscientizar as pessoas de que não haverá como acomodar toda a população que está chegando aos mercados com um padrão de consumo equivalente aos níveis americanos.

Na solenidade de abertura do Pavilhão Brasil, que antecedeu uma semana a Rio+20, a presidenta Dilma foi bastante objetiva ao afirmar que “o cuidado com o meio ambiente deve ser parte do desenvolvimento de um país e não pode mudar ao sabor de crises. Significa um posicionamento ‘pró-crescer’, incluir, preservar e conservar, como parte intrínseca de uma concepção de desenvolvimento. Significa, também, melhorar a produtividade do nosso solo, preservar os recursos naturais e defender o desenvolvimento que queremos”.

O que vai funcionar na prática é exatamente o resultado do grande esforço tecnológico em desenvolvimento na indústria, na própria atividade de campo dos agricultores, nas descobertas que eles fizerem, na integração da pesquisa e dos processos produtivos.

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