Economia

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Em obra autobiográfica, Eduardo Moreira explica como se engajou na luta por justiça social

Moreira continua a ser um businessman, mas tornou-se também um valoroso companheiro dos movimentos sociais

O economista Eduardo Moreira, de camisa azul, junto com uma família da aldeia Tehoka Ocoy, no município de São Miguel Iguaçu (PR). Foto: Paulo Porto
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“O que é roubar um banco em comparação a fundar um banco?” O aforismo atribuí­do a Bertolt Brecht costuma ressoar, nos círculos de esquerda, como um alerta de que os interesses do mercado financeiro quase sempre são opostos aos dos trabalhadores. E quando um banqueiro passa a falar sobre o combate às desigualdades e a defender maior taxação sobre a renda dos mais ricos? A desconfiança é inevitável, algo parece fora de lugar. Estranho no ninho, Eduardo Moreira explica, no recém-lançado livro Travessia (Civilização Brasileira), a sua peculiar trajetória de um bem-sucedido businessman para um aguerrido companheiro na luta pela equidade.

Formado em Engenharia pela PUC Rio, Moreira enveredou para o mundo dos negócios após ganhar uma bolsa de estudos e cursar Economia na Universidade da Califórnia. De volta ao Brasil, trabalhou no Banco Pactual até 2009, quando fundou, na companhia de sócios, a Brasil Plural e a Genial Investimentos. Poderia, se desejasse, simplesmente desfrutar da fortuna amealhada em 20 anos de atuação no mercado financeiro. Mas um dia o economista olhou para o lado e não gostou do que viu. Pior, sentiu-se responsável pelas agruras vivenciadas por tantos brasileiros que não tiveram as mesmas oportunidades.

É nesse momento que Moreira inicia sua travessia. Preparou as malas e caiu na estrada, para conhecer de perto a miséria sobre a qual os manuais de economia se limitavam a teorizar. Por onde ia, fosse no Semiárido nordestino ou em uma retomada dos guarani-kaiowás, fazia questão de passar uma temporada vivendo nas condições de quem o recebia, dormindo sob o mesmo teto e dividindo o mesmo pão.

TRAVESSIA: DE BANQUEIRO A COMPANHEIRO Eduardo Moreira. Civilização Brasileira (144 págs., 39,90 reais)

“Nessas casas, algumas com lonas ou sacos plásticos no lugar de paredes, sempre havia um lugar para eu pousar durante a noite”, recorda. “Eu ficava pensando, se a situação fosse inversa. Será que sem conhecer o seu passado, quem eram, ou suas intenções, eu os convidaria para entrar, tomar um café e ofereceria um dos quartos para poderem dormir? A resposta é clara, e eu me envergonhava só de pensar nela.”

Sem perceber, Moreira transformou-se em um militante nessas andanças. Quando o Congresso estava prestes a votar a reforma da Previdência, que pretendia aumentar a idade mínima para a aposentadoria rural de 55 para 60 anos, teve a ideia de gravar um vídeo com duas senhoras do campo. “As duas pareciam ter passado havia muito tempo dos 70 anos. Somente uma delas já tinha chegado aos 55”, afirma. “O vídeo viralizou. Esse ponto da proposta caiu. Provavelmente, não por causa do meu vídeo, mas por compreensão dos legisladores do tamanho da maldade.”

Quando se dispôs a ajudar cooperativas do MST a captar 17,5 milhões de ­reais na Bolsa, entendeu ser possível aplicar os conhecimentos adquiridos no mercado financeiro em causas nobres. Moreira continua a ser um businessman, mas tornou-se também um valoroso companheiro dos movimentos sociais na luta por uma nação mais justa.

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1187 DE CARTACAPITAL, EM 9 DE DEZEMBRO DE 2021.

CRÉDITOS DA PÁGINA: DOUGLAS MANSUR/MST

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