E o salário, ó…

Os ganhos recentes não compensam a estagnação da renda do trabalho na última década

O aumento da renda nos últimos dez anos não acompanhou o galope do custo de vida. No 1° de Maio unificado, as centrais sindicais pedirão “um Brasil mais justo” – Imagem: iStockphoto e CTB Brasil

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Vem aí o 1° de Maio e os 100 milhões de trabalhadores brasileiros têm pouco a comemorar. A taxa de desemprego está nos menores níveis vistos recentemente no País, entre 7,5% e 8%, mas o salário médio permanece o mesmo há uma década, o que significa empobrecimento e um cotidiano bem mais duro. Em janeiro de 2014, a renda mensal média de quem vivia do trabalho era de 2.923 reais. Em dezembro de 2023, de 3.063 reais, 4% a mais. Nesse período de dez anos, o valor oscilou entre 2,8 mil e 3,1 mil. A inflação geral (IPCA) no período foi de 76%. A gasolina subiu 90%. Alimentos e bebidas, 97%. A conta de luz, 134%. “Essa perda de poder de compra é uma dimensão não visível no salário médio. Produz um brutal arrocho. O orçamento não cabe dentro do salário”, diz o sociólogo e consultor para temas trabalhistas Clemente Ganz Lúcio, ex-diretor do Dieese, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos.

Segundo ele, os governos dos últimos dez anos, incluído o atual, têm culpa pela carestia, pois suas políticas econômicas permitiram o encarecimento da comida, da eletricidade e dos combustíveis. O ­Dieese calcula o preço da cesta básica em algumas cidades. No início de 2014, em São Paulo, custava 11% do salário médio. No mês anterior à posse de Lula, 26%. Em dezembro passado, 25%. Pesquisas internas feitas no fim de 2023 pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência identificaram que a população percebe tudo caro: luz, remédio, água, carne vermelha, botijão de gás. Na quarta-feira 24, o governo mandou ao Congresso a complementação da reforma tributária, com alívio de impostos sobre a cesta básica. “Estamos gerando empregos, porém com remuneração muito baixa. Esse é o desafio que se tem no mercado de trabalho”, afirma Luiz Marinho, ministro do Trabalho.

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2 comentários

CESAR AUGUSTO HULSENDEGER 28 de abril de 2024 13h36
Novamente, o imortal espírito do mercantilismo colonial coloca os trabalhadores pra escanteio. E pensar que boa parte desse patronato é descendente de imigrantes que vieram para o Brasil por passarem pelas mesmas agruras em seus países de origem. Agora, esquecem, convenientemente, suas origens e as dificuldades de seus ancestrais frente a uma elite que fazia a mesmíssima coisa.
PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 1 de maio de 2024 22h10
Nesta semana mesmo conversando com um motorista de aplicativo, argumentei sobre a necessidade que o governo federal propôs sobre essa regulamentação sobre as plataformas para que esses trabalhadores tenham direitos próximos da CLT ao que ele disse que trabalharia 12 , 24 horas até a exaustão para ser livre e ter autonomia sobre o seu trabalho e seus rendimentos e que seria uma intromissão descabida do governo sobre a sua vida, ao que indaguei se ele era proprietário do veículo que dirigia, ele disse que sim, Contraargumentei que a maioria dos trabalhadores utilizavam o veículo de outros e que a realidade de uns seria bem diferente dos outros, que são superexplorados. Enquanto isso o próprio judiciário e inclusive o STF tenta esquartejar a CLT, temos deputados e senadores que fazem o jogo político dos empresários e fazem projeto de leis para escravizar mais os trabalhadores, e o pior é que tem muito trabalhador que elege esse tipo de político. Quando a classe trabalhadora acorda, muitas vezes é tarde. O governo também tem a sua parcela de culpa, mas devemos ter em mente que o atual faz das tripas coração para manter os poucos benefícios da classe trabalhadora, e ainda tem que enfrentar um congresso feroz que joga ao lado do capital e contra os trabalhadores. Isso precisa ser bem veiculado pelas esquerdas para a criar a consciência de classe, caso contrário sempre iremos nos deparar com um motorista de UBER que se sente empresário, empreendedor que não pensa em sua saúde, muito menos tem senso de solidariedade com os demais trabalhadores desse país.

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