E o rabo abana o cachorro

O Brasil virou um aparelho a serviço do agronegócio

Disfunção. Metade do crédito público para o setor é despejada no cultivo da soja. Até mesmo agrotóxicos banidos na Europa surfam nas renúncias fiscais – Imagem: iStockphoto

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A intensificação do debate sobre os subsídios ao agronegócio após a avalanche de execrações aos subsídios previstos no novo plano de política industrial, lançado há duas semanas pelo governo, talvez contribua para lançar luz sobre a realidade dissimulada dos grandes interesses do setor agropecuário, articulado ao setor financeiro e à mídia. O que mais chama atenção não é tanto que o agronegócio tenha se agigantado no País, mas o fato de o Brasil ter-se transformado, em diferentes etapas desde a ditadura, em uma colossal máquina econômica, política e ideológica movida pelos interesses de uma parcela ínfima de proprietários rurais e empresas conexas.

É o que mostram os números e as avaliações de abalizados economistas e outros analistas. É inegável a eficácia do agronegócio como um aparelho de geração de divisas, mas as disfunções do mecanismo não são de todo evidentes e precisam ser desvendadas, sublinham. Segundo Sérgio Sauer, professor da UnB e coordenador do Observatório Matopiba, o subsídio, no sentido de apoio estatal a setores econômico-produtivos mais vulneráveis, não é um problema. Compensações e apoios estatais, tanto para diminuir vulnerabilidades quanto para fomentar investimentos, devem existir, mas precisam, necessariamente, resultar em ganhos e retornos para a sociedade, como o crescimento econômico e a geração de empregos.

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3 comentários

ANTONIO JONNY SONNEMAKER DE ALMEIDA 3 de fevereiro de 2024 01h17
O agro a meu ver nem é uma grande solução, e sim uma solução mediana ou mesmo menor, a julgar pelos dados apresentados. País rico é antes de tudo país industrializado, como vemos em todas as grandes economias, gerando maior valor agregado e salários muito melhores. Nelas, a participação do agro no PIB situa-se em torno de 2%. Fora que Serviços representa a maior parte do PIB em qq economia atual.
ANTONIO JONNY SONNEMAKER DE ALMEIDA 3 de fevereiro de 2024 01h19
Fiz um pequeno estudo sobre participação do agro na economia e envio a seguir. ECONOMIA DO BRASIL EM 2022 1 PIB 2022 9,9 trilhões de reais https://www.ibge.gov.br/explica/pib.php:~:textO%20PIB%20do%20Brasil%20em,das%20Unidades%20da%20Federa%C3%A7%C3%A3o%20brasileiras.&textO%20PIB%20mede%20apenas%20os,finais%20para%20evitar%20dupla%20contagem. Participação de São Paulo: 2,38 trilhões Os demais são todos abaixo de 1 trilhão. NOTA: o PIB não tem variado muito nesses últimos anos. 2 PIB POR SETOR AGRO: 0,676 trilhão 6,8% PIB INDUSTRIA: 2,1 trilhões 21,2% PIB SERVIÇOS: 5,8 trilhões 58,6% PIB OUTROS: 1,3 trilhão 13,1% PIB https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/36371-pib-cresce-2-9-em-2022-e-fecha-o-ano-em-r-9-9-trilhoes:~:textHouve%20crescimentos%20em%20Servi%C3%A7os%204,Agropecu%C3%A1ria%20%2D1%2C7%25.&textO%20PIB%20totalizou%20R%24%209,foi%20de%2018%2C9%25. PIB de SÃO PAULO em 2018: AGRO: 2% INDUSTRIA: 20% extração, transformação, construção SERVIÇOS: 54% OUTROS: 24% https://www.economiaemdia.com.br/BradescoEconomiaEmDia/static_files/pdf/pt/mapa/Informa%C3%A7%C3%B5es%20Regionais%20S%C3%A3o%20Paulo.pdf 3 COMERCIO EXTERIOR CORRENTE DE COMERCIO EXP. + IMP.: 3,1 trilhões SUPERAVIT: 0,3 trilhão EXPORTAÇÕES: 1,7 trilhão IMPORTAÇÕES: 1,4 trilhão https://forbes.com.br/forbes-money/2023/01/comercio-exterior-brasileiro-bate-recorde-com-us-6077-bilhoes-negociados-em-2022/ Com relação aos produtos mais exportados pelo Brasil nesse período de 2022, temos: 1 Soja 16% 2 Óleos brutos de petróleo ou minerais betuminosos 12% 3 Minério de ferro e seus concentrados 8,9% 4 Óleos combustíveis de petróleo 3,8% 5 Carne bovina 3,7% 6 Farelo de soja 3,4% 7 Açúcares e melaço 3,2% 8 Milho não moído 3,2% 9 Carnes de aves e miudezas 2,7% 10 Demais produtos da indústria de transformação 2,7% Interessante notar aqui que a soma dos itens 1, 5 a 9, perfaz 32,2%, e a soma dos itens 2 a 4 e 10 perfaz 27,4%. Ou seja, os totais de agro e indústria extração + transformação são muito próximos. Notar que a indústria vem caindo aos poucos desde muitos anos, e mesmo assim está próxima do agro. https://dclogisticsbrasil.com/produtos-mais-importados/ 4 DISCUSSÃO Vemos no item 2 que a participação do Agro no PIB é cerca de 3 vezes menor que a Indústria, e cerca de 8 vezes menor que o Serviços. Vemos no item 3 que as exportações atingiram 1,7 trilhão, sendo boa parte disso ferro e petróleo, sendo que os totais são aproximados entre agro e indústria. Mesmo assim, o superávit de 0,3 trilhão é muito pequeno se comparado com o total de 9,9 trilhões do PIB, e ainda bem pequeno se comparado ao PIB de Indústria e principalmente Serviços. Porque São Paulo é tão grande em comparação com os outros estados? Vemos no item 2 que a Indústria e os Serviços são as locomotivas desse estado, sendo que o Agro pouco representa. Aliás, 2% de Agro é o valor normalmente encontrado nas economias dos países ricos, algo semelhante ao extrato econômico de São Paulo. Aliás, sabemos de nossa História que a Indústria foi a grande alavanca de São Paulo, e continua até hoje, embora suplantada pelos Serviços. 5 CONCLUSÃO Do exposto, salvo melhor juízo, podemos concluir que a tão propalada importância do Agro para a nossa economia não passa de uma falsa narrativa, de certo modo recente. Historicamente foi a Indústria a narrativa predominante, mas essa com razão. Talvez a narrativa Agro tenha sido reforçada pela perspectiva da exportação, mas mesmo por esse critério vemos que não se sustenta, pois o superávit é irrisório frente ao nosso PIB, e mesmo isso tem que ser dividido com a Indústria de extração e transformação. E ainda podemos acrescentar que a grande geração de emprego não está no Agro, e sim nos Serviços e Indústria, inclusive porque 80% da população está nas cidades. Podemos concluir então que o MERCADO INTERNO é quem consome o nosso PIB, é esse mercado o verdadeiro motor da ECONOMIA, não só do Brasil, como de qualquer país. E podemos abandonar a narrativa do Agro como fator econômico de relevo para o País, embora seja vital para nossa sobrevivência, assim como é a água. Jonny, 23/11/2023. Jonny.heliways@gmail.com
Luiz Francisco Fernandes 3 de fevereiro de 2024 16h42
Ao menos por enquanto, o Brasil é o único país do mundo onde o mocinho é preso e o bandido anda solto arrastando as botas e a espora de ouro.

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