Economia

Diretoria da Americanas omitiu do conselho operações que causaram rombo bilionário, revela jornal

Omissão é indicada por documentos da investigação interna da empresa obtidos pelo jornal ‘O Globo’

Foto: Mauro Pimentel/AFP
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A diretoria da Americanas omitiu do conselho de administração da empresa as operações que causaram o rombo bilionário. A afirmação tem como base documentos que registram a comunicação entre diretoria e o comitê de auditoria, formado por três conselheiros, que foram obtidos e revelados pelo jornal O Globo nesta quinta-feira 2.

De acordo com os documentos, por cerca de dois anos, o comitê responsável pela auditoria questionou os diretores da Americanas em pelo menos quatro ocasiões sobre as operações que causaram o rombo e, em todas elas, a resposta foi de que essas operações não existiam.

O registro das comunicações, importante mencionar, seguiam o modelo de governança da companhia. Pela regra, a cada trimestre as demonstrações financeiras eram enviadas por e-mail aos conselheiros membros do comitê de auditoria, que faziam questionamentos e recebiam respostas em uma reunião. Só então é que o comitê fazia as recomendações de mudanças, que, por sua vez, eram incorporadas no balanço final submetido ao conselho.

As operações citadas na comunicação são mencionadas como ‘risco sacado’, ‘fornecedor condicionado’, ‘forfait’ ou ‘convênio’. A operação, quando realizada, precisa ser indicada como um passivo no balanço da empresa, algo que não foi feito no caso da Americanas, justamente pela omissão de que o mecanismo havia sido utilizado. Na prática, em janeiro de 2023 este passivo somava 20 bilhões de reais no caso da varejista. Ao todo, a Americanas acumula 43 bilhões em dívidas.

Segundo o jornal, desde agosto de 2020, a auditoria vinha questionando os diretores sobre a existência destas operações, mas sempre receberam a resposta de que elas nunca tinham sido realizadas. Conforme mostram as comunicações, a última vez em que a pergunta sobre o ‘risco sacado’ foi feita foi em novembro de 2022. Naquela ocasião, o comitê de auditoria perguntou: “Continuamos sem nenhuma transação de forfait/convênio junto aos fornecedores, correto?”. Os diretores então responderam: “Continuamos sem nenhuma transação de forfait/convênio junto aos fornecedores”.

A omissão, indicam os documentos, permitiu que a empresa parecesse financeiramente saudável e possibilitou que fossem pagos mais dividendos aos acionistas e bônus aos executivos da Americanas.

Conforme destaca o jornal, os documentos revelados nesta quinta-feira podem mudar o rumo das investigações que apuram a fraude na Americanas. Isso porque, como as respostas sobre o ‘risco sacado’ dadas pelos diretores da empresa eram sempre negativas, a tese de que acionistas e conselheiros não sabiam da fraude ganha um argumento em seu favor.

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