Economia
Cuidar do investimento
A pequena recuperação da atividade econômica a que assistimos no Brasil aos poucos vai permitindo dissipar as incertezas que tolheram nosso crescimento este ano, diante da indefinição do problema europeu e também como resultado do entendimento defeituoso do mercado financeiro com relação aos objetivos da […]
A pequena recuperação da atividade econômica a que assistimos no Brasil aos poucos vai permitindo dissipar as incertezas que tolheram nosso crescimento este ano, diante da indefinição do problema europeu e também como resultado do entendimento defeituoso do mercado financeiro com relação aos objetivos da política econômica do governo.
Em tais circunstâncias, somente uma ação forte e decidida do Estado é capaz de reanimar o setor privado. Assim como fazê-lo retomar os investimentos, sem ficar à espera que “os ventos externos voltem a soprar completamente a nosso favor”, como ressaltou a presidenta Dilma Rousseff em seu discurso na solenidade, promovida por CartaCapital, de premiação das empresas Mais Admiradas no Brasil. A presidenta fez questão de reafirmar que, “ao contrário dos países que optaram por medidas fiscais de austeridade compulsiva”, produzindo recessão, desemprego e desesperança em seus povos, “o Brasil vai prosseguir com sua política de crescimento e de inclusão social”.
O baixo crescimento do PIB na Zona do Euro deve persistir por um bom tempo. A projeção do FMI/Bird para 2012 é de queda de 0,4% e de pífia recuperação em 2013, algo como 0,2% positivo.
O persistente Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, em discurso no início da semana em Bruxelas, não vê alternativa para as políticas de austeridade orçamentária. E admitiu que elas vão continuar sufocando o crescimento no curto prazo. Draghi também não espera ventos favoráveis. Defende o seu programa de compra de títulos dos países endividados pelo BCE como a única saída para evitar um novo cenário “destrutivo” na Eurozona.
A persistência do fraco crescimento europeu e mundial reforça a necessidade de forte apoio às iniciativas de cooptação do setor privado brasileiro que a presidenta Dilma Rousseff assumiu para a ampliação dos investimentos em infraestrutura nas diferentes regiões do nosso território, contando com a participação dos estados e municípios.
Trata-se de programas ambiciosos que revelam uma nova postura do governo federal, declarando definitivamente superada a desconfiança mútua (sempre negada explicitamente) entre ele e o setor privado, mais dinâmico e mais bem apetrechado de técnica e recursos. Pretende-se devolver aos programas do governo a visão logística estratégica que incorpora e integra as rodovias com as ferrovias, com os portos e a geração de energia.
Uma das decisões mais importantes foi a criação da Empresa de Planejamento Logístico (EPL), inspirada no Grupo Executivo de Integração da Política de Transporte (Geipot) criado em 1965, transformado em empresa em 1973, extinta pela irresponsável “reforma” do Estado de 1990. A partir daí deixou de existir a coordenação logística do governo, que agora se pretende restabelecer.
Outro aspecto significativo foi a autorização para o aumento das dívidas de 17 estados, cujas condições financeiras e administrativas são adequadas para acelerar suas próprias obras de infraestrutura: mobilidade urbana em suas capitais, estradas, saneamento básico e habitação, importante não apenas para ajudar a estimular o crescimento econômico, mas também melhorar as condições objetivas de vida de suas populações.
O papel do governo federal é o de integrador do território nacional, mas a vida de cada cidadão depende de condições locais, dos estados e municípios. O montante de endividamento autorizado é razoável: da ordem de 42 bilhões de reais. Depois dos imensos abusos de endividamento, que destruíram a credibilidade de estados e municípios e foram corrigidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal, é saudável a mudança do entendimento até agora vigente, segundo o qual todo e qualquer endividamento é um pecado capital.
Entre o anúncio dos programas e o começo da sua efetiva execução serão necessários pelo menos 12 meses, mas certamente haverá um efeito antecipado sobre o ânimo da sociedade que começa a ver uma pequena retomada econômica em resposta às medidas fiscais, monetárias e cambiais tomadas até agora.
A redução da desconfiança mútua vai melhorar o ambiente de negócios em todos os segmentos e mostrar que o setor privado não quer e não precisa de benesses ou subsídios. Precisa de condições isonômicas para competir e de leilões bem projetados não apenas para atender ao presente, mas, principalmente, sustentar investimentos futuros que garantam a melhora permanente da qualidade dos serviços.
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A pequena recuperação da atividade econômica a que assistimos no Brasil aos poucos vai permitindo dissipar as incertezas que tolheram nosso crescimento este ano, diante da indefinição do problema europeu e também como resultado do entendimento defeituoso do mercado financeiro com relação aos objetivos da política econômica do governo.
Em tais circunstâncias, somente uma ação forte e decidida do Estado é capaz de reanimar o setor privado. Assim como fazê-lo retomar os investimentos, sem ficar à espera que “os ventos externos voltem a soprar completamente a nosso favor”, como ressaltou a presidenta Dilma Rousseff em seu discurso na solenidade, promovida por CartaCapital, de premiação das empresas Mais Admiradas no Brasil. A presidenta fez questão de reafirmar que, “ao contrário dos países que optaram por medidas fiscais de austeridade compulsiva”, produzindo recessão, desemprego e desesperança em seus povos, “o Brasil vai prosseguir com sua política de crescimento e de inclusão social”.
O baixo crescimento do PIB na Zona do Euro deve persistir por um bom tempo. A projeção do FMI/Bird para 2012 é de queda de 0,4% e de pífia recuperação em 2013, algo como 0,2% positivo.
O persistente Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, em discurso no início da semana em Bruxelas, não vê alternativa para as políticas de austeridade orçamentária. E admitiu que elas vão continuar sufocando o crescimento no curto prazo. Draghi também não espera ventos favoráveis. Defende o seu programa de compra de títulos dos países endividados pelo BCE como a única saída para evitar um novo cenário “destrutivo” na Eurozona.
A persistência do fraco crescimento europeu e mundial reforça a necessidade de forte apoio às iniciativas de cooptação do setor privado brasileiro que a presidenta Dilma Rousseff assumiu para a ampliação dos investimentos em infraestrutura nas diferentes regiões do nosso território, contando com a participação dos estados e municípios.
Trata-se de programas ambiciosos que revelam uma nova postura do governo federal, declarando definitivamente superada a desconfiança mútua (sempre negada explicitamente) entre ele e o setor privado, mais dinâmico e mais bem apetrechado de técnica e recursos. Pretende-se devolver aos programas do governo a visão logística estratégica que incorpora e integra as rodovias com as ferrovias, com os portos e a geração de energia.
Uma das decisões mais importantes foi a criação da Empresa de Planejamento Logístico (EPL), inspirada no Grupo Executivo de Integração da Política de Transporte (Geipot) criado em 1965, transformado em empresa em 1973, extinta pela irresponsável “reforma” do Estado de 1990. A partir daí deixou de existir a coordenação logística do governo, que agora se pretende restabelecer.
Outro aspecto significativo foi a autorização para o aumento das dívidas de 17 estados, cujas condições financeiras e administrativas são adequadas para acelerar suas próprias obras de infraestrutura: mobilidade urbana em suas capitais, estradas, saneamento básico e habitação, importante não apenas para ajudar a estimular o crescimento econômico, mas também melhorar as condições objetivas de vida de suas populações.
O papel do governo federal é o de integrador do território nacional, mas a vida de cada cidadão depende de condições locais, dos estados e municípios. O montante de endividamento autorizado é razoável: da ordem de 42 bilhões de reais. Depois dos imensos abusos de endividamento, que destruíram a credibilidade de estados e municípios e foram corrigidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal, é saudável a mudança do entendimento até agora vigente, segundo o qual todo e qualquer endividamento é um pecado capital.
Entre o anúncio dos programas e o começo da sua efetiva execução serão necessários pelo menos 12 meses, mas certamente haverá um efeito antecipado sobre o ânimo da sociedade que começa a ver uma pequena retomada econômica em resposta às medidas fiscais, monetárias e cambiais tomadas até agora.
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