Economia
Copom mantém a Selic em 15% e Brasil fica com a 2ª maior taxa real do mundo
A decisão, mais uma vez, foi unânime entre os nove integrantes do comitê do Banco Central
Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu nesta quarta-feira 10, pela quarta vez seguida, manter a taxa básica de juros em 15% ao ano. A Selic permanece em seu nível mais alto desde julho de 2006, no primeiro mandato do presidente Lula (PT), e é a segunda maior taxa real de juros no mundo, segundo um monitoramento das consultorias MoneYou e Lev Intelligence.
Para calcular o índice real, leva-se em conta a taxa de juros “a mercado” — um referencial do que seriam juros tomados em uma operação real — e a inflação projetada para os 12 meses seguintes.
O Brasil tem uma taxa real de 9,44%, atrás apenas da Turquia, com 10,33%. Completam a lista dos dez primeiros Rússia, com 7,89%; Argentina, com 7,14%; México, com 4,21%; Indonésia, com 2,44%; Hungria, com 2,14%; África do Sul, com 2,07%; Israel, com 1,91%; e Filipinas, com 1,79%.
Ao justificar a decisão desta quarta, o Copom afirmou que o ambiente externo continua incerto devido à conjuntura e à polícia econômica nos Estados Unidos. Exige-se cautela por parte de países emergentes em um ambiente de tensão geopolítica, de acordo com o documento.
No front doméstico, o comitê afirma que o conjunto dos indicadores continua a apresentar uma trajetória de moderação no crescimento da atividade econômica, enquanto o mercado de trabalho “mostra resiliência”. A economia brasileira cresceu 0,1% no terceiro trimestre deste ano em comparação com os três meses anteriores.
Segundo o Boletim Focus da última segunda-feira 8, elaborado pelo BC após ouvir instituições financeiras, a estimativa de inflação para 2025 recuou de 4,43% para 4,4%. A meta é de 3%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima (4,5%) ou para baixo (1,5%).
O Copom afirmou acompanhar os anúncios sobre o tarifaço e como os desenvolvimentos da política fiscal brasileira impactam a política monetária e os ativos financeiros, “reforçando a postura de cautela em cenário de maior incerteza”.
“O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho”, prosseguiu. “Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado.”
O colegiado também afirmou que a estratégia em curso, de manutenção do atual nível da taxa Selic por um período “bastante prolongado”, é adequada para “assegurar a convergência da inflação à meta”.
“O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que, como usual, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado.”
Quando o Copom opta por aumentar a Selic ou mantê-la em níveis elevados, busca desaquecer a demanda para, em tese, conter a inflação: os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança, razão pela qual também dificultam a expansão da economia.
Ao cortar a taxa, por outro lado, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.
Dos nove integrantes do Copom, há sete nomeados por Lula e dois por Jair Bolsonaro (PL). Veja a relação:
- Renato Dias de Brito Gomes (nomeado por Bolsonaro);
- Diogo Abry Guillen (nomeado por Bolsonaro);
- Nilton David (nomeado por Lula);
- Ailton Aquino (nomeado por Lula);
- Paulo Picchetti (nomeado por Lula);
- Rodrigo Teixeira (nomeado por Lula);
- Izabela Correa (nomeada por Lula);
- Gilneu Vivan (nomeado por Lula); e
- Gabriel Galípolo (nomeado por Lula).
O Copom volta a se reunir em 27 e 28 de janeiro, no primeiro encontro de 2026.
Confira os resultados de todos os encontros do comitê desde o ano passado:
- janeiro de 2024: de 11,75% para 11,25%;
- março: de 11,25% para 10,75%;
- maio: de 10,75% para 10,50%;
- junho: manutenção em 10,50%;
- julho: manutenção em 10,50%;
- setembro: de 10,50% para 10,75%;
- novembro: de 10,75% para 11,25%;
- dezembro: de 11,25% para 12,25%;
- janeiro de 2025: de 12,25% para 13,25%;
- março: de 13,25% para 14,25%;
- maio: de 14,25% para 14,75%;
- junho: de 14,75% para 15%;
- julho: manutenção em 15%;
- setembro: manutenção em 15%; e
- novembro: manutenção em 15%.
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