Copa do Mundo, agrotóxicos e recorde

Confederações projetam para este ano que o valor bruto da produção agrícola chegará a 500 bilhões de reais. Um recorde que o ministério da Agricultura concorda e aplaude.

Colheitadeira em fazenda no Mato Grosso

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Vejam só como ela fica quando vista assim do alto, um céu no chão.

Faceira, se achando, sem nunca parar, mexendo, remexendo, dando nó nas cadeiras, deixando a moçada com água na boca.

Não é difícil ver e assim admirar a agropecuária brasileira. Aqui, bastou-me juntar os gênios de Paulinho da Viola e Geraldo Pereira (1918-1955).

Duvidam? É o que rola fácil nas folhas e telas cotidianas.

Nós, os 200 milhões de residentes no Brasil, temos um Boi-Bumbá ou uma Vaca Estrela cada um. Podemos escolher. Também, mil quilos de grãos por habitante alimentar-nos ou dividir a ração diária com nossos bovinos.

O governo tem promovido, em sequência, planos de safra cada vez mais ricos, financiados a taxas subsidiadas de juros, mais seguras diante das incertezas climáticas. Os mais empedernidos “ruralistas” não o negam.


Descapitalizados dez anos atrás, a ponto de se ajoelharem diante do Tesouro Nacional, os sojicultores hoje podem segurar a comercialização da última colheita, esperando o melhor momento ditado por Chicago para a venda. Sentam-se em poltronas oleaginosas.

Não que seja novidade, mas em 2013, no frágil e doentinho país de clima subtropical, o setor de agrotóxicos (eles preferem defensivos) cresceu 18% sobre 2012. Novo recorde mundial de vendas, US$ 11,5 bilhões. Escrevam aí: em 2014, chegarão nos US$ 13 bi.

Confederações e federações ligadas ao setor projetam para este ano que o valor bruto da produção agrícola chegará perto de 500 bilhões de reais. Outro recorde que o ministério da Agricultura concorda e aplaude.

Claro que os porta-vozes das entidades setoriais sempre encontrarão algo de que reclamarem do poder em suas intervenções danosas. Algumas, com toda razão. Na maior parte delas, apenas defendem os interesses de quem paga seus honorários.

Tudo muito bom, né?

Vou mais longe. Asseguro-lhes que assim ficará a agropecuária e seus desdobramentos nos agronegócios ainda por muitos anos. É irreversível. Entraves são conhecidos e passíveis de ajustes através de investimentos públicos e privados, já em andamento. As mazelas sociais podem ser superadas, em curto prazo, se houver vontade política e vergonha na cara. Sem estas, em médio prazo, pela força autonômica que vem do campo.

Querem mais substância?

Segundo o jornal Financial Times, “o fundo soberano da China está mudando seu foco para investir em agricultura e em fontes de suprimento de alimentos, em uma importante decisão estratégica que reflete as prioridades da nova liderança do país”.

Serão US$ 650 bilhões para “investir mais na agricultura em todo o mundo e em toda a cadeia de valor”.

Por que será?

Nada disso parece pouco diante de uma Federação de Corporações que naufraga a olhos vistos e lidos, conforme anunciam os profetas da austeridade alheia, louquinhos para, no Poder, flanarem até se tornarem ou fazerem crescer suas aptidões banqueiras.

Fazem mesmo o futebol brasileiro caminhar na direção de irremediável haraquiri. Uma Copa do Mundo, caseira, que prometia trazer apenas o caos, nossa aptidão única, quando contrariou o vaticínio, logo fez as lesmas do futuro transformarem nossos jogadores em histéricas mocinhas, melindrosas e choronas.


Enfim, fazem-nos parecer um povo que não se gosta. A não ser quando o “eu” se opõe ao “outro”, este sim, o errado, o preguiçoso, o que precisa de quotas para sobreviver, o que não aprendeu a pescar, o que não quis estudar.

Aquele que não nasceu com as minhas digitais.

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