Economia

Contra o pessimismo

No longo prazo, as manobras com o juro têm um espectro de influências sobre a economia que transcende a estabilidade inflacionária

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Condiz com o momento especial por que passa o governo o tom do discurso da presidenta Dilma Rousseff durante reunião com o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, no Palácio do Planalto em 31 de agosto. A presidenta avisou: o governo apoiará, estimulará e dará suporte à competitividade em todas as atividades produtivas. “Elevar a competitividade é condição para garantir de forma sustentável a geração de empregos, de renda e a prestação de serviços de mais qualidade à população.”

A crítica habitualmente pessimista deveria ler cuidadosamente a mensagem, para não perder novamente a viagem, como aconteceu ao execrar as “condenáveis intervenções” do governo no processo de redução dos juros e as medidas prudenciais de defesa diante das ações de “guerra cambial” de algumas grandes potências.

Há 12 meses o Banco Central começou o processo de redução da taxa de juros real, de forma prudente e constante, percebendo ter chegado o momento de tirar partido das fantásticas dificuldades do sistema financeiro internacional, as quais mantêm até hoje travado o setor produtivo em grande parte do mundo.

Como se tratava de ações cujo resultado esperado era de longa maturação, houve muito espaço para a multiplicação de análises interessadas em atacar a política, na expectativa de produzir um nível de descrédito capaz de paralisar o processo. O Banco Central, no entanto, estava correto ao insistir em colocar a mais alta prioridade na redução da Selic.

No longo prazo, as manobras com o juro têm um espectro de influência sobre o sistema econômico que transcende seu papel de estabilizar a taxa de inflação. Procurar trazer a taxa de juros real no Brasil ao nível internacional era (e continua sendo) fator fundamental em múltiplos aspectos, todos favoráveis à aceleração do desenvolvimento econômico.

O nível das taxas de juro será um elemento vital para a retomada dos investimentos privados e decisivo para aumentar a capacidade do investimento público nos empreendimentos nos setores da energia ou voltados para a solução dos gargalos logísticos na infraestrutura, os objetivos nomea­dos como prioritários na atual fase do governo. Reduzir o juro real diminui o custo do financiamento da dívida pública e libera recursos para o aumento do investimento público.

Produz ainda efeitos substanciais na vida dos cidadãos e das empresas, por exemplo: 1. Valoriza os ativos (como imóveis) das famílias, com o aumento da sua capacidade de obter crédito e estimulando o consumo. 2. Tende a aumentar o valor dos ativos financeiros, das ações nas Bolsas (o que também aumenta o patrimônio das famílias) e o valor das empresas. 3. Melhora a qualidade dos empréstimos bancários e os estimula, porque aumenta o lucro das empresas e reduz o risco da inadimplência. 4. Restitui à taxa de câmbio o seu papel de preço relativo que equilibra o fluxo das exportações ao das importações, mantendo uma taxa de câmbio real que estimula o crescimento.

Quando há liberdade de movimento de capitais e a taxa de juros interna é permanentemente superior à externa, a taxa de câmbio transforma-se em um ativo financeiro sujeito a toda sorte de especulações. Para as oposições, ao merecer o apoio da presidenta Dilma Rousseff, o BC estava se curvando às injunções políticas, “obedecendo ordens da Dilma”.

Agora com o duplo sucesso da redução da Selic de 12,5% para 7,5% ao ano e com a taxa de câmbio mais próxima do equilíbrio, a presidenta deu o troco, comentando que “todos podem ver que não se tratava de nenhuma manifestação de “voluntarismo”. E a competente jornalista Claudia Safatle assim registrou os feitos, com a habitual precisão e clareza, em sua coluna no Valor Econômico do último fim de semana: “O governo cumpriu o compromisso, assumido no ano passado, de dar sustentação ao Comitê de Política Monetária para que ele pudesse, aproveitando a oportunidade aberta pela crise externa, reduzir a taxa básica”. E no parágrafo seguinte, ao tratar das mudanças estruturais do governo Dilma: “Hoje, dois dos mais importantes preços da economia estão, se não no lugar certo, mais bem situados, juros reais em torno de 2% e a taxa de câmbio mais desvalorizada”.

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Condiz com o momento especial por que passa o governo o tom do discurso da presidenta Dilma Rousseff durante reunião com o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, no Palácio do Planalto em 31 de agosto. A presidenta avisou: o governo apoiará, estimulará e dará suporte à competitividade em todas as atividades produtivas. “Elevar a competitividade é condição para garantir de forma sustentável a geração de empregos, de renda e a prestação de serviços de mais qualidade à população.”

A crítica habitualmente pessimista deveria ler cuidadosamente a mensagem, para não perder novamente a viagem, como aconteceu ao execrar as “condenáveis intervenções” do governo no processo de redução dos juros e as medidas prudenciais de defesa diante das ações de “guerra cambial” de algumas grandes potências.

Há 12 meses o Banco Central começou o processo de redução da taxa de juros real, de forma prudente e constante, percebendo ter chegado o momento de tirar partido das fantásticas dificuldades do sistema financeiro internacional, as quais mantêm até hoje travado o setor produtivo em grande parte do mundo.

Como se tratava de ações cujo resultado esperado era de longa maturação, houve muito espaço para a multiplicação de análises interessadas em atacar a política, na expectativa de produzir um nível de descrédito capaz de paralisar o processo. O Banco Central, no entanto, estava correto ao insistir em colocar a mais alta prioridade na redução da Selic.

No longo prazo, as manobras com o juro têm um espectro de influência sobre o sistema econômico que transcende seu papel de estabilizar a taxa de inflação. Procurar trazer a taxa de juros real no Brasil ao nível internacional era (e continua sendo) fator fundamental em múltiplos aspectos, todos favoráveis à aceleração do desenvolvimento econômico.

O nível das taxas de juro será um elemento vital para a retomada dos investimentos privados e decisivo para aumentar a capacidade do investimento público nos empreendimentos nos setores da energia ou voltados para a solução dos gargalos logísticos na infraestrutura, os objetivos nomea­dos como prioritários na atual fase do governo. Reduzir o juro real diminui o custo do financiamento da dívida pública e libera recursos para o aumento do investimento público.

Produz ainda efeitos substanciais na vida dos cidadãos e das empresas, por exemplo: 1. Valoriza os ativos (como imóveis) das famílias, com o aumento da sua capacidade de obter crédito e estimulando o consumo. 2. Tende a aumentar o valor dos ativos financeiros, das ações nas Bolsas (o que também aumenta o patrimônio das famílias) e o valor das empresas. 3. Melhora a qualidade dos empréstimos bancários e os estimula, porque aumenta o lucro das empresas e reduz o risco da inadimplência. 4. Restitui à taxa de câmbio o seu papel de preço relativo que equilibra o fluxo das exportações ao das importações, mantendo uma taxa de câmbio real que estimula o crescimento.

Quando há liberdade de movimento de capitais e a taxa de juros interna é permanentemente superior à externa, a taxa de câmbio transforma-se em um ativo financeiro sujeito a toda sorte de especulações. Para as oposições, ao merecer o apoio da presidenta Dilma Rousseff, o BC estava se curvando às injunções políticas, “obedecendo ordens da Dilma”.

Agora com o duplo sucesso da redução da Selic de 12,5% para 7,5% ao ano e com a taxa de câmbio mais próxima do equilíbrio, a presidenta deu o troco, comentando que “todos podem ver que não se tratava de nenhuma manifestação de “voluntarismo”. E a competente jornalista Claudia Safatle assim registrou os feitos, com a habitual precisão e clareza, em sua coluna no Valor Econômico do último fim de semana: “O governo cumpriu o compromisso, assumido no ano passado, de dar sustentação ao Comitê de Política Monetária para que ele pudesse, aproveitando a oportunidade aberta pela crise externa, reduzir a taxa básica”. E no parágrafo seguinte, ao tratar das mudanças estruturais do governo Dilma: “Hoje, dois dos mais importantes preços da economia estão, se não no lugar certo, mais bem situados, juros reais em torno de 2% e a taxa de câmbio mais desvalorizada”.

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