Economia
Contas do governo têm déficit de R$ 22,4 bilhões em agosto
Resultado é o melhor para agosto desde 2021, mas acumulado do ano indica dificuldade em cumprir meta de déficit zero


As contas do governo registraram um déficit primário de 22,4 bilhões de reais no último mês de agosto. O dado foi divulgado pelo Tesouro Nacional nesta quinta-feira 3.
Na prática, o resultado significa que as receitas – incluindo tributos e impostos – ficaram abaixo das despesas do governo. As contas divulgadas nesta quinta dizem respeito ao que, no jargão do orçamento público, se costuma chamar de ‘Governo Central’, o que inclui o Tesouro Nacional, o Banco Central e a Previdência Social.
Apesar do rombo, esse é o melhor resultado para o mês de agosto desde 2021, quando o déficit foi de 10,7 bilhões de reais, em valores corrigidos pela inflação.
Na comparação com agosto do ano passado, o déficit também é menor. Há pouco mais de um ano, o déficit primário foi de 26,7 bilhões de reais, o que indica que, comparativamente, o resultado divulgado pelo Tesouro é 19,6% menor, em termos reais – quando se desconta a inflação.
Com o número divulgado nesta quinta, 2024 já registra um déficit primário de 100 bilhões de reais. Assim, o governo terá que estimular ainda mais a arrecadação, visando alcançar a sua meta de ter déficit zero neste ano.
Há, porém, uma tolerância. Segundo as regras do novo arcabouço fiscal, o governo até pode ter um déficit de 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB), o que, para este ano, seria um valor na casa dos 28 bilhões de reais.
Arrecadação e despesas do governo ao longo do ano
O ano de 2024 vem sendo marcado pelo déficit, apesar do aumento da arrecadação. Nos oito primeiros meses deste ano, a arrecadação bateu um recorde: foram 1,73 trilhão de reais arrecadados. Só em agosto, a arrecadação superou a casa dos 200 bilhões de reais, algo inédito na série histórica do Tesouro Nacional.
Arranjar meios de estimular a arrecadação vem sendo um dos desafios do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A equipe econômica do governo conseguiu, por exemplo, aumentar em 14,3 bilhões de reais as arrecadações de IPI, quando se compara os oito primeiros meses de 2024 com o período janeiro-agosto de 2023.
O Imposto de Renda também subiu: 43,8 bilhões de reais. A subida também foi sentida no COFINS, com 42,1 bilhões de reais a mais, assim como no PIS/PASEP, com 12,7 bilhões de reais.
Acontece que os gastos também subiram. Ao longo dos primeiros oito meses, as despesas totais totalizaram 1,48 trilhão de reais, em uma expansão de 7,1% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Detalhes das contas de agosto
Segundo o Tesouro Nacional, a Previdência Social contribuiu para o resultado negativo de agosto. Foram 18,9 bilhões de déficit, segundo o órgão.
O próprio Tesouro Nacional também foi deficitário (3,4 bilhões de reais), assim como o Banco Central (104 milhões de reais).
No caso da Previdência, o déficit se explica pela ampliação dos benefícios previdenciários. A subida foi de 63,7 bilhões de reais, na comparação com agosto de 2023.
Não por acaso, as discussões sobre uma eventual nova reforma de Previdência ganharam força, nas últimas semanas. A ideia só seria discutida em 2025, mas o ministro da Previdência, Carlos Lupi, disse, recentemente, que é “radicalmente contra” a reforma.
“A gente fala em reforma na Previdência só para tirar direitos”, sintetizou o ministro, pontuando que a solução para o déficit seria “melhorar a arrecadação e diminuir as isenções”. Seja como for, o déficit na Previdência em 2023 atingiu 429 bilhões de reais, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Os resultados deficitários – não apenas da Previdência, mas no geral – podem inflar o percentual da dívida pública do governo em relação ao PIB.
Segundo o Relatório de Acompanhamento Fiscal (RAF) da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, a dívida pública do governo geral – incluindo União, estados e municípios – pode chegar, no final do ano, a mais de 80% do PIB.
Até julho, segundo o BC, a dívida total estava em 8,8 trilhões de reais. O governo Lula (PT), porém, não acredita que a subida será tão expressiva. Segundo a equipe econômica, a dívida deverá terminar 2024 em 76,6% do PIB, segundo projeção da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2025.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Governo anuncia bloqueio de R$ 13,3 bi no Orçamento, afetando Saúde e Educação
Por André Lucena
Campos Neto diz que não vai entrar para política após sair do BC: ‘Isso não vou fazer’
Por CartaCapital
Silveira sobe o tom contra a Aneel em meio a bandeira vermelha: ‘Trabalha contra o País’
Por CartaCapital
As melhores – e as piores – notícias do governo Lula, segundo a Quaest
Por CartaCapital
Saiba o que significa o grau de investimento de um país
Por Agência Brasil
Haddad comemora elevação de nota de crédito do Brasil por agência de risco
Por CartaCapital