Economia

Consumo das famílias pode ser alívio para o PIB em 2017

A incerteza política e a falta de demanda ainda freiam o investimento. A inconsistência do crescimento econômico preocupa os economistas

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O crescimento de 1,4% no consumo das famílias no primeiro trimestre de 2017 interrompeu uma sequência de nove trimestres de retração desse relevante componente das contas nacionais. Se por si só o indicador não é suficiente para gerar uma expansão relevante da economia – que cresceu apenas 0,2% no terceiro semestre – ele pode ser um alívio para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. 

“Se houver recuperação será por aí, pelos outros é que não vai ser”, resume o presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Júlio Miragaya, se referindo aos demais componentes do PIB sob a ótica da despesa. Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) e consumo do governo caíram no segundo trimestre 0,7% e 0,9, respectivamente.

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“O comércio, pelo lado da oferta, e o consumo das famílias, pelo lado da demanda, foram as principais influências para a variação positiva de 0,2% do PIB”, destaca Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE. Na comparação com o segundo trimestre de 2016, o consumo das famílias também voltou a crescer (0,7%), após nove trimestres em queda.

Segundo o IBGE, o crescimento nas despesas de consumo das famílias foi influenciado pela evolução de alguns indicadores macroeconômicos ao longo do trimestre, como a desaceleração da inflação, a redução da taxa básica de juros e o crescimento, em termos reais, da massa salarial.

No entanto, Rebeca ressalta que é preciso olhar também para as outras comparações: “No primeiro semestre, o consumo das famílias ainda está em queda, com -0,6%, ainda que menos intensa do que nos trimestres anteriores”. Ela destaca que, no semestre, o PIB mostrou variação nula: “Indústria e serviços caíram, mas a agropecuária apresentou um crescimento forte de 15,0%”.

Miragaya, co Cofecon, lembra também que já houve momentos na história recente do Brasil em que o consumo das famílias cresceu sem, necessariamente, influenciar significativamente o PIB como um todo. O economista vê na volatilidade entre os componentes do PIB o principal motivo para a estagnação do indicador. “No primeiro trimestre foi o crescimento de 15,2% da Agropecuária que puxou a alta de 1% do PIB. Agora o consumo ajudou o setor de serviços crescer, com alta de 1,9% no comércio. Essa volatilidade entre os segmentos leva a estagnação que vemos”, afirma. 

O presidente do Cofecon vê ainda um componente conjuntural, já que o consumo pode ter tido influencia da liberação dos saques do FGTS, concentrados no justamente no segundo trimestre do ano. “Seria um efeito conjuntural, sem razão para se repetir. A tendência é a economia se recuperar, saímos do fundo do poço, mas esse ano ainda patina”. A instabilidade política, lembra o economista, ainda é um componente muito forte que intimida investimento. 

O professor e coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV), Emerson Marçal vê com mais otimismo a recuperação do consumo, que considera “uma ótima notícia”. Para ele, se a tendência de crescimento do consumo se confirmar nos próximos trimestre ele pode acelerar a recuperação da economia como um todo. “No final de 2014 o cenário era bem pior, com juros altos e inflação descontrolada. A inflação foi resolvida e os juros estão em queda, o que reduz o endividamento das famílias.”

Para Marçal, a não ser que aconteça uma deterioração total no cenário político nos próximos meses, há chances da recuperação continuar, embora ainda de maneira lenta. As incertezas pesam especialmente sobre o investimento. “Em 2018 há espaço para um crescimento entre 1% a 1,5% pelo menos, podendo ser revisto para cima caso a economia surpreenda positivamente”.

Walter Franco, professor de economia do Ibmec-SP, afirma estar “cansado de falar que é política, juros ou endividamento” que emperram a recuperação da economia. Para ele, todas essas variáveis melhoraram e o crescimento dos demais países favorece também a expansão brasileira. “É preciso sentar e olhar para uma nova realidade para se fazer um planejamento de fato voltado para o crescimento, colocar isso como prioridade”, defende.

Na opinião do economista, do ponto de vista macroeconômico está tudo certo e bem administrado, com inflação sob controle e juros em queda. Os cortes de gastos públicos, porém, deprimem a economia. “É como se fossem dois mundos desconectados. Falta uma visão de estado a despeito de uma visão de governo. Não é razoável nem sustentável estarmos em setembro com um crescimento ainda tão baixo. É preciso olhar para o cidadão, para o emprego, para o fomento do investimento, uma política industrial séria, um plano para o país que saia das questões macroeconômica”, afirma. 

Para Franco, o resultado do segundo trimestre não transmite nada de especial, não empolga. “Crescer 0,2% é muito pouco. A variação é inconstante, foi 1% e agora deu uma esfriada. O aumento do consumo é positivo, mas ele sozinho não sustenta.” O economista se preocupa principalmente com o investimento. “Não há confiança nem demanda suficiente para aumentar o investimento”, conclui. 

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