Economia

Concentração de renda mostra “brasilianização do mundo”

Desigualdade é crescente, atinge recorde, está fora de controle e só beneficia ricos e empresas, dizem ONU e Oxfam

Desigualdade e concentração de renda, típicas tradições do Brasil (Foto: ABr)
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O Brasil é vice-campeão mundial de concentração de renda no 1% mais rico, que embolsa 28,3% do PIB, menos apenas do que no Catar (29%), segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano de dezembro da ONU. Boa notícia para os endinheirados, pois a média histórica nacional de concentração é de 23%, conforme um doutorado em sociologia concluído em 2016 na UnB.

Dois relatórios divulgados nos últimos dias em paralelo ao Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, mostram que o filósofo Paulo Arantes acertou ao identificar, há quase 20 anos, uma tendência à “brasilianização do mundo”. As desigualdades de renda são crescentes pelo globo e agora atingem níveis recordes.

As disparidades desenfreadas foram apontadas pela ONU em seu “Relatório Social Mundial 2020 das Nações Unidas: Desigualdade num Mundo que Muda Rapidamente”, e pela Oxfam, rede internacional de combate à pobreza e à injustiça social, no documento “Tempo de Cuidar”.

Para a ONU, a expansão econômica “extraordinária” das últimas décadas tem falhado em reduzir a “profunda divisão dentro e entre os países”. Desde os anos 1990, a desigualdade avançou em nações que abrigam 71% da população. Ficou mais difícil cumprir um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela ONU em 2015, o de “não deixar ninguém para trás”.

“Sociedades muito desiguais são menos efetivas na redução da pobreza, crescem mais vagarosamente, dificultam que as pessoas quebrem o ciclo da pobreza e fecham as portas para o avanço econômico e social. Além disso, o aumento da desigualdade reprime o crescimento econômico e pode aumentar a instabilidade política”, diz o relatório.

A geografia define o destino dos cidadãos, anota a ONU. Muda tudo na vida de alguém nascer em um lugar que proporciona ou não acesso a água potável, eletricidade, assistência médica, boas escolas e trabalho decente.

São os já privilegiados aqueles que têm tirado proveito das disparidades galopantes. A renda abocanhada pelo 1% mais rico subiu em 46 dos 57 países com dados disponíveis para o período de 1990 a 2015. “As crescentes desigualdades estão beneficiando os mais ricos”, afirma o relatório. “As alíquotas de imposto para as rendas mais altas têm diminuído em países desenvolvidos e em desenvolvimento, tornando os sistemas tributários menos progressivos.”

Nos países desenvolvidos, o IR dos ricos caiu de 66% em 1981 para 43% em 2018, informa a ONU. Como eles pagam menos imposto, há menos dinheiro para os governos investirem no social. No Brasil, as alíquotas de IR são bem menores, historicamente. Aqui o sistema tributário prefere taxar o consumo, uma punição aos pobres, que gastam tudo para sobreviver.

Cobrar mais impostos dos ricos e das empresas é o passo inicial para enfrentar uma concentração de renda que está fora de controle, segundo o relatório da Oxfam. “Acabar com a riqueza extrema para erradicar a pobreza extrema”, diz. Com apenas meio ponto percentual a mais de taxação dos ricos, seria possível criar 117 milhões de empregos em educação, saúde e cuidado para idosos.

De 2007 a 2011, afirma a Oxfam, o salário médio dos países do G-7 (Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido) subiu 3%, enquanto os dividendos pagos por empresas a seus sócios e acionistas subiu 30%. Curiosidade: em 1995 o Brasil deixou de tributar a distribuição de lucros e dividendos, um dos poucos casos de isenção no mundo.

Com a concentração de renda descontrolada de hoje, os 2.153 bilionários do planeta possuem uma renda igual à de 4,6 bilhões de pessoas, 60% da população global. O 1% mais rico do globo embolsa o dobro da renda de 6,9 bilhões (a população mundial é de 7,7 bilhões).

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