Economia
Comissão Europeia adia para janeiro assinatura do acordo UE-Mercosul
União Itália-França minou o plano de assinar o tratado nesta semana
A assinatura do acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul foi adiada para janeiro, anunciou nesta quinta-feira 18 a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, durante uma cúpula em Bruxelas, onde milhares de agricultores protestaram em rejeição ao tratado.
O texto é negociado há 25 anos e criaria a maior zona de livre comércio do mundo.
Com esse acordo, os europeus poderiam exportar produtos como veículos e maquinário aos países do Mercosul: Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Em troca, facilitariam a entrada nos países do bloco de carne, arroz, mel e soja sul-americanos, considerados mais competitivos devido a suas normas de produção, o que os agricultores europeus veem com temor.
O presidente Lula abriu o caminho para esse adiamento horas antes, após conversar por telefone com a chefe de governo italiana, Giorgia Meloni.
Segundo ele, Meloni lhe pediu “paciência”, assegurando que a Itália acabaria apoiando o tratado.
O prazo adicional representa um revés para Comissão Europeia, Alemanha, Espanha e os países nórdicos, que queriam que o acordo fosse assinado nos próximos dias.
Ursula von der Leyen esperava assinar o tratado no próximo sábado 20 durante uma cúpula do Mercosul em Foz do Iguaçu (PR). Mas, para isso, precisava do aval de uma maioria qualificada dos Estados-membros da União Europeia reunidos em Bruxelas, que não obteve, sobretudo, pela oposição de França e Itália.
Por fim, informou aos líderes dos 27 países do bloco, reunidos em uma cúpula, que a assinatura foi adiada para janeiro, segundo indicaram fontes diplomáticas. Contudo, por ora, não antecipou nenhuma data concreta.
Agricultores revoltados
Nesta quinta-feira, em Bruxelas, à margem da cúpula de chefes de Estado e de governo da União Europeia, milhares de agricultores manifestaram sua revolta.
Os protestos deixaram um panorama de pneus incendiados, batatas e projéteis arremessados, jatos d’água e bombas de gás lacrimogêneo lançados pela polícia. A situação ficou especialmente tensa nas imediações das instituições europeias, protegidas por um importante dispositivo policial.
Segundo a polícia de Bruxelas, 7.300 pessoas com cerca de 50 tratores participaram do protesto autorizado, durante o qual praticamente não houve tumulto.
Mas outros 950 tratores chegaram ao bairro europeu, bloqueando várias ruas.
Os agricultores protestavam contra diversos temas, não só contra o acordo UE-Mercosul, mas também contra as taxas sobre os fertilizantes e a reforma da política agrícola comum (PAC) da UE, explicaram alguns participantes à AFP.
Florence Pellissier, uma agricultora francesa, denunciou a “concorrência desleal” de produtos importados tratados com substâncias proibidas na Europa.
“Estamos aqui para dizer não ao Mercosul”, declarou à AFP o pecuarista belga Maxime Mabille. “É como se a Europa tivesse se tornado uma ditadura”, acrescentou, ao acusar a presidente da Comissão Europeia de tentar “impor o acordo à força”.
Von der Leyen se reuniu nesta manhã com uma delegação da Copa-Cogeca, a principal organização agrícola europeia, e no final da reunião assegurou, em uma mensagem transmitida na rede X, que “a Europa estará sempre ao seu lado”.
A Copa-Cogeca reivindicou 10.000 manifestantes procedentes de vários países, sobretudo da França.
“Nosso fim = sua fome”, dizia um cartaz sobre um caixão preto.
Muitos agricultores europeus acusam os países do Mercosul de não acatarem as normas ambientais e sociais que eles são obrigados a cumprir, o que permitiria vender seus produtos mais baratos.
A essas preocupações se somam as da reforma de subvenções da PAC, que a Comissão Europeia busca, segundo eles, “diluir” no orçamento europeu.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.
Leia também
A nova advertência de Lula à Europa sobre acordo com o Mercosul
Por CartaCapital
Divergências na UE ameaçam assinatura do acordo com o Mercosul
Por AFP
Dono da 4ª maior rede de supermercados da França ameaça boicotar produtos do Mercosul
Por RFI



