Economia

Cinco homens mais ricos do mundo mais que duplicaram suas fortunas desde 2020, diz Oxfam Brasil

O relatório Desigualdade S. A. constatou aumento da concentração de renda; no Brasil, 1% mais rico tem 63% de ativos financeiros

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|Pirâmide do sistema capitalista. Atribuído a Nedeljkovich |Capitalismo
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Um relatório da organização Oxfam Brasil apontou que a riqueza dos cinco homens mais ricos do mundo aumentou 114% entre 2020 e 2023, saindo de 405 bilhões de dólares para 869 bilhões de dólares. O documento, intitulado Desigualdade S. A., foi divulgado neste domingo 14.

Isso significa que os cinco homens mais ricos do planeta mais de duplicaram suas fortunas. Segundo cálculos do levantamento, se cada um desses indivíduos gastasse um milhão de dólares por dia, eles levariam 476 anos para esgotar toda a fortuna combinada.

A pesquisa se baseia na lista de bilionários da revista americana Forbes. São eles:

  • Elon Musk. O dono da Tesla, SpaceX e da rede social X saiu de 29,3 bilhões de dólares em 2020 para 245,5 bilhões de dólares em 2023, uma variação de 737%;
  • Bernard Arnault. O presidente do conglomerado LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton, conhecido como “rei do luxo”, saiu de 90,6 bilhões de dólares em 2020 para 191,3 bilhões de dólares em 2023, uma variação de 111%;
  • Jeff Bezos. O dono da Amazon saiu de 134,7 bilhões de dólares em 2020 para 167,4 bilhões de dólares em 2023, uma variação de 24%;
  • Larry Ellison. O cofundador da fabricante de software Oracle saiu de 70,3 bilhões de dólares para 145,5 bilhões de dólares, uma variação de 107%;
  • Warren Buffett. O diretor executivo da Berkshire Hathaway, do ramo de investimentos, saiu de 80,5 bilhões de dólares para 119,2 bilhões de dólares, uma variação de 48%.

Além disso, a pesquisa aponta que os 0,1% dos mais ricos do mundo possuem 43% dos ativos financeiros globais, ou seja, quase a metade de todos os investimentos negociados no mercado financeiro e de capitais.

O relatório também mostra o aumento da concentração de importantes setores da economia nas mãos de poucos, como ocorre no mercado de sementes.

Segundo o documento, há cerca de 25 anos, 10 empresas controlavam 40% do mercado global de sementes. Atualmente, apenas duas empresas detêm esse percentual (a alemã Bayer e a americana Corteva).

No ramo das farmacêuticas, entre 1995 e 2015, 60 empresas se fundiram e agora são 10 corporações gigantescas, chamadas de “Big Pharma”.

Cenário semelhante se vê no campo digital, onde 3/4 dos gastos com publicidade online são destinados às empresas Meta, Alphabet (vinculada ao Google) e Amazon. Além disso, 90% das buscas por informação na internet ocorrem por meio do Google.

“Os monopólios aumentam o poder das grandes empresas e dos seus proprietários, em detrimento de todos os outros”, diz o relatório, na seção “Uma nova era de monopólio: o poder empresarial turbinado”.

Juntas, as 148 maiores empresas do mundo obtiveram quase 1,8 trilhão de dólares em lucros nos 12 meses anteriores a junho de 2023. A cifra é maior do que toda a série histórica desde 2018.

As maiores ganhadoras foram 22 empresas do setor financeiro, 14 corporações de petróleo e gás, 11 companhias farmacêuticas e duas marcas de luxo.

De acordo com o estudo, esses lucros estão “imensamente concentrados em algumas companhias”: em termos globais, 0,001% das maiores empresas ficam com cerca de um terço de todos os lucros empresariais.

Desigualdade no Brasil

O relatório diz que, no Brasil, o grupo dos 1% mais ricos possui 63% dos ativos financeiros do País, enquanto os 50% mais pobres detêm apenas 2%.

Se observadas as riquezas de apenas 0,1% dos mais ricos no Brasil, elas correspondem a 43% dos ativos financeiros. Já os 0,01% possuem 27% desses ativos.

A Oxfam reforça que, no Brasil, os dividendos “simplesmente não são tributados”, diferentemente de países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, a OCDE, que, mesmo menores em relação a anos atrás, ainda há impostos.

“Nos países da OCDE, a alíquota marginal máxima média sobre dividendos diminuiu muito desde 1980, de 61% para 42%, e em alguns países, como o Brasil, eles simplesmente não são tributados”, diz o relatório.

Além disso, no Brasil, em média, a renda das pessoas brancas está mais de 70% acima da renda da população negra, segundo o estudo. A pessoa mais rica do País possui uma fortuna equivalente à metade mais pobre do Brasil (107 milhões de pessoas).

Ainda segundo o documento, quatro dos cinco bilionários brasileiros mais ricos tiveram um aumento de 51% de sua riqueza desde 2020. A Oxfam assinala que, desde 2020, cinco bilhões de pessoas ficaram mais pobres no mundo, incluindo 129 milhões de brasileiros.

Diretora da Oxfam:

O relatório indica quatro formas utilizadas pelos mais ricos para o aumento de suas riquezas e para a ampliação das desigualdades socioeconômicas:

  • “Recompensando os ricos, não os trabalhadores”. Segundo o documento, houve piora nas condições trabalhistas, que envolvem “salários de fome”, “desrespeito generalizado a seus direitos” e “péssimas condições de trabalho”, circunstâncias que favorecem as empresas;
  • “Evitando pagar impostos”. De acordo com a pesquisa, as grandes empresas e os seus proprietários impulsionam a desigualdade ao atuarem contra a tributação de suas fortunas e de seus negócios. Outra forma para esse fim é a pressão pela obtenção de mais incentivos fiscais;
  • “Privatizando os serviços públicos”. Nesse mecanismo, as empresas mercantilizam e segregam o acesso a serviços vitais, como educação, água e saúde, e obtêm enormes lucros bancados pelos contribuintes. Essas privatizações podem se dar por meio da venda direta de ativos, terceirizações e parcerias público-privadas, as PPPs;
  • “Impulsionando o colapso climático”. Nessa seção, o trabalho se refere sobretudo ao investimento em combustíveis fósseis, enquanto os investimentos em atividades de baixo carbono representam menos de 1% das despesas de capital das empresas de petróleo e gás.

Em entrevista a CartaCapital, a diretora da Oxfam Brasil, Katia Maia, acrescenta que é a primeira vez que se observa um aumento na desigualdade global no período de 25 anos. Além disso, 800 milhões de trabalhadores tiveram os seus seus poderes de compra reduzidos, pela inadequação à inflação.

Para Maia, a superação desses problemas no Brasil ainda é um desafio, sobretudo pela relação entre o governo o Congresso Nacional. Ela observa que, apesar de demonstrações de preocupação do Executivo em relação à desigualdade, falta uma base ampla no Legislativo para a aprovação de medidas mais expressivas.

“É importante olhar para a composição do Congresso: homens brancos, muitos conservadores, e lobbies dos setores econômicos sempre presentes. Há um contexto muito desafiador”, analisa Maia. “Por isso é muito importante a pressão social e o debate público. E as eleições fazem muita diferença.”

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