Economia

No apagar das luzes, Câmara decide incluir carnes na cesta básica da reforma tributária

Os deputados rejeitaram, porém, a taxação de armas com o ‘imposto do pecado’

No apagar das luzes, Câmara decide incluir carnes na cesta básica da reforma tributária
No apagar das luzes, Câmara decide incluir carnes na cesta básica da reforma tributária
Foto: Mário Agra/Câmara dos Deputados
Apoie Siga-nos no

A Câmara dos Deputados decidiu na noite desta quarta-feira 10 incluir as carnes na cesta básica do projeto de regulamentação da reforma tributária, com alíquota zerada.

A decisão surgiu de última hora. Esses produtos não constavam da cesta no texto-base da proposta, aprovado com 336 votos a favor e 142 pela rejeição, além de duas abstenções.

Durante a votação dos destaques, porém, o relator no plenário, Reginaldo Lopes (PT-MG), anunciou a mudança.

“Em nome de todos os líderes, estamos acolhendo no relatório da reforma todas as proteínas. Carnes, peixes, queijos e, lógico, o sal, que também é um ingrediente da culinária brasileira”, disse o deputado petista. “Quero pedir a todos os líderes que possamos juntos fazer de maneira simbólica esta grande votação.”

Por outro lado, os deputados rejeitaram um destaque que tentava incluir armas de fogo e munições na lista do Imposto Seletivo, com uma taxação superior à alíquota de referência.

Até a noite desta quarta, a previsão era de que as proteínas bovinas e de frango teriam uma taxação parcial, equivalente a 40% da alíquota de referência. Na terça 9, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), chegou a sugerir como solução para o impasse aumentar o cashback para pessoas que não conseguem pagar o “valor cheio” dos produtos.

cashback é um mecanismo da reforma tributária por meio do qual o Estado devolverá parte do imposto pago por famílias de baixa renda. A devolução se destina às famílias com renda per capita de até meio salário-mínimo e tomará como base praticamente todo o consumo de bens e serviços realizado por essas famílias.

Além das proteínas, os itens da cesta básica com alíquota zero são:

Alimentos

A alíquota zerada ainda englobará ainda:

  • ovos da subposição 0407.2 da NCM/SH;
  • produtos hortícolas (exceto cogumelos e trufas);
  • frutas frescas ou refrigeradas e frutas congeladas sem adição de açúcar ou de outros edulcorantes; e
  • plantas e produtos de floricultura relativos à horticultura e cultivados para fins alimentares, ornamentais ou medicinais.

Produtos de cuidados básicos para a saúde menstrual também terão alíquota zero. A lista inclui absorventes, tampões higiênicos, calcinhas absorventes e coletores menstruais.

O Congresso Nacional promulgou a PEC da reforma em dezembro de 2023, mas há uma série de pontos a serem regulamentados por leis complementares. Deputados e senadores têm, por exemplo, de balizar os regimes especiais e os tratamentos diferenciados a setores e produtos.

O principal efeito da proposta é a unificação, a partir de 2033, de cinco tributos — ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins — em uma cobrança única, dividida entre os níveis federal (com a Contribuição sobre Bens e Serviços, CBS) e estadual/municipal (com o Imposto sobre Bens e Serviços, IBS).

A projeção atual é que a alíquota de referência da CBS e do IBS fique em 26,5%.

Uma das novidades do texto aprovado pela Câmara nesta quarta em comparação com o parecer do grupo de trabalho da Casa, divulgado na semana passada, foi a inclusão de uma alíquota com redução de 30% para os planos de saúde de animais domésticos.

“Imposto do pecado”

A Câmara acrescentou carros elétricos e apostas à lista de itens sobre os quais incidirá o chamado “imposto do pecado”.

O Imposto Seletivo se aplicará, a partir de 2027, sobre a produção, a extração, a comercialização ou a importação de produtos e serviços prejudiciais à saúde e ao meio ambiente.

Devem ter uma alíquota superior à taxa de referência:

  • veículos;
  • embarcações e aeronaves;
  • produtos fumígenos;
  • bebidas alcoólicas;
  • bebidas açucaradas;
  • bens minerais; e
  • concursos de prognósticos e fantasy games

Remédios

Confira a lista de medicamentos com redução a zero das alíquotas do IBS e da CBS:

Remedios100

O primeiro projeto de regulamentação da reforma tributária ainda terá de passar pelo Senado.

Outra proposta

O Congresso também terá de se debruçar sobre o segundo projeto de regulamentação da reforma tributária, mas isso só acontecerá em agosto. Na última segunda 8, o grupo de trabalho da Câmara apresentou seu relatório, com destaque para os detalhes sobre o funcionamento do Comitê Gestor do IBS.

O IBS terá uma parcela estadual e outra municipal e será cobrado no local de consumo das mercadorias. Haverá uma alíquota de referência para estados e outra para cidades, mas cada ente poderá definir sua taxa.

As funções do comitê serão de cobrança, fiscalização e distribuição do IBS. O governo federal garante um financiamento de 3,8 bilhões de reais para instalá-lo (em até quatro meses após a aprovação da lei).

O Comitê Gestor do IBS será formado por Conselho Superior, Secretaria-Geral, Assessoria de Relações Institucionais e Interfederativas, Corregedoria, Auditoria Interna e Diretoria-Executiva (composta por nove diretorias).

No Conselho Superior haverá:

  • 27 membros como representantes de cada estado e do Distrito Federal; e
  • 27 membros como representantes do conjunto dos municípios;

Caberá ao Congresso definir o modo de indicação. Os integrantes do Conselho devem, porém, “ser cidadãos de reputação ilibada e de notório conhecimento em administração tributária”.

O relatório do GT recomenda que no mínimo 30% das vagas em instâncias executivas, de correição, de auditoria e de julgamento sejam ocupadas por mulheres. Essa previsão, entretanto, não vale para o Conselho Superior.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.

O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.

Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.

Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo