No ano passado, a balança comercial entre Brasil e os 22 países árabes gerou receitas de 13,56 bilhões de dólares e um superávit recorde de 7,13 bilhões de dólares, ou seja, pouco mais de 10% de todo superávit comercial brasileiro. O bloco é o quarto maior parceiro comercial do País e o segundo maior destino para as exportações do nosso agronegócio. A decisão, no entanto, anunciada pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, pode afetar esta boa relação.
O alerta foi dado pela Câmara de Comércio Árabe que externou a preocupação ao vice de Bolsonaro, Hamilton Mourão, na terça-feira 18. “O risco é que crie um ruído na comunicação de compra e venda. Não vai ficar igual, claro que os árabes estão preocupados”, afirmou à CartaCapital Rubens Hannun, presidente da entidade.
Ele disse ter revelado a Mourão o interesse dos países árabes em ampliar o investimento no Brasil, capacitando ainda mais a indústria nacional a se adequar às exigências daquele mercado. O Brasil é o maior exportador do mundo de carnes Halal, ou seja, que segue preceitos da religião muçulmana em termos de abate e com os frigoríficos voltados para a direção de Meca, a cidade sagrada dos muçulmanos. A decisão de Bolsonaro pode botar isso a perder.
O destino de Jerusalém é um dos principais obstáculos para a obtenção de um acordo de paz no Oriente Médio. A cidade é ocupada por Israel desde a guerra de 1967, e tanto palestinos (que controlam a parte oriental) como judeus (que ficam com a metade ocidental) reclamam o direito de fazer dela a sua capital. Por décadas a comunidade internacional concordou em manter suas representações diplomáticas em Tel Aviv, até que um acordo sobre cidade fosse alcançado.
Neste ano, os Estados Unidos liderados pelo presidente Donald Trump romperam o consenso, transferindo a embaixada para Jerusalém. A decisão foi seguida pela Guatemala. Bolsonaro indica que o Brasil fará o mesmo.
A Liga Árabe, maior entidade representativa do bloco, aprovou nesta semana pedido para que o Brasil respeite o “Direito Internacional” e as resoluções “sobre a situação legal da cidade de Jerusalém”. Tudo indica que a pressão árabe sobre o governo brasileiro não irá arrefecer.
O premiê israelense Netanyahu também fará uma ofensiva diplomática para que Bolsonaro reconheça Jerusalém como a capital israelense. Ele virá ao Brasil para a posse , no final do ano e ficará cinco dias no País.
A Confederação Israelita do Brasil (Conib) diz acreditar que a decisão do presidente eleito irá conferir “uma dose maior de realismo” às negociações de paz entre árabes e judeus.
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