Bresser-Pereira e as figuras referenciais

Aos 80 anos, ele é o melhor exemplo de que pessoas nascem jovens e assim permanecem, independentemente da idade

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O Brasil foi construído por um enorme esforço coletivo e pela orientação de algumas figuras referenciais que, através dos tempos e das políticas, iluminaram o caminho com visões de futuro.

Dos anos 50 para cá, figuras como Rômulo de Almeida, Roberto Campos, Celso Furtado, Octávio Gouvêa de Bulhões, Hélio Jaguaribe, José Guilherme Merchior, Barbosa Lima Sobrinho, com visões diferentes de mundo, ajudaram a definir o caminho, a corrigir exageros do período anterior e apontar as novas etapas.

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Dos períodos mais recentes, os ex-ministros Antônio Dias Leite, Ernani Galveas, Camilo Pena ainda produzem estudos e conselhos. João Paulo dos Reis Velloso mantem seu instituto para discutir grandes temas, mas a idade já lhe pesa. De Hélio Jaguaribe, só sei alguma coisa, por amigos. Depois da morte de Raphael de Almeida Magalhães, Eliezer Baptista voltou-se mais para sua vida pessoal.

Delfim Neto continua a desafiar as leis do tempo, com uma vitalidade intelectual assombrosa, incompatível com sua idade e situação física. É puro cérebro.

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De todos eles, perto dos 80 anos, Luiz Carlos Bresser-Pereira é o melhor exemplo de que pessoas nascem jovens e assim permanecem, independentemente da idade.

Mantém o mesmo entusiasmo do final dos anos 60, quando era dos poucos economistas a investir contra a lógica do “milagre” econômico.

Nos anos 70, sua atenção estava voltada para o pensamento tecnocrático, importante para entender o Brasil dos militares.

Mais tarde, entrou de cabeça nos estudos sobre a inflação inercial. Com a estabilização conquistada, abraçou com entusiasmo as novas formas de gestão pública. Enquanto Ministro da Administração, incorporou os prêmios de qualidade ao setor público e modelou os novos modelos de atuação das organizações sociais.

Finalmente, deu corpo à Escola de Economia da FGV-SP – uma alternativa dos novos tempos à radicalização que passou a dominar outros centros de pensamento econômico. Criou uma Semana de Economia que se tornou referencial anual de grandes discussões.

Ajudou a difundir um conjunto de princípios, batizados de neodesenvolvimentismo, que forneceram fundamentação teórica para os movimentos erráticos de Guido Mantega – autêntico representante do pensamento econômico da FGV-SP.

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Nos últimos anos, seu escopo de interesse avançou além da macroeconomia e enveredou pela história econômica. E levou-o a acreditar – com razão -, que apenas uma desvalorização acentuada do câmbio seria capaz de provocar o salto final rumo ao desenvolvimento.

Seu desafio atual é revolucionar as formulações macroeconômicas demonstrando, de acordo com as leis da economia, porque algumas medidas heterodoxas (como imposto sobre exportações de commodities) levariam a um novo câmbio de equilíbrio, mais competitivo. Como sempre fez na sua vida intelectual fundamentalmente eclética, tenta juntar as lições da história com as formulações da teoria.

Sejam quais forem os resultados acadêmicos das novas teses, Bresser-Pereira reafirma-se como figura referencial do país, daqueles brasileiros que jamais desistiram do Brasil.

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