Economia

Bancos públicos precisam servir à sociedade

Cada real investido pelo BDMG gerou 1,99 na economia mineira, afirma Marco Crocco, presidente da instituição de fomento

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Instituições financeiras voltadas para o desenvolvimento são cruciais à economia, em especial nas crises, mostra o exemplo do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais. Os desembolsos sectoriais do BDMG contribuíram de forma relevante para acelerar a expansão econômica e evitar que a recessão iniciada após 2014 prejudicasse ainda mais o estado, mostra estudo recente. Os desembolsos totalizaram 19,89 bilhões de reais entre 2007 e 2016. Cada um real gerou mais 1,99 na produção, 2,07 em valor adicionado e 1,98 em remunerações. Na entrevista a seguir, Marco Crocco, presidente da instituição, analisa os resultados. 

CartaCapital: Por que o BDMG fez um estudo sobre o impacto do seu desembolso na economia mineira?

Marco Crocco: Por acreditarmos que a atuação de um banco de desenvolvimento não pode ser mensurada única e exclusivamente por meio dos seus indicadores internos contábeis e financeiros. Instituições desse tipo somente se justificam pela entrega à sociedade à qual têm de servir, em termos de desenvolvimento econômico e social. É fundamental ter sustentabilidade financeira e institucional que, inclusive, possibilite aprimoramentos que retornam à sociedade. Por esses motivos, identificamos a necessidade de avaliar como nossa atuação beneficia a economia mineira, mostrando os efeitos de se executar uma estratégia de desenvolvimento focada e de forma quantificável. O banco se estrutura na forma de programas, e o estudo é uma maneira de avaliarmos os resultados e a efetividade. Ao mesmo tempo, é um reflexo da atuação passada da instituição. É preciso lembrar que o banco operou com uma parcela significativa de produtos do BNDES, de 42%. Nesse sentido, de alguma forma, o resultado reflete o BNDES do passado.

CC: Quais os principais resultados do estudo e qual a sua importância?

MC: São os multiplicadores, por indicarem como a economia mineira potencializa o efeito direto do crédito. A cada um real de desembolso, foram gerados 1,99 real na produção mineira. Desenvolvemos programas nas áreas de inovação, sustentabilidade ambiental, setores estratégicos, de desenvolvimento regional e social e agropecuário, além de financiar capital de giro e realizar financiamentos diversos, expansão de capacidade e modernização. O estudo serve para definir um marco para avaliação e, possivelmente, comparação de eficiência. O mais importante é que a instituição busca validar e mensurar a sua atuação por aquilo que entrega à sociedade. Fizemos uma análise geral agora e, no futuro, teremos condições para examinar, inclusive, o impacto de cada programa na sociedade. O estudo é um instrumento de gestão.

CC: Quais os principais diferenciais do impacto do desembolso, no período analisado, em relação àqueles obtidos em administrações anteriores do BDMG em situações econômicas comparáveis?

MC: O Brasil vive desde 2014 uma recessão econômica gravíssima. Independentemente da política econômica, os desembolsos realizados anteriormente estavam num contexto de crescimento da economia e hoje são realizados em uma conjuntura de recessão. Portanto há diferenças. O que o BDMG faz é criar condições para medir sua estratégia e a intencionalidade, pensando no futuro.

CC: Quais os diferenciais em relação às operações equivalentes realizadas pelos bancos privados no mesmo período?

MC: Somos um banco de desenvolvimento e nosso foco é alavancar a economia do estado. Dessa forma, temos taxas mais favorecidas e focamos em prazos mais longos. Temos expertise em créditos do BNDES em Minas Gerais e auxiliamos as empresas a viabilizar projetos de investimento, principalmente aqueles considerados estratégicos para o desenvolvimento da economia estadual. A instituição faz política pública por meio de concessão de crédito. Como exemplo, podemos citar as taxas, em média 25% inferiores àquelas do mercado, comparando com outros bancos num mesmo período. Somos o maior repassador no estado dos produtos do BNDES Finem, Progeren e BNDES Automático. Fomos o terceiro maior repassador do último produto no País, no ano passado.

CC: Como vê o impacto do desembolso do banco no contexto da política econômica do País, centrada no ajuste fiscal?

MC: A orientação estratégica do BDMG segue desde 2015 a orientação do governo de Minas Gerais: o controle das contas públicas deve ser feito preservando-se as atividades mínimas da economia. É preciso entender também que orçamento é receita e despesa. Uma política de ajuste fiscal que olha apenas o orçamento é uma política de desajuste orçamentário, refletindo um déficit. Não só o BDMG, mas os bancos públicos de uma forma geral, tem um efeito relevante na política de ajuste fiscal por estimularem a arrecadação de impostos por meio da geração de receita, não apenas do aumento do imposto isolado. O BDMG desembolsou dois anos atrás 1,9 bilhão de reais. No ano passado, 1,4 bilhão. São números que nenhuma empresa particular teve no Brasil. Nos últimos dez anos, a estimativa é que os desembolsos no estado geraram uma receita adicional no ICMS de 836 milhões.

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