Economia

As obras da Copa e a desinformação do ministro

O presidencialismo de coalizão obriga o governo entregar ministérios a aliados políticos sem nenhum preparo

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No final do ano, entrevistado sobre os problemas nas obras da Copa, o ministro dos Esportes Aldo Rabelo pretendeu passar uma mensagem otimista. Disse que no Brasil “há uma instituição muito tradicional e respeitada”, que é o casamento.  Segundo a matéria do portal Terra, Aldo explicou que “em 100% dos casamentos que testemunhei a noiva chegou atrasada, nunca vi chegar na hora, e nunca vi deixar de acontecer por isso”.

Esse foi o nível das explicações para o tema mais discutido no momento.

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Na segunda-feira à noite, o programa Brasilianas – da TV Brasil – abordou a questão das obras da Copa. Foram convidados dois críticos das obras. Tentou-se com Aldo sua vinda ao programa. Resposta lacônica: não tem agenda. Solicitou-se que indicasse alguém. Nova resposta lacônica: por problema de agenda, não poderia indicar ninguém.

A agenda de Aldo é provavelmente secreta. Todos os ministros disponibilizam sua agenda na Internet. Na de Aldo, não existia um compromisso sequer anotado para aquela segunda-feira:

 

 

A produção do programa recorreu, então, ao Ministério do Planejamento, que imediatamente providenciou um debatedor para defender as obras: o Secretário Executivo do próprio Ministério dos Esportes, Luiz Fernandes, um técnico de alto nível que proporcionou uma aula imperdível sobre o tema.  Sem o concurso da Seplan, o programa exibiria três críticos e nenhum defensor da Copa.

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Fernandes detalhou o modelo de gestão das obras, um Comitê formado por representantes dos governos federal, estaduais e prefeitos das onze cidades sedes. Eles ajudaram a compor a Matriz de Responsabilidade, definindo o papel de cada ente federativo. E também as obras prioritárias de infraestrutura, aeroportos, portos, mobilidade urbana, estádios, segurança, telecomunicações e turismo.

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Juntamente com esse conselho, foram criados conselhos de acompanhamento, composto por representantes do Tribunal de Contas da União, dos Estados, CGU (Controladoria Geral da União), Ministério Público Federal e MPEs estaduais.

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As únicas obras específicas para a Copa, precisando seguir os padrões da Fifa, são os estádios. Todas as demais são investimentos necessários, sem nenhuma relação direta com o evento. O que se fez foi aproveitar o alarde em torno da Copa para antecipar as obras.

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Um dos participantes do programa, técnico do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), trouxe à tona a suspeita de que, após a Copa, os estádios seriam transformados em elefantes brancos, sem serventia. E deu como exemplo, o estádio de Fortaleza.

Fernandes explicou o modelo de negócio por trás de cada estádio. Como arenas multiuso, além do futebol serviriam para receber espetáculos esportivos e musicais, congressos, em muitos deles foram construídos shoppings, além da valorização imobiliária no seu entorno.

No caso de Fortaleza, apenas a valorização dos terrenos no entorno deu um retorno adicional aos investidores.

A maioria dos estádios foi financiada para grupos privados, com fundos de investimento por trás.  No caso de estádios de propriedade de clubes de futebol – como no Paraná – as garantias foram asseguradas pelo próprio governo do Estado.

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Não respondeu – nem lhe foi perguntado – a razão do Ministro Aldo Rabelo não saber explicar esses mecanismos.

A resposta é simples: o presidencialismo de coalizão, que obriga a se entregar Ministérios a aliados políticos sem nenhum preparo.

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