Economia

As discussões sobre a taxa de câmbio

O governo precisa de espírito crítico e prático para encontrar o equilíbrio entre o que é bom para a importação e para a exportação

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Quando se discute taxa de câmbio e manufaturas, surge sempre o dilema clássico. Câmbio desvalorizado melhora os preços dos produtos internos em comparação com os externos. Câmbio valorizado reduz o custo dos insumos e equipamentos importados.

O dilema é esse: caso a importação resulte em custos menores de produção, baratearia o produto final, tornando-o mais competitivo no mercado externo. Perde-se competitividade no insumo mas ganha-se no produto final – que movimenta a cadeia produtiva. Essa melhora no valor agregado do produto final compensaria a perda com a substituição dos insumos internos por importados?

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O trabalho Taxa de câmbio, comércio exterior e desindustrialização precoce – o caso brasileiro, dos economistas Nelson Marconi e Marcos Rocha, da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, tenta responder a essa questão.

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“O processo de desenvolvimento é fundamentalmente um processo de transformação estrutural, com a realocação dos ativos produtivos da agricultura tradicional para a atividade moderna, indústria e serviços”, explica o trabalho. A partir daí, tem-se a diversificação da economia através da geração de novas atividades produtivas.

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Nos estágios iniciais do desenvolvimento, há uma elevação da participação relativa da indústria em relação à agricultura. Na etapa seguinte, crescem os serviços. Há uma nova composição da oferta requerendo novos investimentos que agregam tecnologia à economia. Com novas tecnologias, o setor manufatureiro consegue rendimentos de escala crescente, estimulando a demanda e incluindo mais investimento e diversificação da estrutura produtiva.

Além disso, as exportações de manufaturados têm efeito positivo sobre toda a cadeia de fornecedores, para se adequar aos padrões internacionais, refletindo-se em ganhos de produtividade dentro e fora da indústria.

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Aí entra-se em um tema contemporâneo que reedita o velho conceito da divisão internacional do trabalho: a verticalização da produção, com determinados países especializando-se em algumas etapas do processo produtivo, mas o produto final sendo desenvolvido pelos países centrais.

Segundo alguns autores, seria uma troca virtuosa: os países ricos produziriam bens mais intensivos em tecnologia; ao terceirizar parte da produção para os emergentes, os ricos ganham em competitividade e os emergentes em transferência de conhecimento e tecnologia.

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Embora não se deva ignorar as possibilidades trazidas pela verticalização, ou alguns ganhos decorrentes da importação de insumos para aumento de competitividade do produto final, há que se ter cuidado.

O trabalho demonstra que um dos grandes diferenciais da produção de manufaturas é a produção de bens intermediários na cadeia produtiva. “Ao substituir a oferta nacional pela estrangeira no suprimento de insumos, rompem-se alguns elos na estrutura produtiva”.

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Estudos econômicos são importantes como bússolas. Mas políticas econômicas são construídas em cima da observação permanente da realidade, do bom senso e do espírito prático para diferenciar importações predatórias das virtuosas.

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